Lutamos pela nossa aposentadoria, afirmou
Diretor-geral da PF não deixa o presidente da Câmara esquecer que é alvo da Lava Jato
O recado do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, ao governo Temer e ao Congresso Nacional foi muito claro. Ele fez ver a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, em reunião realizada na terça (28), para debater as mudanças nas regras da Previdência, que tirar direitos de policiais federais neste momento só interessa aos corruptos e aos criminosos do colarinho branco. “Os integrantes da corporação não podem perder direitos na reforma da Previdência”, disse ele. “Perder direitos neste momento seria péssimo para o policial, que hoje enfrenta a corrupção, enfrenta diversos problemas no país”, destacou Segovia.
Rodrigo Maia tentou enrolar o comandante da PF convidando-o para um café da manhã em sua residência oficial. Estavam lá com Maia, além do bando de puxa-sacos de Temer, um tal “consultor do mercado” – leia-se porta-voz das arapucas que querem assaltar os cofres que guardam os recursos dos trabalhadores e dos empresários – para ajudar a convencer os parlamentares e os demais participantes do encontro de que é muito bom para o Brasil tirar direitos dos aposentados e surrupiar a Previdência Social.
RETALIAÇÃO
A intenção do parlamentar carioca, que já foi citado na Operação Lava Jato, e, inclusive consta na planilha de propina da Odebrecht, com o codinome de “botafogo”, era ganhar o apoio da direção da PF para o ataque aos direitos dos trabalhadores em geral e dos policiais federais em particular. A resposta de Segovia não agradou Maia. “Lutamos pelo direito à aposentadoria porque sofremos mortes em combate. Viemos defender o direito dos policiais federais no Brasil. Cada categoria tem suas atribuições e seus papeis. Eu estou defendendo o dos policiais no que se refere a aposentadoria e paridade”, disse. “Nossa proposta é negociar para chegar a um ponto de equilíbrio tanto para o policial como para o governo lidar com a crise econômica”, prosseguiu o delegado.
Maia, junto com Temer e Meirelles, é um dos serviçais mais empenhados em agradar os banqueiros e outros especuladores que estão de olho gordo no dinheiro da Previdência Social. “Estamos discutindo a questão da idade mínima”, informou o comandante da PF. Ao sair do encontro, o chefe da PF disse aos jornalistas que conversou bastante com Maia, sobre as regras previdenciárias para policiais. Ele deve ter alertado o interlocutor dos bancos de que as entidades que representam os policiais federais não estão paradas. Elas estão convocando mobilizações junto com as centrais sindicais e demais entidades contra o assalto à Previdência.
CARREIRA
“Estamos negociando qual será a regra para os policiais, porque a gente não pode perder os direitos que hoje existem dentro desse regramento. Estamos trabalhando. Há no Congresso essa proposta de 55 anos para o policial. Então, a gente está negociando hoje com o Congresso Nacional qual vai ser a regra para o policial no Brasil”, afirmou Segovia. No início da tramitação da reforma, a idade miníma para policiais era 65 anos, mas, após protestos de entidades ligadas à categoria, o relator na Câmara, deputado Arthur Maia (PPS-BA), mudou o limite para 60 anos. Agora eles acenam com 55 anos.
O diretor da PF apontou claramente para Maia que os policiais vão seguir combatendo a corrupção e que não aceitarão perder direitos. Vão encarar a perda de direitos como uma retaliação dos corruptos. “Os policiais sofrem bastante ao longo da carreira. Particularmente neste momento em que vive o Brasil. Eles estão exercendo um papel fundamental no combate à corrupção e em ações de segurança pública”, lembrou. Mesmo acenando em limitar a idade mínima em 55 anos, os policiais federais não apoiam a proposta do governo. Eles dizem que, ao mesmo tempo que falam da idade, ampliam o tempo de contribuição e limitam os ganhos dos policiais.
“A gente está lutando pelo nosso direito, a aposentadoria”, argumentou o comandante da PF. “O policial ao longo da carreira sofre bastante, a gente vê os policiais mortos no combate, a dificuldade da segurança pública no país”, acrescentou. “Estamos negociando hoje com o Congresso Nacional qual vai ser a regra para o policial no Brasil”, afirmou Segovia, depois do encontro com Maia, que, assim que perder o foro privilegiado que tem hoje, vai ter muitas conversas, mas de outro tipo, com os delegados da PF.
Sabedor de que os policiais federais já disseram publicamente que estarão nas manifestações populares, não para reprimir, como gostariam os quadrilheiros de Temer, mas para apoiar a luta dos trabalhadores, Maia tentou inutilmente enquadrar o diretor-geral da PF. Este não deu bola e seguiu defendendo que a PF seja contemplada com a “integralidade”, que é o policial se aposentar com o mesmo salário da ativa, possibilidade que a reforma não prevê para os servidores que ingressaram na carreira depois de 2013.
Inclusive, em nossa edição anterior (HP Ed. 3.592), representantes da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) deixaram claro que não estão satisfeitos com a política do governo. Eles afirmaram em alto e bom som que se somarão à Greve Geral, convocada pelas centrais sindicais no próximo dia 5 de dezembro, contra os ataques à Previdência. De acordo com Luis Antônio Boudens, presidente da Federação, os policiais irão realizar essa semana ações como videoconferência com a participação de lideranças de diversas categorias dos servidores federais para traçar estratégias de combate à “reforma” da Previdência e a Medida Provisória 805/2017, que suspende a recomposição salarial para diversas categorias do serviço público federal. Para Boudens, os “policiais federais vão reagir à insistência do Governo Federal de avançar com o desmonte do serviço público”.
ELEIÇÕES
Um dos puxa-sacos de Temer presentes na reunião afirmou que as demandas da PF dificilmente serão atendidas. “Não devemos mexer. Se abrir esse flanco, vamos entrar em guerra com outras categorias. As polícias já estão atendidas”, disse Pauderney Avelino (DEM-AM). De acordo com Segovia, será preciso encontrar um “ponto de equilíbrio entre a necessidade e o direito do policial”. Diante da posição da PF, de não ceder e seguir defendendo os seus direitos, inclusive idade menor para as mulheres da corporação, alguns deputados saíram bastante desanimados da reunião de Maia com a possibilidade de aprovar a reforma. “Saí como entrei, achando que essa reforma não vai ser aprovada. Agora vão começar as pressões. Se ceder para um, terá que ceder para todos. O governo tem que tomar cuidado. Para o mercado, é melhor não votar agora do que ver a reforma derrotada”, disse o líder do PR na Câmara, José Rocha (BA).
Apesar da falta de votos, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), um dos mais citados em casos de corrupção, e que foi vaiado por todos os passageiros num voo de carreira esta semana, ao tentar agredir uma repórter que o abordava, insistiu que a Câmara tem que votar a reforma da Previdência ainda neste ano. Para o membro da quadrilha de Temer, quanto maior a proximidade da análise do tema com as eleições, marcadas para outubro do ano que vem, maior a dificuldade para a aprovação do projeto. Ou seja, mais difícil será o roubo que eles pretendem perpetrar contra a Previdência Social.
SÉRGIO CRUZ