A China rechaçou veementemente a decisão do Canadá de conceder autorização para o prosseguimento do processo de extradição contra a diretora financeira, e filha do fundador, da gigante tecnológica chinesa Huawei, Meng Wanzhou, que é movido por Washington.
“O lado chinês expressou seu extremo descontentamento e um protesto decisivo ao lado canadense devido a sua persistente promoção dos chamados procedimentos judiciais sobre a extradição de Meng Wanzhou. Pequim já apresentou severas representações a Ottawa”, disse o porta-voz da chancelaria chinesa, Lu Kang.
A decisão canadense foi anunciada na sexta-feira 1º de março. A audiência de Meng será no dia 6.
Em comunicado, a Huawei considerou “decepcionante” a decisão canadense e denunciou que as alegações “do lado norte-americano são politicamente motivadas”. “O presidente dos EUA disse repetidamente que se o caso de Meng Wanzhou ajudar a chegar a um acordo comercial entre os Estados Unidos e a China, ele intervirá neste caso”, acrescentou a nota. “Apesar disso, o Departamento de Justiça canadense ainda decidiu emitir a ordem relevante”.
A declaração da Huawei observou, ainda, “que as ações de Meng, consideradas ofensas (à lei) pelos EUA, não eram ofensivas sob a lei canadense. Assim, a autorização do Canadá para procedimentos de extradição viola o princípio da dupla criminalidade – o principal requisito para a extradição, segundo o qual uma pessoa pode ser transferida para julgamento por um estado a outro se existirem leis semelhantes que tenham sido violadas pelo suspeito nos dois países”.
“A Sra. Meng Wanzhou não fez nada ilegal. Os Estados Unidos abusaram dos procedimentos judiciais iniciando procedimentos criminais e pedindo sua extradição”, assinalou a Huawei, que recentemente suplantou a Apple como a número dois dos celulares e está na vanguarda do desenvolvimento das redes de alta velocidade 5G.
Meng foi praticamente sequestrada de um voo de conexão em Vancouver a pedido de Washington em 1º de dezembro do ano passado, chegou a ficar presa por alguns dias, detenção posteriormente transformado em prisão domiciliar, em uma casa que ela possui na cidade canadense. A alegação de Washington para o pedido de extradição foi que a Huawei teria violado sanções dos EUA contra o Irã.
Desde então, tem sido de grande tensão as relações diplomáticas entre Ottawa e Pequim, o que levou até à demissão do embaixador canadense na China, John McCallum, por este ter afirmado que Meng tinha “um caso forte” em favor dela, porque as violações alegadas pelos norte-americanos não eram admissíveis sob as leis canadenses e porque era evidente a interferência política do próprio presidente Trump, que sem que ninguém lhe perguntasse, assumiu em público que poderia “intervir” dentro das conversações com a China sobre a guerra comercial.
Em paralelo, o governo Trump vem movendo uma guerra comercial contra a China, entre cujos objetivos está deter o plano de dez anos chinês em curso, para domínio da alta tecnologia – de computação quântica a veículos autônomos e Inteligência Artificial – de que a Huawei é símbolo. As redes 5G são a chave para a chamada indústria 4.0 – a digitalização intensiva dos processos produtivos – e a ‘internet das coisas’.
A China tem denunciado que os ataques dos EUA à Huawei visam “criar condições de concorrência desleal” que beneficiem os paquidérmicos monopólios norte-americanos e não se baseiam em “preocupações reais de segurança nacional”.
Além da violação das leis norte-americanas de sanção ao Irã – que não valem extraterritorialmente de acordo com o direito internacional e não passam de uma versão moderna do ‘cerco medieval’ para matar adversários pela fome -, Washington acusou Meng de fraudar o sistema bancário e roubar propriedade intelectual.
O governo Trump vem agindo escancaradamente para banir a concorrência da Huawei nas redes 5 G, o que já foi confirmado pela Austrália e Nova Zelândia. Países europeus vêm se manifestando contra a medida, como a Alemanha, Inglaterra, Itália e Espanha. Um ex-diretor de inteligência canadense, em entrevista ao New York Times, também fez lobby contra a Huawei, aconselhando Otawwa a “proibir o uso de equipamentos da Huawei na nossa rede 5G”.