Chanceler de Bolsonaro faltou a reunião sobre Covid a convite da China, mostram documentos

O ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil

O ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, recusou o convite da China para participar de reunião multilateral sobre o combate ao coronavírus, apontam documentos enviados à CPI da Pandemia.

A China convidou, em julho de 2020, Ernesto Araújo para participar da reunião com mais treze países para discutir as medidas de combate ao coronavírus e a “cooperação entre as partes em um contexto pós-pandemia”.

Os documentos do Itamaraty, que estão em posse da CPI da Pandemia e foram obtidos pela TV Globo, mostram que Ernesto Araújo exigiu à China que nenhum representante da Venezuela participasse, mas mesmo assim não foi à reunião.

Participaram do encontro: China, México, Argentina, Barbados, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, Panamá, Peru, Trinidad e Tobago e Uruguai.

O embaixador do Brasil na China, Paulo Estivallet, recomendou a Ernesto Araújo que participasse do encontro com os demais ministros das Relações Exteriores.

“Considero recomendável a participação do Brasil, caso compatível com a agenda de Vossa Excelência. Ademais de refletir a importância de entendimentos pragmáticos sobre uma das principais, se não a principal, questão da agenda internacional, nossa participação também poderia dar sinalização útil para o encaminhamento favorável de questões práticas de relacionamento bilateral, inclusive no campo comercial”, disse Estivallet.

Os documentos, datados entre 8 e 24 de julho de 2020, mostram que Estivallet informou à China que a presença de qualquer membro do governo de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, “inviabilizaria a participação do Brasil”.

Depois de receber a lista de países confirmados para o encontro, entre os quais não constava a presença da Venezuela, Ernesto Araújo comunicou que mesmo assim não iria participar.

A reunião aconteceu no dia 23 de julho. No dia seguinte, Paulo Estivallet enviou ao Itamaraty uma mensagem que falava sobre como foi a reunião, com informações obtidas através da mídia chinesa.

Mesmo tendo sido o primeiro país atingido pelo coronavírus, a China fez um combate exemplar à doença. Com medidas de distanciamento social, além de teste e rastreio de contatos, a China conseguiu ficar mais de oito meses sem nenhuma morte por Covid-19.

A China teve três mortes por Covid para cada milhão de habitantes. Os Estados Unidos teve 1,8 mil mortes para cada milhão de habitantes. O Brasil está, hoje, com 2,7 mil mortes para cada milhão de habitantes e é o pior país do mundo no combate à pandemia.

A China é, também, peça importantíssima para a vacinação no Brasil. O Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção das vacinas CoronaVac, do Instituto Butantan, e AstraZeneca, da Fiocruz, são importados de lá.

Ainda assim, Jair Bolsonaro e seus ministros preferem atacar a China. Bolsonaro insinuou que a China teria criado o coronavírus em laboratório para atrapalhar o crescimento econômico dos demais países do mundo.

Ernesto Araújo falou de “comunavírus”, um plano chinês para disseminar seu projeto de dominação mundial através da pandemia do coronavírus.

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