A Controladoria-Geral da União (CGU) vai quebrar o sigilo que Jair Bolsonaro colocou sobre seu cartão de vacinação e sobre o processo contra seu ex-ministro da Saúde e general do Exército, Eduardo Pazuello, por violação de regras do Exército.
Os dois documentos fazem parte dos 234 casos em que a CGU vai analisar a quebra do sigilo de 100 anos imposto por Jair Bolsonaro para acobertar crimes. A informação foi confirmada pelos sites Metrópoles e UOL.
Jair Bolsonaro impôs o sigilo centenário sobre seu cartão de vacinação em janeiro de 2021, quando a campanha de vacinação contra a Covid-19 estava em sua primeira etapa.
O então presidente usava suas redes sociais e o “cercadinho” no Palácio da Alvorada para divulgar mentiras sobre as vacinas, tentando desencorajar a população, e propagandear a cloroquina, droga que não tem efeito positivo no tratamento contra Covid-19.
O ministro da CGU, Vinicius de Carvalho, afirmou que Bolsonaro se utilizou dos sigilos de 100 anos de “maneira desproporcional e desarrazoada”, banalizando esse instrumento.
“Com base nos enunciados e com base no parecer nós vamos analisar e vocês vão perceber isso ao longo das próximas semanas, por que isso vai começar a aparecer como resultados das demandas que as pessoas fazem, 234 casos que serão analisados ou revisados pela CGU”, disse Carvalho à imprensa.
Veja os casos dos sigilos:
- Segurança nacional: 111
- Segurança do presidente e familiares: 35
- Informações pessoais: 49
- Atividades de inteligência: 16
- Outros: 23
Enquanto o mundo inteiro se mobilizava para produzir vacinas eficazes contra o coronavírus, Jair Bolsonaro se empenhava em desacreditar laboratórios e desmotivar as pessoas a se protegerem.
Em outubro de 2020, ele chamou a CoronaVac de “vacina chinesa do João Doria”, então governador de São Paulo, e disse que “o povo brasileiro não será cobaia de ninguém”. Bolsonaro disse que não havia comprovação científica da eficácia do imunizante, o que é mentira.
Em dezembro de 2020, Jair Bolsonaro falou contra a vacina da Pfizer. “Se nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles (Pfizer) não têm nada a ver com isso. Se você virar um jacaré, é problema seu”.
Em outubro de 2021, ele disse em uma transmissão ao vivo que pessoas que tinham tomado a vacina contra a Covid-19 estavam desenvolvendo casos de Aids. A afirmação é totalmente mentirosa.
A Polícia Federal concluiu que Bolsonaro e seu ajudante de ordens, Mauro Cid, cometeram o crime de “incitação ao crime” e contravenção penal por “provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente”.
Foi por não ter se vacinado – ou por não apresentar seu cartão de vacinação – que Bolsonaro sequer podia entrar em restaurantes durante uma viagem aos Estados Unidos, em setembro de 2021. Ele teve que comer pizza na calçada em frente ao restaurante, em Nova Iorque.
INSUBORDINAÇÃO
A CGU também vai quebrar o sigilo sobre o processo administrativo contra o ex-ministro da Saúde e general do Exército, Eduardo Pazuello, por ter participado de um ato político com Bolsonaro enquanto estava na ativa.
Em maio de 2021, dois meses depois de ter deixado o Ministério da Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello participou e discursou em uma manifestação com Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro contrariando regras do Exército. A participação de militares da ativa em movimentos político-partidários é proibida pelo Estatuto das Forças Armadas e pelo Regulamento Disciplinar do Exército.
A cúpula do Exército decidiu não punir Pazuello e Bolsonaro impôs um sigilo de 100 anos sobre o processo.
A argumentação apresentada por Pazuello e Bolsonaro, na época do julgamento, foi de que o ato não tinha característica político-partidária. No entanto, Pazuello passeou de moto e subiu no trio elétrico com Bolsonaro, onde fez discurso defendendo o governo.
O general Hamilton Mourão, então vice-presidente da República, afirmou que Pazuello “sabe que errou e deve ser punido”. O general Sérgio Etchegoyen disse que a atitude de Pazuello foi “inaceitável e não reflete as Forças Armadas enquanto instituição”.