“Marcas de sangue no chão, os gritos pedindo socorro, o corpo inerte de João Alberto me desperta um sentimento de profunda repulsa e vergonha”
Revolta, choro e dor
MAMEDE SAID FILHO (*)
Revolta, choro e dor. Não há outra reação possível vendo as cenas brutais de espancamento contra João Alberto, um homem negro, pobre, que foi imobilizado, barbaramente agredido e asfixiado por seguranças do Carrefour, em Porto Alegre.
O vídeo não deixa dúvidas: dois homens brancos utilizam toda a força possível contra um homem rendido, que é surrado como se fosse… não um animal, pois nem os animais são sacrificados assim com tal crueldade.
Marcas de sangue no chão, os gritos pedindo socorro, o corpo inerte de João Alberto me desperta um sentimento de profunda repulsa e vergonha. Nada de que o acusem justifica tamanha violência! O Brasil é um país que discrimina a maior parte de seu povo e no qual as autoridades acham “normal” matar os mais pobres. Ao invés de anunciar providências enérgicas, os governantes procuram minimizar o ocorrido.
Houve um crime de ódio, tão brutal quanto o assassinato de George Floyd, que mobilizou as pessoas mundo afora, inclusive no Brasil. Qual será a reação das instituições e da sociedade diante dessa barbárie? As mortes ocorrem todos os dias, mas dessa vez as cenas foram gravadas e circularam amplamente.
Será isso suficiente para deter a indiferença que acomete amplos segmentos da população? Ou nos tornamos, como povo, insensíveis e desprovidos de humanidade? No Dia da Consciência Negra, o assassinato de João Alberto escancara a truculência contra o povo negro. Revoltante, inaceitável.
(*) Mamede Said Filho é professor e ex-diretor da Faculdade de Direito da UNB
Eu gosto de ler as analises precisas e pontuais de Mamede Said Filho, amigo antigo desde Cuiabá, ao lado de Dante de Oliveira, nas Diretas Já, Fiquei alegre de encontra-lo aqui no HP, um jornal que desde a ditadura sempre levou informação confiavel por este Brasil afora em momentos dificeis, como estamos nestes tempos bolsonaricos.