
O álibi do vereador caiu. Ele dizia que estava na Câmara às 16h45, mas sua voz aparece às 17h58 no interfone do condomínio da Barra da Tijuca. Ele autoriza a entrada de um Uber minutos depois de Élcio Queiroz pedir para entrar no mesmo condomínio para se encontrar com Ronnie Lessa
A Polícia Civil do Rio de Janeiro decidiu convocar para depor pessoas ligadas à vereadora Marielle Franco e ao vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. Os investigadores tentam entender melhor como era a relação entre os dois parlamentares, que eram vizinhos de gabinete na Câmara do Rio e teriam se envolvido em uma discussão no corredor do prédio.
É sabido que Carlos Bolsonaro recusava-se a entrar no mesmo elevador em que estivesse a vereadora.
O jornalista Kennedy Alencar, da Radio CBN, informou na quarta-feira (20) que a Polícia Civil do Rio passou a incluir Carlos Bolsonaro nas investigações sobre o caso Marielle.
A iniciativa estaria ligada ao episódio da briga citada acima, mas também a um outro fato que surgiu no decorrer do episódio envolvendo o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde moram Jair Bolsonaro, o próprio Carlos e o assassino da vereadora, Ronnie Lessa.
O vereador Carlos Bolsonaro vinha afirmando que no dia do assassinato da vereadora estava na Câmara de Vereadores. Ele repetiu essa versão recentemente, durante um discussão nas redes sociais com o youtuber Felipe Neto.
Mas, ao mostrar um vídeo para provar que seu pai não se encontrava em casa quando Élcio Queiroz foi se encontrar com o comparsa Ronnie Lessa no dia 14 de março, dia da morte de Marielle, Carlos é obrigado a mostrar um outro áudio em que ele próprio atende uma chamada do porteiro às 17h58 para autorizar a entrada de um motorista de aplicativo.
Assista ao vídeo
Seu álibi caiu. O vídeo foi um tiro no pé.
Ele garantia que às 16h45 estava na Câmara e que neste horário estava inclusive votando. Vejam o diaólogo entre ele e o youtuber, ocorrido em 30 de outubro, onde ele constrói seu álibi:
Felipe Neto: “Carlos, você não explicou porque estava em casa na tarde do assassinato quando disse que não. Até agora você não explicou sua ligação e dos seus irmãos com milicianos. Eu não tenho medo do teu pai, eu tenho medo de você, seus irmãos e seus amigos. Eu sei quem você é”.
Carlos Bolsonaro então parte para o ataque feroz: “Animador de torcida, deixa eu desenhar. Minha última votação foi às 16:45, o que me impossibilitaria estar em casa às 17:15 como mencionaram a entrada dos fulanos, pois o percurso é muito longo. O resto é a mesmo besteirol de sempre! Haja paciência! Abraço e beijo na sua mãe”, afirmou.
Agora fica mais claro porque Carlos Bolsonaro desapareceu por um tempo das redes sociais. Ninguém conseguia explicar o motivo do silêncio. É óbvio que numa dessas publicações intempestivas do “zero dois” ele acabou se complicando, pois garante que às 16h45 estava votando na Câmara de Vereadores, que fica no Centro do Rio, e, às 17h53, ele aparece falando pelo interfone com o porteiro do condomínio onde mora, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade.

O condomínio de que estamos falando é o mesmo condomínio onde Élcio Queiroz, que está preso, foi se encontrar com Ronnie Lessa, também preso e autor dos disparos que mataram Marielle e seu motorista Anderson Santos.
Ronnie Lessa é integrante do Escritório do Crime, espécie de central de assassinatos por encomenda das milicias do Rio, inclusive da milícia do Rio das Pedras.
As ligações de Carlos Bolsonaro com Ronnie Lessa, que são vizinhos no condomínio, são antigas e com encontros frequentes. Além disso, o chefe de Ronnie Lessa no Escritório do Crime é Adriano Nóbrega, miliciano que está foragido e que foi homenageado duas vezes pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro, irmão de Carlos.
A mãe e a mulher do miliciano foragido, Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, respectivamente, trabalhavam no gabinete do deputado na Assembleia do Rio.
Pressentindo que o cerco está se fechando sobre os filhos, Jair Bolsonaro voltou a se fazer de vítima nesta quinta-feira (21) após os rumores envolvendo Carlos nas investigações do assassinato de Marielle e de seu motorista Anderson Gomes.
Segundo as informações divulgadas por Kennedy Alencar, a polícia investiga a possível participação de Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) no crime.
“Agora o Carlos Bolsonaro que é o responsável, pô? Que que os caras querem? Ligar a família [do presidente] ao caso Marielle? Qual é a intenção?”, questionou Bolsonaro, que disse nunca ter conversado com Marielle por “falta de oportunidade”.
“Eu, por exemplo, alguém me viu uma vez conversando com a Marielle? Não conversei por falta de oportunidade, se tivesse teria conversado com ela”, acrescentou.
Para se defender, Bolsonaro voltou a levantar ilações sobre a relação do PSol, partido de Marielle, com Adélio Bispo, autor da facada que o atingiu durante a campanha eleitoral em 2018. “Agora, o caso mais importante vocês não perguntam. O caso Adélio, então filiado ao PSOL. Eu não faço acusações infundadas contra o PSOL. Querem desviar o foco de atenção. Parece que para a esquerda não interessa resolver o caso Marielle. Interessa continuar usando a morte dela em causa própria”, disse.
SÉRGIO CRUZ