Os bancos brasileiros continuam praticando as maiores taxas de juros de cartão crédito do mundo, revelou pesquisa da Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor.
Enquanto em países como os Estados Unidos e Portugal a taxa anual do rotativo do cartão de crédito não ultrapassa 30% – segundo dados dos bancos centrais de 2018 – no Brasil, a média entre os bancos é de 231% ao ano. A diferença também é gritante entre países latino-americanos e México: a Argentina, em segundo lugar no ranking, tem cobrança média de 53,20%, ou seja, cinco vezes menor.
Depois da Argentina, o Chile tem taxa média de 40,7%; seguido pelo Peru, com 40% e o México, com taxa de 36,2%. A menor taxa é a da Colômbia, média em 28,5% ao ano.
A soma dos juros dos seis maiores países do continente, inclusive, não chega nem perto do que é cobrado pelos bancos e operadoras de cartão no Brasil.
Essa agiotagem não regulada explica o fato de as instituições financeiras continuarem desfilando lucros astronômicos enquanto o país enfrenta uma das maiores recessões da sua história.
“Nossa taxa é absurdamente cara. Se utilizarmos como parâmetro todas as emissoras de cartão de crédito, a média sobe mais, chegando a 337%”, avalia o professor e coordenador da pesquisa, Filipe Pires. Ele associa a prática à alta taxa básica de juros (Selic) do país (6,5% ao ano) e isso torna “qualquer crédito mais caro”.
Os três maiores bancos privados do país (Itaú, Bradesco e Santander) concentram as operações de crédito entre as instituições bancárias, mas a oferta de crédito de lojas de varejo pode chegar a triplicar a já absurda taxa média dos cartões de crédito.
Os cartões ofertados pelas lojas de vestuário e acessórios – para compras exclusivas de seus produtos – chegam a cobrar taxas de juros de 791,19% ao ano. O cartão da popular Marisa, tem taxa de 568,46% ao ano e essas operações já garantem boa parte do seu faturamento – apesar de se tratar de uma rede de varejo de roupas femininas.
Sem ter para onde correr, as famílias a cada dia recorrem mais ao crédito para consumo de itens básicos, como alimentação e medicamentos. Dados recentes do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) mostram que a recessão fez crescer o endividamento e a inadimplência – que já atinge 42% da população. As dívidas bancárias correspondem a 51% desse total.