Castro diz que foi “um sucesso” operação com chacina de 121 e chefe de facção foragido

Governador do Rio de Janeiro (Foto: Fernando Frazão - Agência Brasil)

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), disse que a operação policial que deixou mais de 120 mortos nos complexos da Penha e do Alemão foi “um sucesso”, mesmo com o principal alvo, o chefe do Comando Vermelho chamado “Doca”, foragido.

Ao detalhar o “plano” para a incursão nas comunidades, a Polícia Militar do Rio de Janeiro falou sobre o “mudo do Bope [Batalhão de Operações Especiais]” que foi formado na área de mata. A intenção do governo de Cláudio Castro era encurralar e executar todos que subissem para a área.

Com mais de 120 mortos, as polícias do Rio de Janeiro não conseguiram pegar Edgard Alves de Andrade, vulgo “Doca” ou “Urso”, que é o principal líder do Comando Vermelho em liberdade. Doca era, supostamente, o principal alvo da Operação Contenção.

O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, Victor Santos, disse que a prisão de Doca não ocorreu por conta de uma “estratégia” dos criminosos. 

“Ele bota os soldados como mais uma barreira para poder impedir a sua prisão, a gente tem toda essa dificuldade”, relatou. 

De acordo com o bolsonarista Cláudio Castro, a operação foi planejada por 60 dias, contou com mais de 2.500 agentes e não foi capaz de prender Doca, mas foi “um sucesso”. “Tirando a vida dos policiais, o resto, a operação foi um sucesso”, insistiu.

Já surgem relatos de que parte dos mortos pela polícia do Rio de Janeiro eram inocentes. O deputado federal e pastor Otoni de Paula (MDB-RJ) fez um discurso contando que “só de filho de gente da igreja eu sei que morreram quatro ontem. Meninos que nunca portaram fuzis, mas sei que estão sendo contados no pacote, como se fossem bandidos”.

“Sabe quem é que vai saber se são bandidos ou se não são? Nunca, ninguém vai atrás. Preto correndo em dia de operação na favela é bandido. Preto com chinelo e sem camisa pode ser trabalhador – correu, é bandido. É fácil para quem está no asfalto e não conhece a realidade da favela subir nesta tribuna e dizer ‘que bom, matou’”, continuou o pastor.

A Defensoria Pública relatou que foi impedida de acompanhar as perícias dos corpos de vítimas de operações policiais no IML. Rafaela Garcez, coordenadora da Defesa Criminal da Defensoria Pública do RJ, disse ao UOL News, que o órgão buscará na Justiça o cumprimento das regras e o acesso às investigações.

“A Defensoria Pública está aqui presente para fazer todo esse acolhimento [às famílias] e também auxiliar na burocracia para que haja o sepultamento. Estávamos aqui na intenção de acompanhar as perícias desses corpos e fomos impedidos de ingressar”, contou Rafaela Garcez.

“Infelizmente, alguns [corpos] que vi enfileirados aguardando remoção apresentavam marcas [de tortura]”, disse à BBC News Brasil Fabiana da Silva, da ouvidoria da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.

Joyce, esposa de Aleilson da Cunha, 26 anos, lamentava sobre a filha de seis anos do casal já ter tomado conhecimento de que o pai morreu.

“Eu tentei negar, mas ela disse: mamãe para de mentir, eu sei, já sei que meu papai morreu. Como que eu vou falar que não?”, contou à BBC.

O fotógrafo Bruno Itan, também em relato à BBC, chama atenção para o número de corpos que foram mortos a facadas.

“Isso não é normal. Provavelmente, é a maior operação da história desse país”, diz Itan, lembrando do massacre do Carandiru, quando 111 detentos foram mortos para conter uma rebelião na Casa de Detenção de São Paulo, em 1992.

“[Corpo] estava sem cabeça, corpos totalmente desconfigurados, mesmo […] sem rosto, sem a metade do rosto, sem braços, corpos sem perna”, diz.

“E o que me chamou muita atenção são muitos corpos com facadas, tem muitas fotos que dá pra ver que foi arma, efeito de arma branca, entende?”

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *