Em 2018, o PSL do Rio de Janeiro, que era presidido pelo senador Flávio Bolsonaro, orientou suas candidatas mulheres a gastarem parte dos recursos de campanha com duas empresas ligadas a assessores de Flávio.
Contando somente as candidaturas femininas, que são no mínimo 30% da chapa do partido, R$ 49 mil foram passados para as empresas Alê Soluções e Eventos e Jorge Domingues Sociedade individual Advocacia.
A primeira empresa é de Alessandra Oliveira, que foi assessora de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A segunda é ligada ao advogado eleitoral de Flávio, Luis Gustavo Botto Maia.
Os dois são investigados por envolvimento no esquema de “rachadinha” no gabinete de Flávio, junto com o assessor Fabrício Queiroz, que está em prisão domiciliar.
Enquanto Flávio presidia o partido, o PSL do Rio de Janeiro orientou suas candidatas a gastarem mais da metade de seus recursos para a campanha com as duas empresas. Das 33 candidatas do partido, 27 gastaram R$ 750 com cada uma das empresas.
Ouvidas pelo UOL, cinco ex-candidatas confirmaram que receberam a orientação do partido para realizar os gastos.
Sarita Paiva, que foi candidata a deputada estadual pelo PSL em 2018, disse que “primeiro, o partido disse que as [candidatas] mulheres receberiam advogado e contabilidade de graça. Depois, falaram que tinha que dar mais R$ 750 para a contadora e mais R$ 750 para o advogado”.
“Eu acho que muitas candidatas foram [recrutadas] só para preenchimento [da cota], para que dê posição para os homens”, o que é conhecido como candidatura-laranja.
Outra ex-candidata para o cargo, Cristiane Alvarenga, afirmou que não conhece “o advogado até hoje. Com relação à contabilidade, foi um serviço muito mal [feito]. Foi realmente uma grande sacanagem da liderança [do PSL]”.
A maioria das candidatas recebia o mesmo valor do fundo eleitoral, R$ 2.857, e gastava o dinheiro exatamente da mesma forma. Para a procuradora regional eleitoral do Rio de Janeiro, Silvana Batini, “isso é suspeito”.
“Esse tipo de padrão implica uma ação coordenada. Pode ser uma ação coordenada simplesmente para racionalizar os recursos. Ou para fraudar”, comentou.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), “a extrema semelhança dos registros de campanha – tipos de despesa, valores, data de emissão das notas fiscais e, inclusive, a sequência numérica destas – denota claros indícios de maquiagem contábil”.
As duas empresas também receberam recursos de pelo menos 8 candidaturas masculinas.
A empresa de Alessandra recebeu R$ 53,8 mil e a ligada a Luiz Botto recebeu R$ 37,2 mil. Ao todo, foram R$ 91 mil, somando as 33 candidaturas femininas e as 8 masculinas.
Segundo a reportagem do UOL, algumas das candidatas escolhidas pelo PSL-RJ em 2018 mantinham relações próximas a assessores de Flávio Bolsonaro. Entre elas estão Edianne Abreu e Charlô Ferreson, que concorreram a deputada federal.
As duas são próximas de Fabrício Queiroz, apontado como operador da rachadinha n o gabinete de Flávio Bolsonaro. As duas candidaturas têm indícios de fraude contábil, ou seja, contrataram as duas empresas citadas e único cabo eleitoral.
Em seu perfil no Instagram, Edianne assumiu que não fez campanha para si mesma: “Quero agradecer a você que acreditou na minha pessoa, mesmo sem eu fazer minha própria campanha, pois estava engajada na ca pois estava engajada na campanha dos Bolsonaros”.
No mês passado, Edianne, que é dentista, foi nomeada como coordenadora na Secretaria Nacional do Audiovisual do governo de Jair Bolsonaro.
Ainda em 2018, o PSL de Minas Gerais realizou uma operação parecida. Seu presidente à época, o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, passou R$ 279 mil para quatro candidatas que juntas obtiveram 2.084 votos.
Desse dinheiro, pelo menos R$ 85 mil foram passados para empresas ligadas a ex-assessores de Marcelo Álvaro Antônio.