Queda a conta-gotas da Selic está no mesmo ritmo da inflação e juro real (juro nominal menos a inflação) fica praticamente o mesmo, foi de 7,96% para 7,71%. Empresários alertam que ninguém consegue investir com taxas de juros nesses níveis
Não satisfeito com o estrago que está provocando na economia, Campos Neto resolveu também mentir e enrolar sobre as taxas de juros reais praticadas no Brasil. Em entrevista, nesta quinta-feira (21), ele resolveu contestar os empresários que estão denunciando que as taxas reais não estão caindo.
“Não é verdade que o juro nominal recuou e o juro real não caiu”, disse ele. Pura enganação. A inflação estava em 5,79% em 2022 e os juros nominais, em 13,75%. Os juros reais ficaram em 7,96%. Agora, a inflação está em 4,04% (em novembro), os juros nominais, em 11,75% e os juros reais em 7,71%. Ou seja, praticamente não mudou nada, como denunciaram os empresários.
O juro defendido por Campos Neto é o responsável pela estagnação da economia brasileira e pelo gasto obrigatório de cerca de 800 bilhões de reais dos cofres públicos somente para pagamento das taxas de juros. É responsável também pela quebradeira de milhares de empresas ao insistir em manter o país como campeão mundial dos juros altos. Os juros reais no Brasil estão em níveis proibitivos para qualquer investimento produtivo.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e outras entidades empresariais têm alertado para a gravidade da situação. Sustentam que os investimentos estão em queda porque os juros reais do país não estão caindo. E não estão caindo porque a Selic está sendo reduzida a conta-gotas pelo Conselho de Política Monetária (Copom). Como a inflação também vem perdendo fôlego, as taxas de juros reais – resultante da subtração da inflação das taxas nominais – estão sendo mantidas nas alturas.
Nenhum empresário consegue investir em novos projetos, em novas plantas industriais ou em qualquer outro negócio que crie empregos e mova a economia, quando o rendimento especulativo está garantido em seus 7,71% de juros pagos pelos títulos públicos.
Nesse cenário, sem se produzir nada, só trocando papéis, o especulador ganha 7,7%. Portanto, os empresários estão cobertos de razão ao se queixarem e é ridículo e inaceitável o esforço de Campos Neto para esconder os dados e defender a manutenção dessa indecência.
Como se não bastasse o cinismo de dizer que a taxa de 7,96% de juro real é muito diferente de 7,71%, Campos Neto ainda usa a entrevista para, novamente, se intrometer na política fiscal – que não é sua área – e chantagear o governo para que sejam feitos mais cortes nos investimentos públicos, nos salários e nos serviços públicos.
O presidente do BC não está satisfeito com o fato de que, com as atuais taxas de juros, quase metade de todo o orçamento do Poder Público – União, Estados e Municípios – é gasto com juros e rolagem da dívida pública.
A outra metade serve para dividir com todo o restante da sociedade. Não satisfeito com isso, aproveitou também a entrevista para elogiar a meta contracionista de déficit zero pretendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para o ano de 2024.
Parlamentares do próprio governo estão advertindo que, se essa meta de zerar o déficit for mantida, os cortes nos investimentos poderão chegar a 50 bilhões de reais no ano que vem. Nem mesmo o presidente da República parece concordar com esse absurdo defendido pela equipe econômica do governo pelo mercado financeiro.