Campos Neto diz que Galípolo tem compromisso em subir juro a pretexto da inflação

Foto: Reuters

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, reforçou na última sexta-feira (16), em evento promovido pelo banco britânico Barclays, em São Paulo, que seu sucessor deve manter o compromisso de manter os juros elevados no Brasil, após o fim do seu mandato, em 31 de dezembro deste ano. 

No evento, Campos Neto afirmou que “todos os diretores estão adotando um discurso em linha com o que dissemos na ata” [da última reunião do Copom]: “Não estamos dando uma orientação sobre as próximas decisões de juros, mas faremos o que for preciso para trazer a inflação de volta à meta e, se necessário, aumentar a taxa os juros novamente”.

“As pessoas estão entendendo agora que, independentemente de quem estará no comando do Banco Central ou de quem são os diretores, a direção está definida”, declarou Campos Neto. 

O discurso de Campos Neto vem em apoio ao diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo,  nome favorito para ser indicado ao  cargo de presidente do BC, mas que ainda tem a desconfiança do “mercado” – leia-se, meia dúzia de bancos, especuladores locais e estrangeiros.  

No início desta semana, Gabriel Galípolo buscou deixar claro ao “mercado” que o aumento da taxa de juros (Selic), hoje em 10,5% ao ano, entrou na pauta do BC. Gabriel Galípolo, que chegou ao BC por indicação do governo Lula. 

“Estamos dispostos a viver com uma taxa mais restritiva por mais tempo, porém, ficou para mim uma sensação de que essa frase […] foi lida [na ata] como retirar da mesa a possibilidade de alta. E isso não é a realidade do diagnóstico do Copom. A alta está na mesa e a gente quer ver como isso vai se desdobrar”, declarou Galípolo, no evento 2º Warren Day, realizado pela corretora Warren Investimentos, em São Paulo.

No Brasil, a inflação segue baixa e dentro da meta estipulada pela equipe econômica do governo Lula – que é a mesma do governo anterior de 3% com intervalo de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

No acumulado de sete meses deste ano, a inflação registra alta de 2,87%, e , nos últimos 12 meses, o indicador geral  varia em alta de 4,50%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é o medidor de inflação oficial do país. No seminário do banco britânico Barclays, o próprio Campos Neto também admitiu que as expectativas do BC é de que  o IPCA apresente números menores nas próximas leituras. 

Porém, o fato de a inflação estar baixa e sob controle sempre foi irrelevante ao corporativismo financeiro, já que o que está realmente em jogo é se o BC vai seguir garantindo aos bancos, rentistas e demais especuladores da dívida pública ganhos extraordinários com o pagamento de juros, que ultrapassa R$ 836 bilhões (em 12 meses, até junho).

Foi para proteger a manutenção da extração de renda de toda sociedade – via o pagamento dos juros – aos bancos que foi aprovado a “independência” do Banco Central do Brasil, não para cravar a meta de inflação nos 3% (sem um decimal há mais ou a menos), combater ataques especulativos contra o real, ajustar a política monetária de forma que estimule a geração investimentos e de novos empregos no país.

Não é à toa, que no dia de ontem, em reunião com diretores do BC, representantes de bancos cobraram um aumento de 2 pontos na taxa básica, pouco importando se a economia do país vai desacelerar e entrar em recessão, gerando desemprego e desvalorização dos salários.

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