Popular rede de varejo teve prejuízo de R$ 342 milhões no ano passado e negocia rolar a dívida de R$ 1,6 bilhão com vencimento este ano
As Casas Bahia, rede de varejo muito conhecida, posicionada para venda de eletrodomésticos, eletroeletrônicos, móveis e informática, também indicou nos resultados de 2022 as mesmas dificuldades com as altas taxas de juros e o crédito, tanto para suas compras, como no impacto desses fatores nas vendas para as famílias com crescente endividamento e inadimplência, queda na renda e mais de nove milhões de brasileiros desempregados.
A Via, dona das Casas Bahia, encerrou o ano de 2022 com R$ 4,1 bilhões de dívidas, sendo que R$ 1,6 bilhão são dívidas com vencimento este ano de 2023, principalmente com bancos, como o Banco do Brasil e o Bradesco. O restante, R$ 2,5 bilhões, ou 60% da dívida, são debêntures a mercado com vencimento entre 2024 a 2029.
“Dado todo esse cenário macro que está acontecendo, a taxa de juros, o custo de investimento muito caro neste momento, chegamos à decisão de preservação de caixa”, declarou Roberto Fulcherberguer em março, até então CEO da varejista.
A Via operava um total de 1.133 lojas. A empresa, no final de 2022, apresentou números negativos. Prejuízo de R$ 342 milhões, uma piora de 15,2% em relação ao prejuízo em 2021.
A receita líquida da varejista em 2022 empatou com a de 2021 em R$ 30,89 bilhões, enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) teve um aumento de 251% para R$ 2,28 bilhões. Ainda assim, o resultado financeiro líquido da companhia ficou negativo em R$ 2,24 bilhões, uma piora de 84% sobre o indicador do ano anterior.
Assim como outras empresas, a Via atribui o resultado do ano passado principalmente à escalada dos juros, com o aumento da Selic, taxa básica da economia, que subiu de 2% ao ano para 13,75% ao ano nos últimos 24 meses, ou seja, um aumento de 587% que repercute em todas as outras taxas e que Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), acha que é normal.
De janeiro a dezembro de 2022, a receita bruta somou R$ 36,41 bilhões, praticamente estável no ano, A receita líquida de R$ 30,89 bilhões é igual a receita bruta, que soma todas as vendas, menos impostos (ICMS) e abatimentos, como descontos, sobre os valores da tabela de preços.
Um indicador do impacto desses resultados pode ser observado nas ações da companhia na bolsa de valores. Na quarta-feira (5), a ação operava na casa de R$ 1,70, acumulando queda de quase 30% somente em 2023. Levando-se em conta a cotação ao final de 2021, de R$ 5,25, a ação recua 68% desde o início do ano passado.
Na opinião do consultor Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail, conforme declaração à Folha de S. Paulo, “o atual momento do varejo de bens duráveis no Brasil é muito ruim”. “O setor é dependente de crédito especialmente para venda de eletrodomésticos, eletroeletrônicos, móveis e informática, seara da Via”, disse.
No último trimestre de 2022, por exemplo, o resultado financeiro da empresa ficou negativo em R$ 641 milhões, uma piora de 46% em relação a igual intervalo do ano anterior.
A subida dos juros reduz prazos e aumenta o custo do financiamento, assim como as parcelas para os clientes, o que impacta diretamente a demanda. “É um setor que dificilmente vai crescer no atual cenário”, completou o consultor.
A repercussão do fraco desempenho de 2022 e mesmo de 2021 está atingindo a renda de cada um dos cinco diretores estatutários da varejista. Em média, eles receberiam este ano R$ 19 milhões, conforme números consolidados de análise de empresa especializada, a pedido da Folha.
Com os resultados negativos, a empresa confirmou que o bônus de curto prazo não foi pago, “uma vez que não foi atingido o desempenho mínimo definido para o programa do ano”. E que “nos anos de 2021 e 2022 não houve efetivo exercício das opções do plano de incentivo de longo prazo”, segundo a reportagem da Folha.