Carola Rackete, capitã do navio humanitário Sea-Watch 3 que desembarcou, em 29 de junho, 40 imigrantes resgatados no Mediterrâneo no porto de Lampedusa, defendeu sua atitude perante um tribunal da Itália, respondendo às acusações de favorecer a imigração ilegal. Presa e liberada provisoriamente três dias depois, Carola teve que se apresentar à justiça na quinta-feira, 18.
“Senti-me muito feliz de ter a oportunidade de explicar em detalhe a operação de resgate que realizamos em 12 de junho”, afirmou a capitã alemã ao sair do juizado em Agrigento, Sicília.
“Espero sinceramente que tanto a Comissão Europeia, como o Parlamento recém-eleito, façam todo o possível para evitar que se repita essa situação. Espero que todos os países europeus trabalhem juntos para acolher todas as pessoas em situação de extremo risco resgatadas pela frota civil”, acrescentou.
Centenas de pessoas se reuniram frente ao tribunal para uma manifestação de solidariedade com faixas de apoio à ação de Carola, convertida em símbolo contra a política do governo italiano formado pelo Movimento 5 Estrelas e a Liga.
A guerra do ministro do Interior, Matteo Salvini, contra as organizações sociais que resgatam migrantes se acirrou, mas a decisão fascista de deter a capitã provocou um amplo movimento de solidariedade internacional a ela, conseguindo a arrecadação de mais de um milhão de euros para o julgamento.
Assim que ela foi presa, sindicalistas de toda a Europa se reuniram diante do local onde ela estava detida para exigir sua libertação. Cartazes erguidos no ato declaravam: “Refugiados não são inimigos” e “Salvar vidas não é crime, é heroismo”.
Os fatos provocaram tensão nas relações entre Itália e Alemanha.
Uma juíza italiana anulou a detenção da jovem alemã, argumentando que ela atuou para salvar vidas, mas continua sendo investigada por resistência a um oficial e ajuda à imigração clandestina.
A promotoria de Agrigento apelou da decisão da juíza e espera estabelecer um precedente jurídico “para que não se repita o caso”.
Para Salvini
trata-se de organizações “cúmplices dos traficantes de seres humanos”
e chamou Carola Rackete de “criminosa”, “problemática”,
“rica e mimada”, “disposta a matar cinco militares
italianos”.
A capitã processou o ministro por difamação e incitação à ofensa, assinalando que cada mensagem de ódio de Salvini nas redes sociais provocou uma cadeia de insultos violentos, sexistas e ameaçadores.
O Sea-Watch 3 permanece sequestrado no porto siciliano de Licata e Carola deverá explicar porque resgatou os imigrantes sem esperar os guarda-costas líbios a cargo das operações nesse setor do Mediterrâneo.
A comprovada situação de catástrofe em que estava a tripulação vítima de doenças, fome e desespero não diz nada para os fascistas. Desde há cerca de dois anos, as embarcações humanitárias têm sido sistematicamente submetidas a investigações judiciais para impedir que resgatem migrantes no Mediterrâneo.
O parlamento da Catalunha votou unanimemente, no dia 17, para que se outorgue um prêmio a Carola, enquanto que a Câmara Municipal de Paris anunciou uma condecoração para ela e uma doação de 100.000 euros para sua organização.