Com arrocho na renda e carestia, em São Paulo (R$ 777,93), Florianópolis (R$ 772,07) e Rio de Janeiro (R$ 768,76), comprometimento do salário é ainda maior e se aproxima de 70%
A cesta básica ficou mais cara em todas as 17 capitais pesquisadas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) em maio na comparação com o ano passado. Em São Paulo, o conjunto de alimentos básicos necessários para a manutenção de um núcleo familiar atingiu o valor de R$ 777,93 – o que consume praticamente 60% do salário-mínimo atual.
A variação dos preços dos alimentos também levou as cestas de Florianópolis (R$ 772,07), Porto Alegre (R$ 768,76) e Rio de Janeiro (R$ 723,55) a preços incompatíveis com os salários e poder de compra da população.
Em termos de variação na comparação com os preços de maio de 2021, a disparada da inflação elevou, regionalmente, em até 23,94% os produtos básicos – como foi o caso da cesta do Recife e de 22,14% em São Paulo.
Em entrevista ao Vermelho, a economista Patrícia Costa, do Dieese, estabelece uma comparação a partir da disparidade entre o salário mínimo, após o desconto de 7,5% referente à Previdência Social, e o custo da cesta básica, elevada pela inflação que não acompanha os reajustes salariais. Em maio do ano passado, quando o salário mínimo era de R$ 1.100, o percentual de comprometimento para aquisição de uma cesta era de 54,84%. Quem esperava que não podia ficar pior, em maio deste ano, com o salário a R$ 1.212, o comprometimento da renda com a cesta subiu para 59,39%.
“As negociações não conseguiram sequer repor a inflação. Grande parte das categorias tiveram reajuste abaixo da inflação, ou seja, efetivamente elas tinham perda do poder de compra. Então é um empobrecimento cada vez maior, porque nem a inflação que se tem, o trabalhador consegue repor no seu salário, um ano depois”, explica Patrícia.
Embora a Constituição do país determine que o salário mínimo deva ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o Brasil de Bolsonaro se afasta cada vez mais do bem estar – jogando cada vez mais brasileiros para a fila da fome.
Além da queda na renda e do desemprego elevado, os preços da energia, do gás de cozinha, da água, dos remédios e dos alimentos consomem o orçamento das famílias. De acordo com uma pesquisa da Rede Penssan, o governo Bolsonaro fez a fome explodir no país para 33,1 milhões de brasileiros. Em 2018, eram 10 milhões nessa situação.
PRODUTOS DA CESTA BÁSICA CHEGARAM A SUBIR 67%
A inflação oficial do país acumulou alta de 11,73% em 12 meses. Apenas os alimentos e bebidas tiveram alta de 13,51%, em média, desde maio de 2021. Considerando apenas os produtos da cesta básica, as altas foram ainda maiores, com variações que ultrapassam 67%.
Café moído: 67,01%
Tomate: 55,62%
Batata-inglesa: 54,3%
Açúcar refinado: 35,74%
Óleo de soja: 31,25%
Leite longa vida: 29,28%
Farinha de trigo: 27,8%
Feijão carioca: 19,03%
Pão francês: 15,59%
Manteiga: 12,34%
Carnes: 5,95%
Banana: de 5,02%
Levando em conta o preço da cesta e o conjunto dos preços atuais, o Dieese calcula que o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 6.535,40, ou seja, 5,39 vezes o mínimo de R$ 1.212,00.