
Wang Yi afirmou que seu país se opõe à “interferência externa irracional” nos assuntos internos do Brasil. A China já havia autorizado, na semana passada, que 183 empresas brasileiras passem a exportar café para o país asiático
O ministro das relações exteriores da China, Wang Yi, expressou solidariedade de seu governo ao Brasil diante do tarifaço imposto pelo governo Trump. Em ligação telefônica ao assessor especial da Presidência brasileira, Celso Amorim, ele afirmou que a China apoia o Brasil na “defesa dos seus próprios direitos” e na resistência ao “comportamento de intimidação” das tarifas excessivas.
O chanceler chinês ainda afirmou que seu país se opõe à “interferência externa irracional” nos assuntos internos do Brasil. A informação foi divulgada em um comunicado do ministério de relações exteriores do país asiático. As medidas tarifárias contra os produtos brasileiros entram em vigor nesta quarta-feira (6) e o governo Lula já anunciou que tomará medidas de defesa de suas empresas e contestará na OMC as medidas unilaterais dos EUA.
A chancelaria da China já havia defendido o Brasil contra o tarifaço de Trump em julho, quando o presidente dos EUA anunciou a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros — a maior taxação feita a um país até então. O gigante asiático já havia dito que as tarifas “não deveriam ser uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência.”
“A igualdade de soberania e a não intervenção em assuntos domésticos são princípios importantes da Carta da ONU [Organização das Nações Unidas] e normas básicas nas relações internacionais”, disse a porta-voz do ministério, Mao Ning, à época. No mesmo dia, o ministro das relações exteriores da China também afirmou que “as tarifas dos Estados Unidos minam a ordem do comércio internacional”.
A justificativa do governo americano para atacar a economia do Brasil não teve motivo em problemas comerciais, até porque o Brasil é um dos poucos países do mundo que tem déficits comerciais com os EUA. A chantagem teve uma conotação claramente política. Trump quis interferir no julgamento de Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é réu por tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. Trump inventou que o julgamento era uma “caça às bruxas” para defender o golpista, que é seu bajulador e defende no Brasil os interesses dos EUA.
A China também travou uma batalha tarifária com os Estados Unidos no início do ano que terminou em uma luta de forças entre Pequim e Washington no quadro geopolítico mundial. Em abril, quando Trump anunciou aumento de tarifas a produtos de uma série de países, os produtos chineses receberam uma das taxas mais altas, de 34%. Pequim retaliou, aumentando impostos a produtos dos EUA. Em maio, após o governo chinês dar a última cartada na guerra tarifária, Washington propôs negociações e foi obrigado a recuar.
O governo chinês ampliou o seu apoio ao Brasil também comercialmente. Ele autorizou 183 empresas brasileiras a exportarem café para o país, segundo a embaixada chinesa no Brasil. O anúncio foi feito no sábado (2) pelas redes sociais. A medida começou a valer em 30 de julho e beneficia os exportadores brasileiros, que foram afetados pela nova tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última semana e que entram em vigor nesta quarta-feira (6).