A ideia do “mito” inglês da época era dar umas pedaladas e uns calotes. Foi decapitado em praça pública
A atual discussão sobre a legalidade ou não do “Orçamento Secreto” do governo Bolsonaro, um esquema subterrâneo, clandestino e imoral de desvio de recursos públicos pelo Poder Executivo para despejar secretamente em redutos de “amigos” que votam com o governo, é tão escandalosa que faz lembrar um episodio que ocorreu na Inglaterra em 1649. Como o governo está brincando com fogo, não custa refrescar a memória sobre esse sangrento episódio da história.
Naquela data, o rei da Inglaterra, Carlos I, que acreditava piamente que sua autoridade para governar fora concedida por Deus, ou seja, que ele era um “mito”, foi decapitado em praça pública. A cerimônia ocorreu no dia 30 de janeiro de 1649. Também naquela época o debate era sobre o “Orçamento Secreto”. O rei não respeitou a obrigação de só fazer gastos autorizados pelo Parlamento.
Ao assumir o cargo, o rei da Inglaterra era obrigado a assinar um documento chamado Petição dos Direitos – uma espécie de Constituição – que proibia a Coroa de fazer gastos sem conhecimento do Parlamento. Muito semelhante ao que os governantes brasileiros têm que fazer hoje com a Constituição Federal.
Naquela ocasião, por algum motivo, os ingleses enfrentavam uma grave crise econômica, quando Carlos I resolveu não cumprir o que estava estipulado no documento e decidiu criar o seu “Orçamento Secreto”. O “mito” da época gastou sem que a sociedade e o parlamento soubessem. O dinheiro foi para um lugar secreto. Nada que se compare aos R$ 20 bilhões que Bolsonaro quer reservar para 2021 com o intuito de subornar parlamentares no ano eleitoral.
E olhe que as Ilhas Virgens Britânicas ainda não existiam naquela época como o “paraíso fiscal” que são hoje. Caso contrário, certamente, o seu ministro da Economia teria depositado uma parte do dinheiro roubado numa offshore, administrada pela mulher e filha, afinal, quem quer pagar imposto? A pedalada de Carlos I não agradou nem um pouco aos ingleses.
Como se não bastasse, o “mito” do século XVII ainda resolveu aumentar os impostos e sancionou uma antiga lei de cobrança de impostos chamada “Ship Money”. A ira popular explodiu nas ruas de Londres, sendo liderada por Oliver Cromwell.
Carlos, que havia lançado a sua “PEC dos Precatórios” inglesa, teve que fugir do país. Em 1648, ele foi capturado e no dia 30 de Janeiro de 1649 foi decapitado. Essa é a história. Qualquer semelhança com os tempos atuais, não é mera coincidência.