Celso Amorim repudia intervenção dos EUA na Venezuela

Assessor da Presidência e ex-chanceler, embaixador Celso Amorim (Foto: Fabio-Rodrigues Pozzebom - Agência Brasil)

“Não podemos aceitar uma intervenção externa, pois isso incendiaria a America do Sul”, afirmou o assessor especial de Lula

O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, reiterou a posição do Brasil em relação à escalada de tensões no continente, em entrevista na sexta-feira (24) à agência de notícias AFP. Para ele, uma “intervenção externa” na Venezuela é inaceitável e “pode incendiar a América do Sul”. “Não podemos aceitar uma intervenção externa, pois isso provocaria um enorme ressentimento”, afirmou Amorim. “Isso poderia inflamar a América do Sul e levar à radicalização da política em todo o continente”, destacou o auxiliar de Lula.

Amorim expressou preocupação com os ataques americanos sem “nenhuma prova” contra embarcações de supostos traficantes de drogas no Caribe, perto do litoral venezuelano.

Antes, mesmo sem citar Trump, o presidente Lula fez uma série de críticas indiretas aos ataques, que agora se estenderam também ao Pacífico. “Você não está aí para matar as pessoas, você está para prender. Antes de punir alguém, é preciso julgar, ter provas. Você não pode simplesmente dizer que vai invadir o território de outro país. É preciso respeitar a Constituição, a autodeterminação dos povos e a soberania territorial”, disse Lula.

O presidente propôs até conversar sobre o tema com o líder americano, caso o mesmo toque no assunto: “Se a moda pega, cada um acha que pode invadir o território do outro para fazer o que quer. Onde é que vais surgir a palavra “respeitabilidade” à soberania dos países? Então eu pretendo discutir esses assuntos com Trump, se ele colocar na mesa”, observou o presidente Lula. “É preciso haver diálogo para buscar pontos de acordo sobre questões como as rígidas tarifas dos EUA”, disse ele, antes da reunião ainda não confirmada, que acontecerá paralelamente à cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Kuala Lumpur, na Malásia.

As ameaças de uma ação ainda mais agressiva dos americanos na Venezuela é grande. O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, anunciou na sexta-feira que militares americanos realizaram o 10º ataque contra uma embarcação suspeita de transportar drogas para os Estados Unidos. O ataque — primeiro deles realizado durante a noite, segundo as informações do Pentágono — matou seis pessoas, elevando o total de vítimas das operações americanas no Mar do Caribe e no Pacífico para 46, além de dois sobreviventes devolvidos a Colômbia e Equador.

Os Estados Unidos já sinalizaram interesse em remover Maduro do poder e estão usando o pretexto de combate ao narcotráfico para obter seus intentos. O objetivo do governo Trump não tem nada a ver com tráfico. Ele quer mesmo é se apoderar das reservas de petróleo da Venezuela, que são uma das maiores do mundo. Nesse contexto, Lula considera que que qualquer ação precipitada vai gerar instabilidade regional. O Brasil se apresenta como canal de mediação, capaz de garantir que a solução para a crise venezuelana seja conduzida por vias políticas e multilaterais, preservando a segurança e a estabilidade do continente.

As chantagens dos Estados Unidos aos países da América do Sul e Caribe se iniciaram logo após a posse de Donlad Trump. Ele já se insinuou sobre os minerais críticos do Brasil, já sancionou o presidente da Colômbia, enquadrou o regime fantoche da Argentina, ameaçou Cuba e quer mais. Na sexta-feira (24) o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, insinuou que o Brasil terá que optar no longo prazo entre China e Estados Unidos. Esta afirmação é demonstrativa de que os objetivos de Trump em relação ao Brasil pouco mudaram, apesar do aparente recuo em relação aos “entendimentos” com o presidente Lula. A China é atualmente o principal parceiro comercial do Brasil. É também o país com o qual o Brasil tem altos superávits comerciais, diferentemente do que ocorre com os EUA.

O presidente Lula aproveitou a viagem à Ásia, onde deverá se encontrar com o seu homólogo dos EUA, para criticar as atitudes imperialistas e as ameaças tarifárias da Casa Branca. Lula voltou também a defender, na Indonésia, que os países do BRICS (principais países do Sul Global) façam as trocas comerciais em suas moedas locais e deixem de depender do dólar. O presidente afirmou que o Brasil quer refinar minerais críticos em seu território, não os exportar como commodity. Esses minerais hoje são muito importantes para uso em equipamentos de alta tecnologia em áreas como comunicações e defesa e estão no centro da disputa geopolítica atual.

Lula disse ainda que o Brasil precisa mapear os seus recursos na área dos minerais críticos. “Apesar de termos somente 30% da riqueza mineral mapeada no país, já temos 10% das reservas de minerais críticos para a transição energética. A criação do Conselho Nacional de Política Mineral será um passo muito importante para garantir nossa soberania”, disse em fórum econômico em Jacarta, capital da Indonésia. “A experiência indonésia de incentivar o processamento do minério bruto em seu território é importante exemplo de como atrair investimento e gerar emprego. Não queremos reproduzir a condição de meros exportadores de commodities. Queremos agregar valor em nosso território, com responsabilidade ambiental e respeito às comunidades locais”, acrescentou o presidente. A fala acontece às vésperas de encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump, quando o assunto deverá entrar na pauta.

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