
“Não se trata de mera questão econômico-tarifária, mas, isso sim, de deliberado (e gravíssimo) ataque à democracia brasileira e a suas instituições, notadamente à Corte Suprema do Brasil”, escreveu o ministro aposentado do STF
Celso de Mello, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), considerou “gravíssimo ataque à democracia brasileira” a decisão do governo de Donald Trump de revogar os vistos de Alexandre de Moraes e outros sete membros da Suprema Corte.
Segundo ele, Trump atua em “acintosa coordenação” com as big techs. Classificou, ainda, o ato do governo norte-americano uma tentativa de deslegitimar instituições democráticas brasileiras.
“Não se trata de mera questão econômico-tarifária, mas, isso sim, de deliberado (e gravíssimo) ataque à democracia brasileira e a suas instituições, notadamente à Corte Suprema do Brasil”, escreveu o ex-magistrado.
E acrescentou:
“Ataque esse perpetrado pelo governo Trump, associado tanto à extrema direita bolsonarista (e aos ‘quislings’ seguidores de Bolsonaro) quanto à extrema direita internacional, em verdadeira e acintosa coordenação com as ‘big techs’, todos buscando desestruturar o nosso sistema de governo, legitimado pelo modelo de democracia constitucional que o povo de nosso País implantou após 21 anos de ditadura militar!”
“Torna-se necessário identificar, expor e punir [?] os ‘quislings’ nacionais que, destituídos de qualquer sentimento patriótico, conspiram contra os superiores interesses do Brasil e do seu povo”, continuou.
Ao fazer referência aos ‘quislings’, Mello remete à figura de Vidkun Quisling, norueguês que colaborou com o regime nazista e se tornou símbolo de traição à pátria.
O ministro aposentado considerou, ainda, que as “investigações da PF apontam que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) estaria conspirando para provocar reações hostis dos EUA ao Brasil. Após as apurações, Moraes determinou uma operação contra o ex-presidente e afirmou em sua decisão que Eduardo utiliza “negociações espúrias e criminosas com patente obstrução à Justiça e clara finalidade de coagir esta Corte [o STF]”, avaliou.
Segundo Celso de Mello, a medida da Casa Branca fere a soberania nacional. Para ele, “Trump desrespeita tratados internacionais e princípios que regem as relações entre Estados”.
“Mais do que uma ofensa sem causa, essa prepotente deliberação governamental americana desrespeita, profundamente, o nosso País e a dignidade do povo brasileiro”, sentenciou.
E concluiu:
“A desmedida arrogância imperial de Donald Trump leva-o a considerar-se um absurdo ‘imperator mundi’, certamente embriagado pela ‘hybris’ grega, capaz de despertar a ira dos deuses”.
Mello fez a crítica após sanções contra oito ministros do STF e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. As famílias dos ministros e do procurador também serão afetadas pela decisão do governo dos EUA.