Multidões foram às ruas nos Estados Unidos, neste sábado (18), em mais de 2.600 manifestações de costa a costa
Com a organização centralizada na coalizão No Kings (Não aos Rei), que reúne grupos pró-democracia em todo o país para protestar contra a acelerada fascistização da vida norte-americana e violação escancarada dos direitos constitucionais, desde que Trump tomou posse pela segunda vez.
As manifestações ocorreram de forma pacífica, em clima de festa e deboche sobre o ditador Trump, ironizado com a convocação “No Kings”.
Como assinalou a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), a principal entidade norte-americana pelos direitos democráticos, a manifestação é para transmitir que “somos um país de iguais”, “somos um país de leis que se aplicam a todos, de devido processo legal e de democracia. Não seremos silenciados”. Mais de 300 entidades e grupos progressistas se uniram na convocação, que em comparecimento superou a de junho.

As maiores concentrações ocorreram na Times Square, em Nova York, no Boston Commons, em Boston, no Grant Park em Chicago e na capital Washington, em meio à paralisação parcial do governo, que já dura três semanas porque Trump insiste em manter o corte das verbas da Saúde que deixará 14 milhões sem plano de saúde.
Empunhando uma faixa com os dizeres “Meu pai não lutou em um B-52 sobre a Europa por isso”, o militar aposentado de Nova York, Brian Lee, de 70 anos, disse que o estilo de governar de Trump lembra muito a ascensão do fascismo na Europa na década de 1930.
“Ele está presente em todos os seus discursos e reflete o que aconteceu na década de 1930, não só na Alemanha, mas também na Espanha. É assustador e temos que parar com isso, porque nem passou um ano, e tenho medo de pensar onde estaremos em outros três”, disse Lee.
Os manifestantes denunciaram que Trump governa por decreto, viola a constituição, persegue jornalistas, opositores em geral, universidades e manifestantes anti-genocídio; caça e deporta latinos, o que faz disfarçado de combate à imigração; intervém com a Guarda Nacional passando por cima de governadores e prefeitos nas cidades de grande população negra; reúne generais para pressioná-los contra “o inimigo interno”; corta verbas arbitrariamente e favorece especuladores e magnatas; além de se dedicar a uma guerra tarifária com o resto do mundo que, como bumerangue, volta para ciscar em casa.

Em locais emblemáticos como a Times Square os slogans dos manifestantes eram claros: “Resistam aos traidores fascistas” e “Sem coroas, sem reis”.
Os manifestantes adaptaram um velho refrão dedicado nos anos 1960 a Nixon, agora ao imperador laranja: “Hei Hei Oh Oh, Trump must go” [Hei hei, oh oh, Trump tem de ir]
“Nós nos reunimos para exigir que nossos representantes se posicionem contra os excessos executivos de Trump para limitar seu poder e nos ajudar a restaurar a democracia antes que seja tarde demais”, disse Hunter Dunn, da coalizão No Kings.
“Não há maior ameaça a um regime autoritário do que o poder popular patriótico”, disse Ezra Levin, um dos organizadores e cofundador da ONG Indivisible.
Leah Greenberg, também da Indivisible, criticou a ação de Trump enviando a Guarda Nacional para cidades por todo o país, reprimindo imigrantes indocumentados e processando oponentes políticos.
“É o clássico manual autoritário: ameaçar, difamar e mentir, assustar as pessoas e fazê-las se submeter”, disse Greenberg. “Não seremos intimidados”, acrescentou.
O ator vencedor do Oscar Robert De Niro, um conhecido crítico de Trump, pediu mobilização. “Tivemos dois séculos e meio de democracia (…) muitas vezes desafiadora, às vezes desordenada, mas sempre essencial”, disse ele em um pequeno vídeo.
“Agora temos um aspirante a rei que quer tirar isso de nós: o Rei Donald I”, disse ele. “Estamos nos levantando novamente desta vez, levantando nossas vozes de forma não violenta para declarar: Não aos reis.”
Esta é a terceira mobilização em massa desde o retorno de Trump à Casa Branca. As últimas manifestações foram organizadas em 14 de junho, no mesmo dia do desfile militar em comemoração ao 250º aniversário do Exército dos EUA, que também coincidiu com o 79º aniversário do atual presidente. Os organizadores anunciaram que as manifestações No Kings-2 tiveram a presença de sete milhões de pessoas.
“Grandes comícios como esse dão confiança às pessoas que estiveram sentadas à margem, mas estão prontas para falar”, disse o Senador Chris Murphy, do partido Democrata, em uma entrevista à Associated Press.
Em Chicago, o prefeito Brandon Johnson disse à multidão “”Estamos aqui para permanecer firmes e comprometidos de que não nos dobraremos, não nos curvaremos, não nos acovardamos, não nos submeteremos. Não queremos tropas em nossa cidade.” Muitas bandeiras, cartazes e camisetas diziam “F… ICE”, e “Tirem as mãos de Chicago”. A multidão respondeu com um “F… Donald Trump”.
Por toda parte, muita gente fantasiada, um jeito de protesto que começou em Portland, para desmoralizar a “acusação” de que os caça-imigrantes de Trump eram ameaçados por perigosos manifestantes. Muitas crianças, muitos balões e muitos cartazes “No Kings”.
Manifestações, também, junto a embaixadas dos EUA ou consulados em Londres, Barcelona e Lisboa, com alguns fantasiados de Estátua da Liberdade.
A clique trumpista reclamou de ser exposta de forma tão contundente, com o presidente da Câmara, Mike Johnson, acusando os manifestantes de terem “ódio à América [a das viúvas da Confederação, do apartheid Jim Crow, do supremacismo branco e da troca de mensagens pelo whatsapp saudosas de Hitler].
Trump, em entrevista à Fox News, fez de conta de que não era com ele, dizendo que “não sou rei” – mas agindo 24 horas por dia como se fosse. Para tirar qualquer dúvida, na véspera da manifestação, ele comutou a pena do desclassificado vigarista George Santos, cassado pelo Congresso, ordenou sua libertação da prisão IMEDIATA.