Na terça-feira, dia 17, Sérgio Andrade, sócio do grupo empresarial e da empreiteira Andrade Gutierrez, em depoimento na Polícia Federal (PF), confessou que sua empresa assinou um contrato-fantasma de R$ 35 milhões com uma empresa de um amigo de Aécio Neves, Alexandre Accioly, para repassar recursos ao então presidente nacional do PSDB.
Na quinta-feira, dia 19, Joesley Batista confessou à PF ter passado R$ 110 milhões para Aécio Neves, na campanha eleitoral de 2014. O capo da JBS entregou à polícia uma planilha com as propinas, notas fiscais e recibos que provam a passagem da propina para Aécio. Em troca, Aécio prometeu, swe eleito presidente, a continuar o favorecimento à JBS, iniciado pelo PT.
Joesley declarou, também, que, entre 2015 e 2017, passou R$ 50 mil por mês ao então presidente nacional do PSDB. Esse dinheiro foi pedido por Aécio a Joesley Batista e foi transferido através da Rádio Arco Íris, de que Aécio era sócio.
Batista apresentou 16 notas fiscais em que a JBS pagou por “serviços de publicidade” à Rádio Arco Íris, como patrocínio do programa radiofônico “Jornal da Manhã”. O valor total dessas notas fiscais é de R$ 864 mil.
SANTO ANTÔNIO
O contrato-fantasma com a empresa do amigo de Aécio aparecera, primeiramente, no depoimento de Flávio Barra (presidente da Andrade Gutierrez Energia), que dissera à PF que a sociedade com Accioly nunca existiu. Era apenas um modo de passar dinheiro para Aécio.
O depoimento de Sérgio Andrade, na terça-feira, foi tomado pela PF no inquérito sobre a propina passada para Aécio em troca de apoio à Andrade Gutierrez e Odebrecht no açambarcamento – com sobrepreços e superfaturamentos – das obras da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira.
Andrade confirmou o depoimento de Marcelo Odebrecht, de que a Andrade Gutierrez e a Odebrecht se acertaram para passar a propina a Aécio.
O objetivo era usar a influência política de Aécio para que a Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig) e Furnas, sócias da Usina Santo Antônio, favorecessem a Odebrecht e a Andrade Gutierrez.
Na época em que Aécio pediu a propina, ele estava no governo de Minas Gerais, que é proprietário da Cemig, e exercia influência em Furnas, estatal federal, através de Dimas Toledo, diretor de Planejamento, Engenharia e Construção da empresa, mantido no cargo, a partir de 2003, por acordo entre o então governador tucano e o PT.
Segundo o depoimento de Marcelo Odebrecht, Aécio recebeu uma propina total de R$ 50 milhões, no caso da Usina Santo Antônio.
QUADRILHAS
Joesley Batista afirmou, em seu depoimento, que uma parte dos R$ 110 milhões que passou para Aécio em 2014, era destinada ao PTB (R$ 20 milhões) e ao Solidariedade (R$ 15 milhões).
Além disso, Joesley relatou que Aécio pediu mais R$ 18 milhões, supostamente para cobrir dívidas da campanha. O dinheiro foi passado através da compra de um prédio em Belo Horizonte (MG).
Na terça-feira passada, Aécio se tornou réu na ação sobre a propina de R$ 2 milhões da JBS, registrada em gravação realizada pela PF. Existem mais oito processos contra ele, em fase de inquérito, todos por corrupção.
No mesmo dia, o deputado Osmar Serraglio (PP-PR) afirmou, em discurso na Câmara que, quando era ministro da Justiça de Temer, foi pressionado por Aécio e por Renan Calheiros (PMDB-AL), para impedir que a PF continuasse a investigar o presidente do PSDB.