Em palestra na Semana da Consciência Negra. “Nós temos uma revolução de libertação nacional para fazer, e isso é a coisa mais importante do ponto de vista do racismo. Isso significa unificar brancos, negros, mulatos, todo mundo, para determinados objetivos, que são os objetivos da revolução nacional”
O Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB) realizou, neste sábado (18), um debate com o diretor de redação da Hora do Povo e vice-presidente nacional do PCdoB, Carlos Lopes, destacando a importância da revolução nacional e da luta anti-imperialista para a superação do racismo no Brasil.
O evento, organizado por ocasião da Semana da Consciência Negra, aconteceu na sede da União Municipal dos Estudantes de São Paulo (UMES). Ao ser formada a mesa do debate, todos cantaram o Hino à Negritude, composto aos 16 anos pelo professor Eduardo de Oliveira, fundador da entidade e primeiro vereador negro da capital paulista.
“Nós temos uma revolução de libertação nacional para fazer, e isso é a coisa mais importante do ponto de vista do racismo. Isso significa unificar brancos, negros, mulatos, todo mundo, para determinados objetivos, que são os objetivos da revolução nacional”, afirmou Carlos Lopes.
O evento debateu seu texto “Observações sobre o racismo”, que foi publicado originalmente na Fundação Maurício Grabois e reproduzido na Hora do Povo. Ver Observações sobre o racismo
Carlos problematizou em sua fala o conceito de racismo estrutural e a ideologia identitarista, que acabam por tirar da equação a subordinação do Brasil aos países imperialistas.
O diretor da Hora do Povo, que participou da fundação do CNAB, diferenciou racismo de escravidão, que é, como o capitalismo, um modo de produção.
Caso o racismo fosse parte da estrutura econômica do país, como alguns autores afirmam, toda ela deveria ser trocada por outra – uma socialista. Dessa forma, nega-se a importância da revolução nacional, explicou.
“No Brasil, o problema do racismo é, fundamentalmente, um problema do imperialismo”, sublinhou.
“Se você define o racismo no Brasil como estrutural, você dá a ele uma solidez que ele não tem. Se o racismo é estrutural, você tem que eliminar a estrutura toda para que ele deixe de existir”, acrescentou.
“Com uma política baseada nisso, vamos acabar chegando à conclusão de que só o socialismo é capaz de acabar com o racismo. E isso está errado”.
A Revolução de 1930, de caráter nacional e não socialista, tomou medidas para incorporar os negros no mercado de trabalho, valorizando o trabalhador brasileiro e negro, lembrou Carlos Lopes.
“Ninguém tem dúvida de que o racismo no Brasil tem relação direta com o passado escravista. Mas são duas coisas diferentes e aplicar os critérios da escravidão no racismo acaba aliviando o racismo”, avaliou.
“O racismo é exatamente o sentimento em relação à raça, particularmente pela cor, que se mostra sem as relações escravistas. Isto é, dentro do modo de produção capitalista”, continuou.
Luiz Gama, como citou Carlos Lopes, travava, dentro do Partido Liberal, a luta contra a escravidão através da luta contra a monarquia.
O autor ainda ressaltou que o racismo sempre tem características nacionais e sua análise para o caso brasileiro deve considerar a participação dos negros na construção do país e da conformação de seu povo.
Ele ainda rebateu as correntes teóricas que subestimam a importância da abolição e da proclamação da República nas condições de vida dos negros.
“Por um acaso a monarquia e a escravidão eram melhores para os pobres, negros e mulheres do que a abolição e a República? É óbvio que não”, pontuou.
Já o identitarismo, disse, “não é a afirmação de uma identidade, mas a negação da identidade nacional. Você nega a identidade nacional para afirmar que você é negro, mas o negro fora da identidade nacional não tem significado”.
A mediação do debate foi feita pelo presidente do CNAB, Alfredo de Oliveira Neto.
Irapuan Santos, vice-presidente do Congresso Nacional Afro-Brasileiro, sublinhou que séculos de luta dos negros e brancos contra o racismo já renderam frutos na melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro.
“É claro que estamos debaixo de um capitalismo selvagem, discricionário e que joga para esmagar a classe operária e os trabalhadores, mas não estamos na escravidão”, disse. Irapuan rechaçou a tese identitária de que a abolição não teve importância para os negros.
Lucca Gidra, presidente da UMES, destacou a importância da juventude, que é bombardeada pela ideologia neoliberal, no debate sobre racismo. Ele citou a participação histórica do movimento universitário na luta antirracista e lembrou de Castro Alves, o poeta da abolição, que faleceu ainda jovem, aos 24 anos.
Ubiraci Dantas, vice-presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e diretor do CNAB, defendeu que negros e brancos devem se juntar na luta pela libertação nacional, dentro da qual a luta contra o racismo se insere.
A diretora do CNAB, Cleide Almeida, citou a importância da luta do professor Eduardo de Oliveira, fundador da entidade, ex-vereador de São Paulo e autor do Hino à Negritude.
Estiveram no evento o presidente do Sindicato dos Escritores de São Paulo, Nilson Araújo, a coordenadora da Cátedra Cláudio Campos da Fundação Maurício Grabois, Rosanita Campos, a fundadora do movimento Cientistas Engajados e secretária do Ministério de Ciência e Tecnologia, Mariana Moura, o editor-geral da Hora do Povo, Clóvis Monteiro, o presidente do Centro Popular de Cultura (CPC) da UMES, Valério Benfica, o cineasta Caio Plessmann, o coordenador estadual da Juventude Pátria Livre, Marcos Khauê, e o secretário adjunto de juventude do PCdoB, Gabriel Alves.