Nas duas noites de desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial, dias 9 e 10, evoluíram pelo Sambódromo do Anhembi 12 escolas. Depois da Independente Tricolor, que abriu a primeira noite, vieram Unidos do Peruche, Acadêmicos do Tucuruvi, Mancha Verde, Acadêmicos do Tatuapé; a campeã do carnaval do ano passado, Rosas de Ouro e Tom Maior.
No sábado, a primeira escola, X-9 Paulistana, brilhou com um enredo com base nos ditos populares: “A Voz da Samba é a Voz de Deus. Depois da Tempestade Vem a Bonança!”. A X-9 fez um alerta contra a traição, abrindo o desfile com um Cavalo de Troia, “Presente de grego” e, fazendo referência ao grave momento nacional, trouxe, em um dos carros alegóricos, uma crítica aos que ocupam o poder, que se tornou centro dos desmandos: a “Casa de Mãe Joana”.
A seguir vieram Império de Casa Verde, Mocidade Alegre, Vai-Vai, Gaviões da Fiel, Dragões da Real e a Unidos de Vila Maria que encerrou o desfile.
A Acadêmicos de Tatuapé, que venceu o desfile de 2017 com uma referência à “Mãe África”, voltou com vontade de levar o bicampeonato e, com o colorido das fantasias, como as que brilharam nas evoluções de Diego e Jussara, mestre-sala e porta-bandeira e a luz de seus carros alegóricos, veio trazendo novamente o tema, desta vez destacando o Maranhão. O maior dos carros trazidos pela escola para o sambódromo foi o navio negreiro. Nas estrofes, o samba-enredo ressalta a luta dos escravos por liberdade e a força da cultura de origem africana no Brasil, como dito nos trechos:
“Herança de luta, cultura e amor/ ÔÔÔÔ, o negro clamou/ A liberdade…” e “Ô luar, Ô luar/ Deixa a gira girar…/ Crioula hoje tem canjerê, feitiçaria/ Ô Jejê Nagô, Kaô meu pai Xangô”.
A escola de Tatuapé participou com uma ala composta por integrantes do balé de Paraisópolis.
A Império da Casa Verde foi buscar inspiração na Revolução Francesa para tratar da situação vivida pelos brasileiros, ao condenar as regalias da nobreza mergulhada na corrupção:
“Sem desfrutar da riqueza/…/ No ‘Reino das Regalias’/ A poesia é nossa arma pra lutar / Contra o carrasco da injustiça” e prossegue: “Na monarquia impera a corrupção / E nos banquetes, toda a fidalguia/ Desperta a insatisfação/ É chegado o momento, surge um movimento / A batalha acabou de começar / Na alma da gente a esperança continua/ Vem pra rua / Nas esquinas e tabernas / Ecoa o grito da revolução / Na luz dos ideais de liberdade / O ‘miserável’ se declara cidadão”.
Fecha o desfile da Casa Verde, o carro alegórico com um gigantesco tigre, símbolo da escola e da incansável esperança: “Igualdade segue junto derrubando as ‘Bastilhas’ / Um ‘sonho sonhei’ em que a lei era dignidade /…/Tigre guerreiro não cansa / Vai à luta de novo/ Teu sangue azul é cara do povo”.
A Unidos de Peruche prestou homenagem ao compositor Martinho da Vila, ressaltando a sua pesquisa no continente africano por ritmos novos e similares e o seu bairro, Vila Isabel, berço também, ressalta o samba, do grande Noel Rosa.