Canadá faz em duas semanas o que EUA não fez em 20 anos: após morticínio, proíbe rifles de assalto

No Canadá, a silenciosa homenagem aos 22 mortos por um atirador ensandecido - Foto Tim Krochak Getty Images

Duas semanas após uma série de massacres na província de Nova Escócia, em que um atirador ensandecido assassinou a tiros e por incêndio criminoso 22 pessoas ao longo de dois dias, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau anunciou na sexta-feira (1) a proibição no país de rifles semiautomáticos, como o AR-15.

Como ele destacou, as vítimas e suas famílias mereceriam “mais do que pensamentos e preces”.

“Essas tragédias ainda reverberam. Elas moldam nossa identidade, elas marcam nossa consciência, elas tornam crianças em adultos e a dolorosa verdade é que estão acontecendo mais frequentemente do que nunca”, enfatizou Trudeau.

A proibição torna imediatamente ilegal a venda, transporte e uso desse tipo de arma no Canadá. Quem já tem tais armas terá até abril de 2022 para se descartar delas e o governo irá preparar legislação para compensar essas pessoas.

Estima-se em mais de 100 mil os rifles semiautomáticos no Canadá, a grande maioria importada dos EUA.

Os massacres na Nova Escócia ocorreram nos dias 18 e 19 de abril, ao longo de 50 km a partir da pequena comunidade de Portapique, a 130 quilômetros da capital, Halifax. O atirador, Gabriel Wortman, um protético de 51 anos, matou a tiros 12 pessoas e ateou incêndios que mataram mais outras nove. Ele acabou morto depois de ter assassinado uma agente policial, que tentava detê-lo.

Trudeau salientou que tais armas foram “projetadas para um único propósito: matar o maior número de pessoas no mais curto intervalo de tempo”. “Não há qualquer uso ou lugar para tais armas no Canadá”.

Por sua vez, o ministro da Segurança Pública, Bill Blair, após dizer que a proibição desses rifles irá “salvar vidas canadenses”, retrucou ao comentário de que os donos de armas eram ‘cidadãos cumpridores da lei’: “ninguém precisa de um AR-15 para caçar um veado”.

A coordenadora do grupo pelo controle de armas Poly Se Lembra, Heidi Rathjen, que se formou na Politécnica de Montreal, cena do massacre de 1989, aplaudiu a decisão e pediu que o governo atue para tornar a proibição permanente.

“O governo Liberal está finalmente entregando sua promessa de controlar as armas”, ela disse. “A proibição é ampla. A circulação e uso dessas armas será severamente restringida durante a anistia de dois anos”.

A presidente da Coalizão pelo Controle de Armas, Wendy Cukier, disse que o Canadá estava há muito à espera dessa proibição. “É um marco para o Canadá e um passo importante em frente”. Ela convocou os parlamentares a apoiarem um programa obrigatório de recompra das armas.

Segundo a emissora canadense CBC, há no país mais de 83 mil rifles do tipo AR-15, M16, AR-10 e M4 – como os usados nos massacres de Sandy Hook, Las Vegas e Orlando (EUA) e na Nova Zelândia. Seriam mais de 16 mil rifles Ruger Mini-14, do tipo usado no massacre de Montreal. Cerca de 5 mil, do modelo M14, como o usado no massacre de Moncton, no leste do Canadá, há dois anos.

A oposição conservadora condenou a proibição dos rifles de assalto, com um deputado chegando a alegar que a medida “não poderia” ser decretada “em meio à pandemia”.

Nos EUA, onde tais massacres se repetem quase a cada quinzena ao longo dos últimos 20 anos, associações de cidadãos contra a venda e uso dos chamados ‘rifles de assalto militar’ saudaram a decisão do governo canadense.

“O Canadá baniu os rifles de assalto menos de duas semanas depois do tiroteio em massa de Nova Escocia”, tuitou a Aliança por Ação de Newtown. “São bem mais de sete anos desde a tragédia do tiroteio de Sandy Hook, quando 26 crianças e educadores foram massacrados com um AR-15 e recarregadores de alta capacidade”.

Em 2018, o massacre em uma escola de ensino médio de Parkland, na Flórida, levou uma multidão de jovens a Washington contra o morticínio, mas nem assim o Congresso dos EUA, ou a presidência, se moveram para deter a sangueira.

Foi em abril de 1999 que ocorreu o tristemente célebre Massacre de Columbine, com mais de uma dezena de estudantes mortos a tiros, aleatoriamente, numa explosão de revanche, padrão que se repetiria inúmeras vezes desde então.

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