Pelo andar da carruagem, Jason Miller vai morrer cansado…
Um dos integrantes mais raivosos da tropa de choque trumpista, Jason Miller, incluiu mais uma pérola de seu repertório de críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ao afirmar que “não descansará até ele (Moraes) ser preso”.
“Alexandre de Moraes pertence à PRISÃO!!! O que ele está fazendo com o presidente [ex-presidente Jair Bolsonaro] é repugnante, e o que ele fez com Filipe Martins é condenável. Não vou desistir até que o careca esteja atrás das grades e receba tudo o que merece!!!”, escreveu o lambe-botas do atual inquilino da Casa Branca.
Fica a pergunta: como o governo dos Estados Unidos poderiam prender um ministro da Suprema Corte brasileira, cuja soberania ficou atestada nesses últimos tempos durante o julgamento de Bolsonaro e de sua trupe golpista? Alguém precisa dizer ao energúmeno que, para seu desiderato, será necessário reimplantar uma ditadura no Brasil, algo para o qual eles concorreram, é verdade, em 1964, quando ajudaram a destituir o governo legítimo e constitucional de João Goulart, mas, hoje, como diz o velho ditado, o buraco é muito mais embaixo diante da notória decadência política, econômica e moral do tigre do Norte.
O jogo de Trump continua o mesmo e já não engana mais ninguém, nem mesmo os que acompanham à distância o seu desgoverno: enquanto ele dá sinais de flexibilizar o injusto e inaceitável tarifaço contra os produtos que os EUA importam do Brasil, manda seus sabujos soltarem os cachorros contra um ministro da Suprema Corte brasileira que teve – e está tendo – um desempenho reconhecido por todos na defesa da democracia do País.
Mais um episódio do desrespeito e afronta descabida à soberania do Brasil, entre as muitas já praticadas desde que Trump assumiu o mandato.
A publicação do capacho da Casa Branca foi feita em resposta a uma mensagem do conspirador-mor da República, Eduardo Bolsonaro, no X sobre o caso de Filipe Martins, ex-assessor de Assuntos Internacionais de Jair Bolsonaro, que teve prisão preventiva decretada por Moraes em fevereiro de 2024.
O filho de Bolsonaro, evadido nos EUA para pressionar o governo norte-americano a promover sanções contra a economia nacional e autoridades políticas e do judiciário, como já aconteceu com Moraes e sua família, postou um vídeo nas redes sociais, acompanhado da seguinte mensagem: “Filipe Martins: preso por uma viagem que não fez e, agora, acusado de uma reunião que não participou! SOLTE FILIPE MARTINS, ALEXANDRE DE MORAES!”.
O comentário foi feito após a divulgação, no mínimo duvidosa, de um comunicado pela Casa Branca, informando que Martins não entrou no país no dia 30 de dezembro de 2022, como havia sido apontado em documentos que tramitam no STF, e como se fosse essa a única motivação para a prisão de Martins, um seguidor figadal dos interesses do clã Bolsonaro e um adepto doentio da seita criada por Olavo de Cavalho, um ex-mentor da ultradireita brasileira, já falecido, que era enganosamente chamado de filósofo pelos extremistas.
No vídeo, o “03” referiu ao ex-assessor de seu pai como uma das pessoas “mais perseguidas pelo ministro Alexandre de Moraes”, pois, segundo ele, o olavista ficou dias sem ver a luz do sol, como tantos outros que conspurcaram contra a democracia.
Não é a primeira vez que Jason Miller estrebucha contra Moraes. Muito recentemente, chegou a afirmar que os Estados Unidos “não negociam com terroristas”. A resposta surgiu depois que o ministro, de forma altiva, afirmou que a “soberania [do Brasil] jamais será negociada”.
A história, no entanto, é pródiga em acontecimentos que confrontam as palavras de Miller. Atuais e ex-ocupantes do governo dos EUA, notadamente com o uso criminoso da CIA, o departamento de “inteligência” americano, e de integrantes de suas forças militares, recorrentemente de forma oculta, eles, sim, usaram e abusaram de práticas terroristas para impor seus interesses geopolíticos mundo afora. Tem sido assim desde o final da 2ª Grande Guerra e, a mais recente, ainda viva na memória de todos, o apoio descarado ao regime neonazista e terrorista de Benjamin Netanyahu para tentar exterminar o povo palestino na Faixa de Gaza, onde promovem um genocídio.
QUEM É FILIPE MARTINS
Filipe Martins, assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro, é um dos seguidores mais raivosos do filósofo de Olavo de Carvalho, guru do clã.
Ele ficou conhecido do grande público brasileiro ao fazer um gesto dos supremacistas brancos durante uma sessão do Senado Federal, quando Bolsonaro ainda estava na Presidência da República, o que foi considerado uma grande provocação.
Exibido em vídeo, o sinal feito com a mão pelo bolsonarista forma as letras “W” e “P”, significando “white power”, “poder branco” em inglês. O gesto é utilizado em atos provocativos e violentos pelos neonazistas da Europa e pelos racistas assassinos da seita Ku Klux Klan dos EUA. Vários destes aloprados inclusive já foram presos em seus países.
A atitude de Filipe Martins gerou reação imediata no parlamento e na sociedade. O próprio presidente do Senado à época, Rodrigo Pacheco, solicitou investigação interna sobre os gestos feitos nas suas costas. Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediu, também naquele momento, que o fascistinha fosse detido e retirado das dependências da Casa.
Diante da reação negativa, o assessor disparou no seu Twitter que estava apenas ajeitando a lapela do seu terno, negou o gesto racista e ainda ameaçou processar os “palhaços que desejam emplacar a tese de que eu, um judeu, sou simpático ao ‘supremacismo branco’”.
A desculpa, entretanto, não colou. Até o Museu do Holocausto, primeiro espaço dedicado à memória da tragédia no Brasil, reagiu ao gesto nas redes sociais.
A defesa do ex-assessor de Assuntos Internacionais de Bolsonaro, Filipe Martins, apresentou as alegações finais ao STF neste final de semana, pedindo a anulação do processo aberto contra ele por sua suposta participação em um plano de golpe de Estado.
MARCO CAMPANELLA