“É uma prerrogativa do Banco Central, que tem autonomia. Nunca fiz isso no governo anterior e com certeza não planejo fazer neste”, disse ele
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, na sexta-feira (17), que não precisa dar satisfação de suas decisões a ninguém. “É uma prerrogativa do Banco Central, que tem autonomia. Nunca fiz isso no governo anterior e com certeza não planejo fazer neste”, disse, ao comentar a redução do ritmo da queda dos juros.
Na verdade, Campos Neto não quer dar “satisfação” ao governo eleito democraticamente porque ele só presta contas de seus atos aos banqueiros. Estes exigem juros altos para aumentar seus ganhos bilionários com a especulação financeira. Só este um ano, os bancos vão embolsar 740 bilhões de reais de juros. Esse valor é muito mais do que as verbas para a Saúde, a Educação, a Ciência e Tecnologia. Se for computada a rolagem da dívida, os gastos financeiros do país consomem metade do Orçamento Geral da União.
O país inteiro vem exigindo a redução mais acelerada dos juros praticados pelo BC, que são dos mais altos do mundo, para ser exato, são o segundo maior juros do mundo, segundo o site Moneyou. Os juros estão estrangulando a economia e vinham caindo à conta-gotas, ou seja apenas meio ponto percentual a cada reunião do Copom. Na última reunião, prevaleceu a posição de Campos Neto, de redução ainda menor dos juros, de apenas 0,25 ponto percentual.
É sobre essa decisão absurda, que mantém o país asfixiado e estagnado, que o presidente do BC disse que não tem que dar satisfação. Como se não tivesse nenhuma repercussão para a sociedade uma medida como essa. Uma medida que, na verdade, descontada a inflação, significa elevação e não queda do juro real, que é o que interessa para a economia.
A cada um ponto percentual de redução dos juros, o governo deixaria de pagar cerca de R$ 40 bilhões de juros aos banqueiros. Ou seja, são mais recursos que poderiam ser destinados aos investimentos produtivos, nos programas sociais e na criação de empregos.
A presidente nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, criticou a fala de Campos Neto. “É fato que Campos Neto não avisa o governo de suas pretensões em relação a política de juros, como ele disse. Avisa o mercado. Foi o que fez, com quase um mês de antecedência, numa palestra nos EUA, dizendo que o Copom ia mudar o ritmo do corte dos juros”, apontou a deputada.
“E agora está avisando de novo, em entrevista ao Estadão, que deve interromper a queda na próxima reunião. Sabota a economia e até a política fiscal com seu comportamento irresponsável e arrogante”, acrescentou. “A tal autonomia do BC, nas mãos de um presidente bolsonarista, é só em relação ao governo eleito contra sua vontade. Para o mercado e os especuladores ele entrega tudo, de mão beijada e com antecedência”, disse Gleisi.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também criticou a decisão do BC sobre os juros. A entidade calcula um juro real de 6,9%, ainda maior que o apontado por outras consultorias. “Além do quadro de inflação controlada, outra razão para cortes mais intensos da Selic são os prejuízos que as taxas de juros reais elevadas provocam na economia. Mesmo com os cortes já realizados, a taxa de juros real está em 6,9% ao ano”.
De acordo com o presidente da CNI, Ricardo Alban, a decisão do Copom de reduzir apenas 0,25 p.p. “é incompatível com o atual cenário de inflação controlada e torna impraticável continuar o projeto de reindustrialização do país com altos níveis de taxa de juros”.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) considerou a decisão de Campos Neto, que desempatou a reunião do Copom pela redução menor dos juros, de “pura ideologia e sabugismo ao mercado”. Ele disse que “não há rigorosamente nenhum fundamento para diminuir o ritmo e sinalizar freio no corte da Selic”. “A insensibilidade e falta de conexão com a realidade do Banco Central é uma verdadeira afronta às necessidades do país e anseios do povo”, denunciou o parlamentar.
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