Assessor especial do presidente chamou a proposta europeia de neocolonial. Para Lula, Brasil não vai abrir mão de sua reindustrialização
O presidente Lula afirmou, em entrevista coletiva nesta quinta-feira (22) na Itália, que a proposta da Europa para o acordo com o Mercosul “não está em conformidade com o que os nossos países alemejam”.
“A carta adicional que a União Europeia mandou para o Mercosul é inaceitável”, disse Lula. O tema foi alvo de discussão durante a visita do presidente a Roma e estará no centro do debate com o presidente francês, Emmanuel Macron, na França nesta quinta-feira.
“Vocês sabem que tem uma proposta de acordo (entre UE e Mercosul). Essa proposta ainda não está em conformidade com aquilo que os países da América Latina, como o Brasil, que quer ter o direito de recuperar a sua capacidade de industrialização, deseja”, enfatizou o presidente. “A carta adicional é inaceitável porque eles colocam punição para qualquer país que não cumprir o Acordo de Paris, mas eles não cumprem”, acrescentou Lula.
Segundo Lula, a proporção do PIB no setor industrial é de apenas 10%. “Isso significa que o Brasil se desindustrializou”, constatou. Lula ainda foi contundente. Para ele, a proposta coloca punição a qualquer um que não cumpra o Acordo de Paris. Mas alertou: “Nem eles cumpriram”. Para o brasileiro, é necessário “mais humildade e sensibilidade” por parte dos europeus.
“Não cumpriram o Acordo de Paris, o Protocolo de Quioto, a decisão de Copenhagen, ou seja, nós precisamos de um pouco mais de sensibilidade, um pouco mais de humildade”, disse Lula.
“Vou estar na França e pretendo conversar com o presidente Macron, porque a França é muito dura na defesa dos seus interesses agrícolas. É importante a gente convencer a França que é maravilhoso que eles defendam a sua agricultura, mas eles têm que entender que os outros também têm o direito de defender seus interesses. É preciso que todos abram mão de seu preciosismo e do seu protecionismo’, afirmou o presidente.
Na opinião de Celso Amorim, assessor especial da presidência, o Brasil não aceitará um acordo “neocolonial” com os europeus.
“A questão agrícola, porém, não é o único problema”, disse Amorim. Segundo ele, “uma das questões é o capítulo sobre licitações públicas, avaliadas em mais de US$ 150 bilhões no Brasil a cada ano”. Pelo pacto, esse mercado estaria aberto para as empresas europeias, ameaçando a capacidade de concorrência das indústrias nacionais. O Brasil, agora, quer rever essas condições.
“É muito bom ter um acordo com a União Europeia, até para ajudar no equilíbrio mundial e para o nosso equilíbrio. Não queremos só China e EUA. Mas não pode ser uma relação neocolonial”, disse Amorim. Para ele, o processo negociador precisa ser retirada dos negociadores comerciais e ser tratado no nível político.