Unilateralidade e parcialidade na apreciação do conflito na Ucrânia impedem permanência na Central Sindical Internacional, anuncia em carta a Federação dos Sindicatos Independentes da Federação Russa (FNPR). Segundo a FNPR, as sanções às quais a CSI aderiu são injustas e atingem a Rússia de forma geral e aos trabalhadores de forma mais grave
Em carta datada de 7 de abril, a Federação dos Sindicatos Independentes da Federação Russa (FNPR) anunciou à Confederação Internacional Sindical (CSI) a suspensão de vínculos, após a central sindical russa ser submetida em março e abril a enorme pressão para aderir à histeria anti-Rússia e condenar a operação militar especial na Ucrânia – como se sabe, voltada para barrar a limpeza étnica dos russófonos no Donbass, em curso desde 2014, desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia, e evitar sua anexação pela aliança agressiva ocidental, Otan [proposta em 2008 pelo presidente W. Bush].
A CSI surgiu a partir da fusão da Confederação Internacional de Sindicatos Livres (CIOSL) e da Confederação Mundial do Trabalho. A CIOSL, por sua vez, foi uma central estimulada a partir dos Estados Unidos em contraposição à central sindical que se formara após a vitória sobre o nazifascismo, a FSM – Federação Sindical Mundial, fundada em outubro de 1945, congregando organizações sindicais em mais de 100 países.
A central russa está chamando a comemorar o 1º de Maio sob o lema “por um mundo sem nazismo” e pela solidariedade internacional. A entidade acrescentou que irá cooperar ativamente “com os sindicatos dos países dos BRICS e de outros países amigos e lutar pelos direitos dos trabalhadores russos”.
A FNPR considerou “inaceitável” a retórica “unilateral, hostil e sem fundamento, contendo mentiras flagrantes”, usada à revelia das próprias normas da CSI, que foi formada em 2006 da fusão da Confederação Internacional de Sindicatos Livres e da Confederação Mundial do Trabalho.
Em sua carta de afastamento da CSI, o presidente da central russa, Mikhail Shmakov, denunciou a “unilateralidade e a parcialidade na apresentação e consideração de questões relacionadas com a operação militar na Ucrânia, que são incompatíveis com a natureza da organização que condena a discriminação e proclama a adesão aos princípios da igualdade e da democracia interna”.
“Não consideramos aceitável a forma acusatória e a relutância em ouvir os argumentos e provas que apresentamos. Permitam-me uma vez mais chamar a vossa atenção para o fato de que a guerra civil na Ucrânia começou em 2014, tendo conduzido ao bloqueio e a numerosas baixas civis no sudeste do país”, disse Shmakov.
“A FNPR, tal como a liderança da Rússia, confiou nos Acordos de Minsk assinados pelos países europeus garantes e reconheceu a Ucrânia como um Estado unificado, o que excluiu a possibilidade da participação dos sindicatos russos na resolução de problemas socioeconômicos agudos dos trabalhadores que ali viviam”, assinalou o presidente da entidade russa.
“Lamentavelmente, em todos esses anos, os sindicatos ucranianos nunca levantaram as questões da resolução pacífica do conflito, da proteção dos direitos laborais e humanitários dos seus próprios membros nos territórios do sudeste, mas apenas apoiaram as ações das suas autoridades”.
Shmakov alertou que a guerra “pode engolir toda a Europa” e acrescentou ser do interesse coletivo “evitar uma nova escalada do conflito”. O maior problema neste momento – acrescentou – é que a guerra continua em grande parte “devido ao apoio material externo e ao fornecimento contínuo de armas e equipamento militar às unidades armadas ultranacionalistas ucranianas”.
O líder sindical russo disse que, devido às sanções, que a FNPR terá como foco “as questões da substituição de importações, estabelecimento de novas cadeias de abastecimento, garantia de proteção social, preservação dos empregos e salários dos trabalhadores”.
Em mensagem às centrais sindicais dos BRICs e dos países amigos, a FNPR denunciou as sanções desencadeadas pelos EUA e alguns outros países “contrariamente ao senso comum, aos seus próprios interesses econômicos, aos fatos reais e a testemunhas oculares”.
“O congelamento do ouro da Rússia e das reservas cambiais em bancos estrangeiros e a captura de contas de companhias e indivíduos não podem se classificadas senão como pleno roubo. Estas massivas violações das normas internacionais e outras ações pelo ‘Ocidente coletivo’ visam destruir a economia russa, para desestabilizar e, em última instância, mudar o sistema político no nosso país”, assinalou a FNPR.
A central sindical russa destacou a posição de vários governos, que expressam o seu desejo de “uma solução diplomática para o conflito, de paz e segurança universal”, em contrapartida àqueles que “aumentam o fornecimento de diferentes tipos de armas, dando apoio financeiro e político ao regime ucraniano, que encoraja abertamente a ideologia do nazismo, racismo e xenofobia característica do período da II Guerra Mundial”, o que não pode “senão causar indignação”.
Informa a FNPR que de acordo com as últimas sondagens, 79,6% da população russa apoia as ações do Presidente Putin, com 74% apoiando a operação militar na Ucrânia. O apoio é ainda maior entre os filiados aos sindicatos “aproximando-se dos 90%”.
“A maioria da população ativa da Rússia acredita que o nosso país enveredou pelo caminho da descolonização econômica e ideológica, e contra a hegemonia do ‘Ocidente coletivo’ encabeçado pelos Estados Unidos”, destaca o comunicado.
A FNPR assinalou que as forças armadas ucranianas e seus batalhões ultranacionalistas “continuam a bombardear regularmente aldeias e cidades do Donbass utilizando artilharia pesada e lança-foguetes múltiplos, de que centenas de crianças, idosos e mulheres são vítimas”. E que, ao destruir empresas e infra-estruturas civis no território das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, as tropas ucranianas “impedem o estabelecimento de uma vida pacífica e o normal funcionamento das unidades produtivas”.
A entidade também denunciou “as duas provocações atrozes do regime ucraniano”, a primeira em Bucha, nas imediações de Kiev, e em Kramatorsk, no Donbass.
A FNPR advertiu que “as monstruosas provocações dos militares ucranianos continuam”. Estas incluem “a utilização de civis como escudos humanos e impedimento de sua saída através de corredores humanitários; recusa em cumprir a Convenção de Genebra sobre o Tratamento dos Prisioneiros de Guerra, torturando e executando prisioneiros de guerra russos diante das câmaras; apelos da elite política e estatal da Ucrânia para matar russos por motivos linguísticos e étnicos; vídeos ao estilo Estado Islâmico apelando ao massacre de russos, e muito mais que se enquadra na categoria de crimes de guerra, massacres étnicos e genocídio de civis”.