O governo Trump anunciou nesta semana o cancelamento do status de proteção temporária (TPS) a cerca de 200 mil salvadorenhos, a quem é dado um prazo para abandonar os Estados Unidos até setembro de 2019 ou tentar a loteria, enfrentando a burocracia na busca de documentos que os “legalizem”.
Conforme o Departamento de Segurança Nacional, o TPS foi ativado em 2001 após os terremotos que afetaram gravemente El Salvador no início daquele ano e que já não haveria mais justificativa para a sua continuidade. Os 200 mil beneficiários também são pais de cerca de 190 mil crianças nascidas nos EUA.
O diretor executivo da Assistência Jurídica da América Central, Anne Pilsbury, condenou a medida como um retrocesso, lembrando que “os Estados Unidos têm uma grande responsabilidade pelo alto nível de violência em El Salvador, já que financiou sua guerra de 11 anos”. Agora, ressaltou, “é inconcebível dar as costas às vítimas da violência, especialmente quando são vizinhos duros e legítimos e membros integrantes de nossas comunidades há quase 18 anos”.
Com um filho de 14 anos e outro de apenas 4, ambos nascidos nos EUA, Lindolfo Carvallo repudia as políticas migratórias de Trump: “nos trata pior que animais”. Em novembro do ano passado o governo Trump pôs fim ao TPS para 60 mil haitianos que chegaram aos EUA depois do terremoto de 2010 e para 2,5 mil nicaragüenses vindos em 1998 afetados gravemente pela devastação do furacão Mitch.
Faxineira de um centro comercial em Long Island, a salvadorenha Minda Hernández lembra que chegou no país quando tinha 28 anos, passando a “se matar de trabalhar para fugir da guerra”. “Tive que deixar o meu filho de um ano lá. Logo conheci o meu marido aqui e tive outro filho, Bryant, que é cidadão estadunidense e que agora tem 16 anos. Foi ele a primeira coisa que me veio à cabeça quando soube do fim do TPS. Como voltar sem nenhum futuro em meu país?”.
“Ficamos sem palavras e ninguém diz o que nos passará depois”, declarou Berta Soledades, salvadorenha beneficiária do TPS, durante UMA manifestação na porta da Casa Branca, onde se somou a outros imigrantes para rechaçar o cancelamento da medida. Depois de duas décadas no país, Berta diz que não está tão preocupada com a sua situação, mas com a da filha de oito anos, nascida em território estadunidense, caso seja deportada.
“Meus pais são imigrantes de El Salvador, ambos têm TPS. Soubemos que o TPS não será renovado e isso para nós é um pesadelo”, disse Rodman Serrano, estadunidense de 23 anos, trabalhador de um café em Long Island. “Foi devastador escutar a notícia, porém estávamos esperando porque o governo já separou muitas famílias. Vivemos com medo e agora o pesadelo se tornou realidade”, concluiu.
LEONARDO SEVERO