O ex-dono da empreiteira Delta, o empresário Fernando Cavendish disse, nesta segunda-feira (4), ao juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, que o anel de R$ 840 mil comprado na Europa para a ex-primeira-dama do Rio de Janeiro, Adriana Ancelmo, a pedido do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), foi compensado com a inclusão de sua empresa nas obras de reforma do Maracanã.
O empresário relatou que foi levado à loja pelo próprio então governador do Rio, Sérgio Cabral. “Ele me disse que estava presenteando a esposa e gostaria que eu pagasse. Era um valor bastante significativo, 220 mil euros. Disse para ele que aquilo não era apenas um presente, que a gente teria que acertar. Deixei claro que aquilo não era apenas um presente. O Maracanã foi a contrapartida. Aquilo era um anel de compromisso entre mim e ele”, disse Cavendish, sobre a joia, segundo o empresário adquirida em Nice, França em 2009, na companhia de Cabral.
“Não teve nenhum obrigado pelo presente, o assunto não foi nem comentado durante a viagem. Não ia presenteá-la com diamantes de tantos quilates, é até constrangedor. Aquilo foi literalmente um ato que tinha que ter uma contrapartida. E esse negócio foi o Maracanã. Pode ver que até as datas coincidem. A viagem foi no final de julho de 2009 e em outubro já estava pedindo a participação no Maracanã. Fica claro de ver que esse anel não foi um presente meu. Minha esposa nem ficou sabendo. Não houve presente, houve um negócio”, disse Cavendish.
Ainda segundo Cavendish, a Delta pagou propina de R$ 3,5 milhões a Cabral para entrar no consórcio, que incluiu a Odebrecht, para as reformas do Maracanã. No valor da propina para o ex-governador já estava descontado o anel. O empresário, que está em prisão domiciliar, também afirmou que sabia que estava sendo feito um cartel em todas as obras de estádios da Copa do Mundo.
O empresário declarou que era amigo há anos do então governador, mas que aquela viagem foi a primeira vez em que recebeu pedido de propina.
Cavendish prestou depoimento na ação penal que analisa se houve cartel nas licitações do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em favelas do Rio e da reforma do Maracanã.
Cabral já havia admitido que recebeu o anel, mas declarou que devolveu o “presente” em 2012.