
Eduardo Annunciato Chicão, presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo e da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia e Meio Ambiente, afirmou, em entrevista ao HP, que a rede elétrica em São Paulo “nunca esteve tão precarizada”. Para o dirigente sindical, depois da privatização, para reduzir custos, a AES Eletropaulo, depois ENEL, monopólio da energia em São Paulo, “praticamente extinguiu a manutenção preventiva”. Isso quer dizer que a sensibilidade para se antecipar aos problemas na rede é baixíssima, explicou. O dirigente sindical deu como exemplo uma situação em que “se uma árvore cai e parte um fio, ele fica faiscando no chão, a energia não é desligada. E isso coloca em risco a população e o próprio sistema”.
Segundo Eduardo, “antes da privatização, antes de 1998, a filosofia era outra. Você entrava numa sessão, eram 20 caminhões de manutenção e dois de corretiva. Hoje, quando muito, é o contrário. Falta manutenção preventiva. Falta confiabilidade no sistema. Rede elétrica sem confiabilidade não funciona. Dá pane e vai dar crise mais para frente. O caos é instalado e, para recuperar, leva tempo. Porque o problema foi causado ao longo do tempo”, avaliou.
Chicão declarou à que a empresa foi avisada pelo sindicato da eminência do apagão. “Eu mesmo comuniquei em reunião com a diretoria da empresa do alto risco de um apagão”.
Para o presidente dos eletricitários paulistas, a privatização do setor energético, principalmente da Eletrobrás, coloca em cheque a meta do presidente Lula de desenvolver o país com base em energia limpa e renovável. Avalia que o Brasil tem essa capacidade. “Mas seria necessário um planejamento no interesse público. Privatizada, a Eletrobrás é um monopólio privado, sem concorrência, voltado para o lucro e sem nenhum controle do Estado”.
Chicão considera que “chegou a hora de discutirmos o uso da energia nuclear. Dominamos a tecnologia de 3ª geração. É completamente seguro. Não tem nada a ver com Chernobyl ou Japão, que só dispunham de tecnologia de 1ª geração. Aqui no Brasil temos técnicos extremamente qualificados”.
Chicão, presidente de um dos maiores e mais poderosos sindicatos do país, vai participar da mesa do seminário “A reconstrução nacional e o papel dos sindicatos”, promovido pelo Instituto Claudio Campos, em parceria com a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e apoio da Fundação Maurício Gabrois, que se realizará no dia 5 de dezembro, a partir das 18h. O Seminário poderá ser acompanhado presencialmente, na sede da CTB, à Rua Cardoso de Almeida, 1843, Perdizes (SP), ou por videoconferência. Rosanita Campos, presidente do Instituto, informou que o Seminário homenageará o dirigente comunista histórico Sérgio Rubens. Na data, fará dois anos de seu falecimento.
CARLOS PEREIRA