Carnaval leva foliões às ruas de São Paulo e blocos criticam falta de apoio da Prefeitura

Chico César se apresenta no Ibirapuera - Foto: Prefeitura de São Paulo

Os desfiles dos blocos de rua do carnaval da capital paulista tiveram início neste fim de semana com apresentações de grandes artistas, como Alceu Valença, Chico César e alguns dos chamados “megablocos” da cidade. Entretanto, os primeiros dias de carnaval foram marcados por públicos menores que os dos anos anteriores e criticas à Prefeitura por parte dos organizadores dos blocos.

Blocos tradicionais da cidade apontam dificuldades para a captação de patrocínios e falta de diálogo com a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) que só realizou a licitação dos patrocinadores oficiais duas semanas antes do início do carnaval. Ao menos 130, dos cerca de 600 blocos programados para 2024, cancelaram o desfile por falta de apoio e recursos para colocar a festa na rua.

Entre os desistentes, estão blocos que costumam arrastar multidões às ruas, como o bloco “Meu Santo é Pop”, “Domingo Ela Não Vai”, “Jegue Elétrico” e “Lua Vai”. Segundo os promotores do evento, a demora da gestão Nunes para definir o patrocinador oficial neste ano foi um dos entraves enfrentados. O resultado da licitação só foi divulgado em 16 de janeiro – duas semanas antes do início dos desfiles.

Além disso, as limitações de horários e restrições impostas por parte da Polícia Militar, que passou a determinar os limites de horário para dispersão dos desfiles também são alvo de crítica. Segundo a orientação da PM, os desfiles deverão ter no máximo 4 horas e devem ser encerrados impreterivelmente até as 18h e as vias liberadas até 19h, sob risco de multa aos blocos e uso da força pela polícia.  

O ex-secretário de Cultura da cidade de SP, Alê Youssef criticou o prefeito pelo “apagão” na organização do Carnaval da cidade. “Já temos a informação de que são 133 blocos cancelados e o número está crescendo”, disse ao UOL. “Por que isso está acontecendo? Primeiro, tiraram a dimensão cultural do Carnaval de rua da cidade”. A gestão do evento, segundo Youssef, prescindiu da participação da cultura, “que deveria tá a frente disso”. “O Carnaval é um evento eminentemente da cultura”, ressaltou Youssef, que foi secretário da Cultura durante a gestão Bruno Covas.

“Edital de patrocínio lançado na última hora que bagunçou o mercado, porque não deu tempo paras as marcas escolherem seus investimentos a partir da decisão de quem é o patrocinador oficial do Carnaval” foi outro problema apontado pelo ex-secretário. “O terceiro fator muito importante é a ingerência das forças de segurança na produção da festa”, avaliou. “De repente, você tem a Polícia Militar, que tem função importante em eventos públicos como este, dizendo o que pode e o que não pode fazer”, comentou o produtor cultural.

TODO PODER AOS PATROCINADORES

O Carnaval de Rua de SP viveu uma explosão na última década com o aumento do número de desfiles e milhões de foliões indo às ruas. Rapidamente a festa tornou-se o principal evento popular e comercial da cidade, mobilizando mais de 16 milhões de pessoas ao longo da festa e movimentando cerca de R$ 5 bilhões ao ano.

As mudanças adotadas no último período, no entanto, impactam de forma negativa o evento. A AmBev, patrocinadora oficial do carnaval, passou a tomar decisões que antes eram tomadas pela Prefeitura e até mesmo o cadastro dos vendedores ambulantes e a definição até dos refrigerantes que são vendidos nos blocos ficou a cargo da patrocinadora.

Por determinação da AmBev, os ambulantes são obrigados a vender exclusivamente refrigerantes com adoçante, além da marca determinada de cerveja, sob pena de confisco das mercadorias.

“Houve uma burocratização (da política para os blocos) excessiva. Dez anos atrás, a política pública promovia a um diálogo com os blocos. Hoje isso não existe mais”, avalia a fundadora do bloco Ritaleena, Alessandra Camarinha. “Hoje, isso não existe mais. A prefeitura organiza o carnaval como uma Virada Cultural”, comparou.

Emerson Boy, fundador do Bloco Jegue Elétrico, existente há 24 anos, conta que desde o início o bloco sempre saiu nos quatro dias de carnaval, porém, no ano passado, foi preciso diminuir um dia para viabilizar o desfile. Em 2024 a ideia era continuar com os três dias, mas também foi preciso desistir de mais um dia. “Eu inscrevi o bloco em três dias e pensei em desistir de dois, mas consegui desistir de só um. Tudo por questão financeira. E porque o edital definindo quem ia bancar o carnaval demorou para sair. Por isso ficamos indeciso para conseguir apoios, correr atrás de patrocínios. É tudo muito fechado, mal organizado por essa prefeitura”, criticou em entrevista ao Brasil de Fato.

O carnavalesco alega que há muitas dificuldades em colocar um bloco na rua e ressalta que a organização não tem retorno financeiro. “Nós fazemos um esforço para trabalhar pelo carnaval da cidade, trazer esses momentos de felicidade para os foliões, para o povo de São Paulo, para ocupar as ruas e humanizar as ruas com alegria. O carnaval é uma festa muito grande para a cidade, por isso estamos tristes, porque não recebemos nenhum apoio”.

PREFEITURA

Segundo a prefeitura, o Carnaval de Rua 2024 tem número recorde de blocos confirmados, com 536 desfiles, 16% a mais do que no ano passado, e está com toda a infraestrutura organizada para receber os mais de 15 milhões de foliões esperados para este ano.

O patrocínio geral será da Ambev, que venceu a licitação ao apresentar o lance de R$ 26,6 milhões no pregão realizado pela prefeitura no dia 16 de janeiro. Os valores servem para cobrir os custos da prefeitura com a realização do evento. No caso dos blocos, o patrocínio é individual.

“Os blocos captam diretamente os patrocínios com as empresas. É bom deixar claro que não é a prefeitura que faz o pagamento para os blocos do carnaval de rua. Os blocos são autônomos, independentes, e o recurso que eles buscam, e sempre buscaram, foi direto do privado. Agora, se o privado resolve não patrocinar, aí a prefeitura não tem o que fazer”, disse o prefeito Ricardo Nunes.

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