“Quem manda sou eu”, disse ele, ao barrar nome indicado pela direção da PF
O afastamento do superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, resultado da ingerência inédita e direta de Jair Bolsonaro, é a continuação da operação abafa sobre as investigações dos crimes de Flávio Bolsonaro.
Antes das investigações serem paralisadas por decisão de Dias Toffoli, a Polícia Federal, o Ministério Público e a Receita Federal estavam fechando o cerco sobre os crimes do senador e de seu auxiliar, Fabrício Queiroz.
O afastamento do superintendente do Rio e a intromissão arrogante de Bolsonaro nas decisões da Polícia Federal provocaram indignação entre os membros da corporação, que ameaçaram com renúncia geral.
Ele não só demitiu o superintendente do Rio como não aceitou o nome indicado pela direção geral da PF – como é de praxe – para ocupar o cargo do superintendente afastado. O substituto indicado pela direção geral do PF para o cargo era o superintendente em Pernambuco, Carlos Henrique Oliveira.
Bolsonaro disse em entrevista a jornalistas na quinta-feira (16) que não seria Carlos Henrique o superintendente. “Quem manda sou eu”, disse ele, apontando que o nome que ele queria para o cargo era o de Alexandre Saraiva, chefe da PF no Amazonas.
Diante da ameaça de renúncia geral de superintendentes, Bolsonaro foi obrigado a mudar o tom de sua fala. Com medo, começou a moderar as ameaças. “Não era bem isso. Qualquer nome está bom. Para mim não faz diferença”, anunciou ele na sexta-feira (17).
O que irritou Bolsonaro foi a investigação feita pela Polícia Federal do Rio das atividades suspeitas de seu filho Flávio e de seu velho amigo Fabrício Queiroz.
Tudo começou com a investigação sobre gastos irregulares identificados pelo Coaf (órgão de controle de atividades financeiras) nas contas de Fabrício Queiroz, um ex-PM que era chefe de gabinete de Flávio.
No decorrer das apurações, foi revelado que Queiroz empregou parentes de milicianos no gabinete, inclusive mulher e mãe de um suspeito de executar Marielle Franco.
O MP e a PF começaram a suspeitar dos elos entre milícias do Rio de Janeiro e a família do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Nas diligências do chamado caso Queiroz, foram ficando claras as ligações do gabinete e integrantes das milícias. (v. Bolsonaro e as milícias)
Bolsonaro vinha se queixando a interlocutores havia meses de que não confiava na atuação de Saadi.
Queiroz tem antigas ligações com Adriano Magalhães Nóbrega, chefe do ‘Escritório do Crime’, grupo de assassinos de aluguel ligado à milícia de Rio das Pedras.
O capitão Adriano é suspeito de participar da morte da vereadora do PSOL e está foragido. Ele foi homenageado por Flávio Bolsonaro com a Medalha Tiradentes, maior honraria do estado do Rio de Janeiro.
A mãe do ex-capitão, Raimunda Veras Magalhães, de 68 anos, era funcionária no gabinete de Flávio Bolsonaro durante parte de seu mandato como deputado estadual. Raimunda aparece na folha da Alerj com salário líquido de R$ 5.124,62. Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, mulher de Adriano também trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj.
Em abril, o MP do Rio conseguiu na Justiça a quebra de sigilo do senador e mais 85 pessoas ligadas ao esquea do gabinete de Flávio na Alerj. Flávio foi à luta para obstruir a investigação em tribunais superiores.
Em julho, o presidente do Supremo, Dias Toffoli, concedeu liminar suspendendo os procedimentos porque eles se baseavam em dados do Coaf que teriam sido solicitados sem autorização judicial prévia – o tema ainda será debatido no plenário da corte.
Não é só a PF e o Ministério Público que Bolsonaro está perseguindo para impedir que os crimes de seu filho sejam investigados. Ele anunciou na semana passada que vai praticamente extinguir o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Anunciou que vai tirá-lo do Ministério da Economia e colocá-lo no Banco Central.
Antes disso, Paulo Guedes já informou sobre a demissão do chefe do órgão, Roberto Leonel, homem de confiança de Sérgio Moro. Guedes usou o termo preferido de Bolsonaro: “a cabeça [de Roberto Leonel] vai rolar”.
Esses ataques de Bolsonaro à PF e ao MP revelam que ele não mede esforços para acobertar os crimes do filho.