Os principais comandantes militares dos Estados Unidos manifestaram na terça-feira (12) sua condenação à “sedição e insurreição” que ocorreu no Capitólio na semana passada, quando uma turba trumpista invadiu e vandalizou o Congresso dos EUA, reunido para a certificação final da vitória do oposicionista Joe Biden à presidência.
“Testemunhamos ações dentro do edifício do Capitólio que eram inconsistentes com o Estado de Direito”. “Os direitos de liberdade de expressão e reunião não dão a ninguém o direito de recorrer à violência, sedição e insurreição”, escreveu em memorando à força o chefe do Estado-Maior, general Mark Milley.
Além de Milley, o memorando foi assinado pelo vice-chefe do Estado-Maior, general John Hyten, e pelos comandantes do Exército, Marinha, Corpo de Marines, Força Aérea, Força Espacial e Guarda Nacional.
O memorando chega quase uma semana depois que a turba de trumpistas invadiu o Capitólio, forçando congressistas a se esconderem, assim como funcionários e jornalistas, enquanto os extremistas saqueavam gabinetes, atacavam policiais do Capitólio e vandalizavam e roubavam coisas. Um policial morreu devido aos ferimentos sofridos no ataque.
A turba investiu contra o Capitólio após ser incitada por Trump a “marchar” e mostrar “força”, coroando semanas em que o inquilino da Casa Branca mentiu que a eleição fora fraudada, o que já fora repelido por tribunais no país inteiro.
Reportagens nos últimos dias colocaram em questão o comportamento do Pentágono, deixando por horas o Congresso dos EUA invadido sem que fosse autorizada a entrada na capital do país, que é território federal, da Guarda Nacional alocada nos Estados vizinhos, Virgínia e Maryland e que se dispunham a ajudar.
Há informações de que a autorização só veio quando os líderes do Congresso conseguiram acesso ao general Miller, que logo em seguida contatou o vice-presidente Mike Pence.
Quando a Guarda Nacional finalmente foi autorizada e chegou, já estava anoitecendo na capital dos EUA.
Durante horas os congressistas estiveram sob ameaça de sequestro ou violação da integridade física, assim como os votos a serem certificados, caso tivessem caído nas mãos dos extremistas, enquanto o mundo inteiro assistia a tudo chocado.
Outra questão incômoda é a presença de militares e ex-militares na turba que assaltou o Capitólio. A mulher que foi fatalmente baleada pela Polícia do Capitólio enquanto tentava arrombar a porta do Lobby da presidente da Câmara era uma veterana da Força Aérea, e um tenente-coronel aposentado da Força Aérea foi preso no domingo depois de ser fotografado no chão do Senado usando equipamento tático e carregando gravatas plásticas com zíperes usadas pelas autoridades policiais como algemas.
Outro homem preso durante o fim de semana foi identificado como um veterano da Marinha.
Pelo menos uma integrante do serviço ativo, uma oficial de operações psicológicas do Exército, está sob investigação do Exército por seu envolvimento no comício que antecedeu o motim, embora ela insista que não entrou no Capitólio.
Em seu memorando, os Chefes do Estado-Maior lembraram aos membros de serviço o juramento de defender a Constituição.
“Como membros de serviço, devemos incorporar os valores e ideais da nação”, escreveram eles. “Nós apoiamos e defendemos a Constituição. Qualquer ato para perturbar o processo constitucional não é apenas contra nossas tradições, valores e juramento; é contra a lei”.
Os líderes militares dos EUA ainda lembraram à instituição armada que, sob a constituição, Biden será seu comandante-chefe na próxima semana.
“Em 20 de janeiro de 2021, de acordo com a Constituição, confirmada pelos Estados e pelos tribunais, e certificada pelo Congresso, o Presidente eleito Biden tomará posse e se tornará nosso 46º comandante-chefe”, escreveram eles.
“Para nossos homens e mulheres destacados e em casa, salvaguardem nosso país – fiquem prontos, mantenham seus olhos no horizonte, e continuem focados na missão”, concluíram. “Honremos seu serviço contínuo em defesa de cada americano”.