MARIA DO ROSÁRIO CAETANO
(Da Revista de Cinema)
Catorze dos mais de cem pré-candidatos ao Oscar (categoria “melhor produção internacional”) apresentados à Academia de Hollywood estão na programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece de forma presencial (e, parte, on-line) até dia 3 de novembro.
Além do brasileiro “Deserto Particular”, de Aly Muritiba, os “mostreiros” poderão assistir ao francês “Titane”, de Julia Docournau, ao finlandês “Compartment No. 6”, de Juno Kuosmamn e ao iraniano “Um Herói”, de Ashgard Farhadi, títulos muito bem colocados nas listas de apostas como favoritos.
Poderá assistir, também, ao austríaco “Great Freedom”, de Sebastian Meise, ao islandês “Lamb”, de Valdimar Jóhannsson, ao maltês “Entre Águas”, de Alex Camilleri, ao suíço “Olga”, de Elie Grappe, ao esloveno “Samremo”, de Miroslav Mandic, ao polonês “Sem Deixar Rastros”, de Jan Matszynski, ao indonésio “Yuno”, de Kamila Andini, ao búlgaro “Medo”, de Ivaylo Hristov, ao belga “Playground”, ao macedônio “Irmandade”, de Dina Duma, e ao georgiano “Bringthton 4th”, de Levan Koguashvili.
Uma presença curiosa: o longa colombiano “Memória”, indicado pela academia do país latino-americano, traz na direção o tailandês Apichatpong Weerasethakul (de “Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”, vencedor de Cannes 2010). E encabeçando o elenco, a britânica Tilda Swinton.
A Academia de Hollywood realizará sua nonagésima-quarta edição no dia 27 de março de 2022, portanto próximo a seu mês histórico (fevereiro) e de forma presencial. Esse ano, por causa da pandemia, a solenidade foi adiada para o final de abril e aconteceu em formato híbrido.
Aly Muritiba e seus produtores brasileiros (a curitibana Grafo) e portugueses (Fado Filmes) terão que enfrentar poderosos concorrentes. Além de “Titane”, dirigido por uma mulher, a francesa Julia Docournau, vencedora da Palma de Ouro, em Cannes, está no páreo outro peso-pesado – o japonês “Drive My Car”, de Ryusuke Hamaguchi. Este filme causou sensação no mesmo e badalado festival francês, no qual competiu na condição de um dos principais favoritos. Não levou a Palma dourada, mas ganhou o prêmio de melhor roteiro, foi o eleito da Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema) e o escolhido pelo Prêmio Ecumênico (produções que exaltam valores humanistas e solidários).
O novíssimo filme de Ryusuke, baseado em narrativa do festejado escritor Haruki Murakami, não está na programação da Mostra. Mas o anterior – “A Roda do Destino”, também de 2021, e laureado em Berlim com o Grande Prêmio do Júri (perdeu para o romeno “Má Sorte no Sexo ou Pornô Amador”) – integra a safra de 262 títulos selecionados pelo festival paulistano.
O realizador japonês, de 42 anos, tem quinze títulos em sua filmografia, alguns deles documentários feitos para a TV. Tornou-se, finalmente, substantiva descoberta ocidental, por feito raro – num mesmo ano, esse de 2021, foi premiado em Berlim (em fevereiro) e em Cannes (maio). Ou seja, no minúsculo prazo de três meses, ele foi selecionado e reconhecido por dois dos três mais importantes festivais do mundo.
Ryusuke Hamaguchi, nascido em Kanagawa e formado em Artes pela Universidade de Tóquio, tem tudo para seguir caminhos similares aos percorridos por Hirozaku Koreeda (Palma de Ouro com “Assunto de Família”), 18 anos mais velho que ele. “A Roda do Destino” nos serve como poderosa amostragem do que ele é capaz. Quem viu “Drive my Car” garante que este é melhor ainda.
Outros países já indicaram seus candidatos ao Oscar. Alguns (como Argentina, Chile, Rússia, etc) têm até primeiro de novembro para fazê-lo. A Academia Espanhola preteriu o novo Pedro Almódovar (“Mães Paralelas”) e optou por “O Bom Patrão”, de Fernando León de Aranoa, com Javier Bardem (Oscar de coadjuvante por “Onde os Fracos Não Têm Vez”) no elenco.
Aranoa, de 53 anos, é diretor de um filme de culto entre cinéfilos brasileiros – “Lunes al Sol” (Segunda-feira ao Sol), de 2002 (também com Javier Bardem). Dedicado a temas sociais, o madrilenho realiza filmes que têm muito em comum com o cinema do inglês Ken Loach.
A Academia Espanhola deve ter levado em conta, ao fazer sua escolha, que Almodóvar tem cacife para caminhar fora da categoria “melhor produção internacional”. Afinal, já ganhou Oscar de melhor roteiro (“Fale com Ela”) e melhor filme estrangeiro (“Tudo Sobre Minha Mãe”). Com uma Copa Volpi de melhor atriz, conquistada em Veneza, a “madre paralela” Penélope Cruz pode figurar entre as finalistas ao Oscar, junto a nomes norte-americanos e britânicos (forças hegemônicas).
Abaixo, a lista de filmes indicados, até agora, para disputar vaga entre os 15 semifinalistas, que serão conhecidos dia 21 de dezembro, cinco semanas antes do anúncio oficial – os cinco finalistas serão revelados no dia 8 de fevereiro.
OS PRÉ-CANDIDATOS QUE PODEM SER ASSISTIDOS NA MOSTRA:
Brasil – “Deserto Particular”, de Aly Muritiba;
França – “Titane”, de Julia Docournau;
Colômbia – “Memória”, de Apichatpong Weerasethakul;
Finlândia – “Compartment No. 6”, de Juno Kuosmamn;
Irã – “Um Herói”, de Asghar Farhadi;
Áustria – “Great Freedom”, de Sebastian Meise;
Islândia – “Lamb”, de Valdimar Jóhannsson;
Malta – “Entre Águas”, de Alex Camilleri;
Suíça – “Olga”, de Elie Grappe;
Eslovênia – “Samremo”, de Miroslav Mandic;
Polônia – “Sem Deixar Rastros”, de Jan Matszynski;
Indonésia – “Yuno”, de Kamila Andini;
Bulgária – “Medo”, de Ivaylo Hristov;
Bélgica – “Playground”;
Macedônia de Norte – “Irmandade” (“Sisterhood”), de Dina Duma;
Geórgia – “Bringthton 4th”, de Levan Koguashvili;
OS OUTROS JÁ ESCOLHIDOS:
Japão – “Drive my Car”, de Ryusuke Hamaguchi;
Espanha – “El Buen Patrón”, de Fernando Leon de Aranoa;
Alemanha – “I’m Your Man”, de Maria Schrader;
Coreia do Sul – “”Escape from Mogadishu”, de Ryoo Seung-wan;
Israel – “Let There Be Morning”, de Eran Kolirin;
Equador – “Submersible”, de Alfredo León;
Peru – “Powerfull Chief”, de Henry Vallejo;
Taiwan – “The Falls”, de Chung Mong-hong;
Albânia – “Three Lions Heading to Venice”, de Jonid Jorgji;
Armênia – “Should the Wind Drop”, de Nora Martirosyan;
Cambodja – “White Building”, de Kavich Neang;
Canadá – “Drunken Birds”, de Ivan Grbovic;
Croácia – “Tereza37”, de Danielo Serbedzja;
Eslováquia – “107 Mothers”, de Péter Kerekes;
Grécia – “Digger”, de Georgis Grigorakis;
Holanda – “Do Not Hesitate”, de Shariff Korver;
Hungria – “Post Mortem”, de Péter Bergendy;
Irlanda – “Shelter”, de Seán Breathnach;
Letônia – “The Pit”, de Dace Puce;
Lituânia – “The Jump”, de Giedre Zickyte;
Kossovo – “Hive”, de Blerta Basholli;
Malawi – “Fatsani: A Tale of Survival”, de Gift Sukez;
Marrocos – “Casablanca Beats”, de Nabil Ayouch
Quirguistão – “Shambala”, de Artykpai Suyundukov;
República Tcheca – “Zátopek”, de David Ondrícek;
Sérvia – “Oásias”, de Ivan Ikic;
Somália – “The Gravediggers’s”, de Khadar Ahmed;
Tunísia – “Golden Butterfly”, de Abdelhamid Bouchnak;
Ucrânia – “Bad Roads”, de Nataliia Vorozhhbyti.