A jovem deputada Tulsi Gabbard (de 37 anos) eleita pelo Havaí, anunciou, dia 14, que está lançando sua campanha à indicação do Partido Democrata como candidata a presidente dos Estados Unidos.
Em sua trajetória, Gabbard tem se destacado por opor-se ao que denomina de “guerras de mudança de governo” em especial à que depôs e assassinou o líder líbio Muammar Kadafi e à que tentou derrubar – através da utilização de grupos terroristas – o presidente sírio, Bashar Al Assad.
Durante a última campanha presidencial, Gabbard renunciou a seu posto de vice-presidente do Comitê Nacional Democrata para se tornar uma das líderes da campanha em favor da candidatura do senador Bernie Sanders, que desafiou a postulação de Hillary Clinton.
Em janeiro de 2017, a deputada, após denunciar a devastação que acometia a Síria, viajou ao país para visitar Alepo e Damasco. Foi então convidada para uma audiência pelo presidente Assad e aceitou.
Quando questionada sobre o encontro, usou de sua habitual franqueza: “Originalmente, eu não tinha a intenção de me encontrar com Assad, mas dada a oportunidade, senti que era importante não deixar que passasse. Penso que devemos estar prontos para encontrar quem quer que seja, sempre que isto traga uma chance para acabar com esta guerra que tem causado tanto sofrimento ao povo sírio”.
Em setembro de 2018, em uma entrevista publicada pelo Sanders Institute, declarou: “Desde 2011, quando os Estados Unidos, Arábia Saudita, Turquia e outros países começaram esta guerra para sufocar e levar a uma mudança de regime” isto se deu, afirma, “com base em grupos terroristas como al Qaeda e al Nusra”.
Gabbard também se opõe ao que denomina de “guerra genocida no Iêmen” e defendeu, uma proibição do apoio e participação dos Estados Unidos aos que intervêm no Iêmen, uma vez que a participação do país nunca foi autorizada pelo Congresso. “Os Estados Unidos estão ombro a ombro e apoiam a Arábia Saudita nesta guerra enquanto eles cometem atrocidades contra civis iemenitas”.
Em outra entrevista ao “The Jimmy Dore Show”, também em setembro do ano passado, destacou que “depois que lideramos a guerra para depor Kadafi, o que temos é um mercado aberto de comércio escravo. Na sociedade líbia de hoje temos a presença de terroristas em quantidades nunca vistas”.
Ela não deixou de considerar positivos os passos de aproximação na Coreia, envolvendo os presidentes do Norte e do sul. “Durante anos eu atuei no Congresso para que o nosso envolvimento com a Coreia do Norte e com Kim Jong-un fosse para apoiar um acordo de paz que resulte na desnuclearização da Península Coreana”.
“Portanto, eu penso que as iniciativas recentes – tanto o histórico encontro do presidente dos Estados Unidos e o líder da Coreia do Norte – certamente um passo positivo na direção certa além das relações entre a Coreia do Norte e do Sul, que também são positivas”.
Quanto às denúncias de envolvimento russo nas eleições norte-americanas, Gabbard destaca que não é aceitável qualquer tentativa de influenciar eleições no país, mas “os Estados Unidos vêm fazendo isso há muito tempo, em países, em todo o mundo. Tanto de forma aberta, como de forma encoberta, usando todo tipo de campanhas de desinformação, isso sem contar com as guerras de mudança de regime e contra líderes de outros países”.
“Penso que é muito hipócrita para os EUA discutir esta questão, enquanto país, sem que se coloque honestamente que isso deve funcionar nas duas direções. Assim como não devemos permitir que isso aconteça conosco, precisamos parar de fazer a mesma coisa em outros países”.
Finalmente, ela tem deixado claro que o dinheiro dos lobistas serve à reprodução de um status quo que precisa mudar, “se não, os lobistas seguirão tendo mais de uma cadeira na mesa e escrevendo políticas que afetam os cuidados com saúde e educação e sobre aquilo que rege Wall Street e tudo mais, ao invés de termos um governo verdadeiramente representativo por e para o povo”.
Ao tempo em que defende o fim dos monopólios dos grandes bancos e a reedição da Lei Glass-Steagall com a qual Roosevelt buscou conter o domínio do sistema financeiro, alerta também para os falsos ‘progressistas’.
“Temos estes indivíduos e grupos que se auto-proclamam progressistas, mas estão entre os primeiros a clamar por mais guerra sob disfarce de humanitarismo. Eles olham para o sofrimento destas pobres pessoas – e tem muita gente sofrendo em várias partes do mundo – e dizem, ‘vamos jogar mais bombas e tentar livrá-las deste sofrimento’. E quando se olha, exemplo depois de exemplo, as ações, a política dos EUA, enfim, o intervencionismo para mudança de regime, foi isso o que fez a vida das pessoas nestes países, de longe, muito pior do que era antes ou seria se apenas tivéssemos ficado distantes delas”.
Gabbard já atuou no serviço militar, em um setor de apoio a tratamento de soldados feridos quando se voluntariou para atuar quando os Estados Unidos invadiram o Iraque. Esteve lá em 2004 e 2005. Segundo afirma o editor do portal Shadowproof e da webrádio Unnauthorized Disclosure, Ken Gosztola, “ela testemunhou o impacto da mudança de regime sobre o povo do Iraque, assim como sobre os soldados norte-americanos e isso a inspirou a passar a falar sobre o custo humano da guerra e a desafiar o complexo industrial-militar”.
Em sua análise das eleições que levaram Donald Trump à Casa Branca, ela sublinha: “Se olharmos ao que levou ao resultado das eleições de 2016, e se, de fato, prestarmos atenção e examinarmos porque pessoas escolheram votar da forma como fizeram, isso aponta para maiores problemas, uma muito maior insatisfação que vem se construindo a algum tempo; uma insatisfação que os eleitores têm contra o establishment em Washington, o establishment dentro de ambos os partidos”.