Chacina de Claudio Castro em comunidades do Rio já ultrapassa 130 mortes

Corpos são trazidos por moradores para a Praça São Lucas na Penha depois da Megaoperação da Policia do Rio de Janeiro - Foto: Tomaz Silva /Agência Brasil

Mais de 70 corpos foram localizados e retirados por moradores de uma área de mata do Complexo da Penha após o morticínio comandando pelo governador Claudio Castro (PL) em comunidades do Rio de Janeiro.

Os corpos foram reunidos na Praça São Lucas, no centro da comunidade, e de acordo com os moradores, não fazem parte da contagem oficial de 64 mortos registrados na terça (28).

Há indícios de execução por parte dos policiais. A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou, nesta quarta, que já passa de 130 o número de mortos após a megaoperação das forças de segurança do Rio de Janeiro.


A pedido dos familiares, os corpos foram expostos para registro da imprensa, e depois foram cobertos com lençóis. A comunidade aguardou a retirada dos corpos pelo Instituto Médico-Legal.

No Complexo do Alemão, outra área alvo da ação de Claudio Castro, outros seis corpos foram encontrados em área de mata ao longo da noite. Eles foram levados para o Hospital Getúlio Vargas.

Ainda há incerteza sobre o número total de mortos na ação, que está sendo considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro.

MORTICÍNIO

Os corpos da chacina da Penha foram recolhidos por voluntários e parentes dos mortos e levados para a Praça do Inter, na Vila Cruzeiro. Um dos voluntários é um motoboy, de 31 anos. Segundo ele, a iniciativa começaria às 18h, mas, por conta de tiros ainda sendo disparados, a busca começou cerca de três horas depois.

“Foi um filme de terror. Para onde olhava, as trilhas tinham cinco corpos (cada). O cheiro de gás lacrimogêneo ainda deixava a gente incomodado. Tinham também rastros de sangue”, relata o motoboy.

Os primeiros corpos, segundo ele, foram colocados numa kombi e levados para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, o mais próximo. Ainda conforme o relato do homem, que prefere não ser identificado, o grupo foi abordado por policiais, que chegaram a dizer que os levaria para a delegacia. A partir de então, a escolha foi por deixar os outros corpos em frente à Creche do Parque Proletário, na Vila Cruzeiro, para a segurança do grupo.

“A forma como foram encontrados é de execução: tinha gente amarrada com tiro na testa”, continuou. 

“Encontramos um deles com uma granada na mão e outra sem pino, aparentemente. Então deixamos lá (na mata), não sabemos o que fazer. A angústia é grande, uma tristeza. Conhecia muitos de infância, mas mudaram de vida (para o crime) depois”, relata.

Um jovem de 19 anos, Yago Ravel Rodrigues, foi decapitado na chacina. De acordo com a tia do jovem, Beatriz Nolasco, a cabeça de Yago foi arrancada e pendurada em uma árvore e o corpo do jovem foi encontrado na mata e sem tiros.  Ela questionou o preparo do policiamento enviado pelo governador Cláudio Castro (PL) para a megaoperação, que resultou em mais mortes do que prisões “Antes de ter bandido no Complexo do Alemão, tem família e criança”, disse a tia de Yago.

Durante a manhã, os moradores exibiram faixa em protesto contra o governador Cláudio Castro (PL), responsável direto pela operação.

Em entrevista ao portal Agência Brasil, a professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jacqueline Muniz, criticou a ação que gerou um grande impacto na capital fluminense e não atingiu o objetivo de conter o crime organizado. 

Para, a operação foi amadora e uma “lambança político-operacional”. Movimentos populares e de favelas também criticaram as ações policiais e afirmaram que “segurança não se faz com sangue”. 

O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, defendeu as ações da polícia afirmando que se for necessário vai exceder os limites e as competências do governo estadual para manter “a nossa missão de servir e proteger nosso povo”. Ele cobrou mais apoio do governo federal. Na noite de terça, ele solicitou a transferência de 10 detentos presos em penitenciárias do Rio para presídios federais. 

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou ontem, em coletiva à imprensa, que não recebeu nenhum pedido do governador para apoio à megaoperação.

A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) fez um pronunciamento indignado nesta terça-feira (28) na Câmara dos Deputados, ao condenar a megaoperação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que deixou mais de 60 mortos. Em fala emocionada, ela lamentou as mortes de policiais, agentes de segurança e civis e cobrou responsabilização do governo fluminense.

Em seu discurso, a parlamentar rechaçou a narrativa de que a esquerda “protege bandido” e destacou a defesa da população trabalhadora das favelas. “É de doer, pra gente. É de doer ouvir nesta Casa que ‘a esquerda protege bandido’. Nós não protegemos bandidos — nós protegemos as famílias decentes, aquelas que limpam a casa dos senhores e das senhoras, que cuidam dos seus cachorros, dos seus filhos. São essas pessoas que nós defendemos. E elas moram lá porque não podem morar no palácio onde nós moramos”.

A deputada também questionou o saldo da operação e a ausência de reconhecimento de inocentes entre as vítimas. “Foram mortos mais de 64, e eu tenho certeza de que há mais por aí. Foram policiais, foram agentes de segurança pública, foram pessoas inocentes. Mas vocês não acreditam que existam pessoas inocentes”.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *