Na noite de quarta, e na quinta-feira, apareceram em vários blogs e sites identificados com o lulismo – e, mesmo, com o petismo – manifestações indignadas, algumas até furiosas, contra o acordo, fechado por Lula e pela cúpula petista, com o PSB.
“Acordo entre PT e PSB é jogo de soma negativa”, dizia um escriba; “Uma das maiores traições da história”, dizia outro; “Lula e o PT arriscam a sobrevivência do partido”, ia mais um; “PSB convoca filiados em Minas para resistir ao acordo com o PT”; “Obsessão do PT com Lula mina as novas lideranças de esquerda”, dizia uma inocente do Leblon; e etc., etc., etc.
Na manhã de quinta-feira, achamos apenas duas matérias de lulistas a favor do acordo: “Objetivo do acordo de PT e PSB é derrotar o golpe, diz Paulo Teixeira” e “Acordo PT – PSB reflete força petista na eleição”.
Ainda que, provavelmente, o número de matérias favoráveis possa ter aumentado durante as horas seguintes, o que teria provocado semelhante efusão de descontentamento?
Por que um acordo partidário – algo que, em geral, é rotina, sobretudo às vésperas de uma eleição – causou essa comoção?
Porque é óbvio, pelo lado de Lula e da cúpula do PT, o que esse acordo significa: Lula está jogando abertamente – só falta falar – para que Alckmin ganhe a eleição presidencial.
Portanto, a suspeita de muitos, fora do PT, tornou-se, agora, a certeza de muitos dentro do PT e do lulismo (v. HP 31/07/2018, Com Lula na cadeia, cordão da Lava Jato é puxado por Alckmin).
Certamente, isso é mais sentido que pensado. E quanto mais a consciência é pouco clara sobre a questão, mais o protesto assume um tom exasperado.
No entanto, a nota da direção do PT é explícita:
“O Partido dos Trabalhadores (…) decidiu conferir prioridade absoluta à candidatura do companheiro Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
“A primazia do projeto nacional nas eleições de 2018 foi reiterada em sucessivas resoluções do Diretório Nacional e da Comissão Executiva Nacional, orientando e vinculando a este projeto as alianças nos estados.
“Com o objetivo de fortalecer a unidade do campo popular em torno da candidatura Lula, e na perspectiva de construir as condições políticas para que uma aliança progressista governe o país a partir de janeiro de 2019”, etc.
Evidentemente, não existe “prioridade absoluta”. Por definição, qualquer prioridade não pode ser absoluta, pois, nesse caso, não é uma prioridade, mas uma exclusividade.
Portanto, a direção petista está dizendo que o “campo popular” e o “projeto nacional” é, exclusivamente, a candidatura de Lula.
Quem não apoia ou se submete a Lula, está, segundo o decreto do PT, excluído do campo “popular” e “nacional”.
Sem essa exclusão, é claro, não poderia haver exclusividade (“prioridade absoluta”) para Lula.
Logo, candidatos como Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (REDE) e João Goulart Filho (PPL), para o PT, estão excluídos do “campo popular e nacional”.
Ninguém discute, evidentemente, que Alckmin não está no campo “popular e nacional”.
Portanto, não é Alckmin que o PT quer excluir com a suposta exclusividade de Lula.
Mas, se é assim – óbvio que é – o inimigo central do PT são as candidaturas de Ciro, Marina e João Goulart Filho.
Não foi para contemplar o governador Paulo Câmara, de Pernambuco, que Lula enviou a candidatura da vereadora Marília Arraes para a câmara de gás.
Como sempre, ele somente age em função de seus próprios interesses – os mais mesquinhos, gerados por sua, como disse a procuradora Raquel Dodge, ambição desmedida.
O país e seu povo, realmente, pouco lhe importam. O que vai fazer Alckmin, se for eleito, ou o sofrimento do povo, não é importante para Lula.
Somente Lula é importante para Lula. Que o resto do mundo se submeta, assim como ele se submete ao contrabando que vem de fora.
Pessoas como João Goulart Filho, Ciro ou Marina têm personalidade própria, não são dependentes, muito menos são uma extensão de Lula.
Portanto, são tudo o que ele não quer como candidato – e, menos ainda, como presidente da República.
Prefere Alckmin, que não lhe faz sombra – para que possa continuar encenando sua comédia “de esquerda” – do que ver alguém verdadeiramente do campo nacional e popular na Presidência.
Além do mais, existe o acordão – Alckmin, outro implicado pela Lava Jato, apoiado em peso por réus e investigados da Lava Jato que eram a maioria da base de Lula e Dilma, seria, acham eles, muito mais sensível a soltar Lula e acabar com as investigações, que alguém do campo nacional e popular.
Evidentemente, quando o PT fala em “prioridade absoluta” para a candidatura de Lula, não está apenas excluindo – ou tentando excluir – os candidatos nacionais e populares.
Está, também, facilitando o caminho para Alckmin.
Pois Lula está preso e, mesmo se estivesse solto, seria inelegível, pela Lei da Ficha Limpa, que ele mesmo assinou.
Sua candidatura, portanto, não existe. A “prioridade absoluta” do PT é em torno de não deixar um candidato progressista ganhar as eleições, para que o lugar fique reservado para a encenação de Lula.
Por consequência, a ação para prejudicar candidaturas tem como alvo, precisamente, os oponentes de Alckmin.
PANTOMINA
Evidentemente, o PT se considerar no campo popular e nacional, faz parte da farsa que sempre caracterizou Lula e seus sequazes.
No momento, não existe nada mais antipopular e antinacional que o PT, tanto quanto sua imagem especular, o PSDB.
Basta ler o recente “Plano Lula de Governo” e as declarações de seu coordenador, Fernando Haddad – imundícies neoliberais ao estilo do tresloucado Gustavinho Franco, guru dos tucanos durante o primeiro governo de Fernando Henrique (v. Legado dos governos do PT é desemprego, corrupção e Temer e Porta-voz de Lula diz que PT sabe como fazer a reforma da Previdência).
Realmente, os que deram, sob propina, um rombo de R$ 42 bilhões na Petrobrás, não podem se dizer “do campo nacional”, exceto por mentira e cinismo.
Os que arrastaram o país ao pior desemprego de sua História – pois Temer, nisso, é um continuador de Dilma – somente podem se dizer do “campo popular” por completa falta de caráter.
Lula é um füehrerzinho de meia-tigela, preso por roubo, e com medo de que outras lideranças se afirmem.
Por isso, prefere Alckmin a qualquer liderança popular e nacional.
O outro füehrer, não esqueçamos, era chefe do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Até “socialista” o sujeito se dizia.
CARLOS LOPES
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