O presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, Eduardo Annunciato, o Chicão, falou em entrevista ao HP, nesta segunda-feira, sobre os prejuízos que serão causados ao país com o processo de privatização da Eletrobrás
Conforme o sindicalista, a atual crise pela qual passa o sistema elétrico, principal argumento para a entrega da empresa, é fruto da incompetência das gestões anteriores. Chicão apontou que “desde 2001, todos os balanços e dados nunca haviam apontado prejuízos do sistema Eletrobrás. A partir de 2012, até 2015, houve prejuízo. Isso porque, ainda no governo Dilma, foi feita a medida provisória 579 que, na caneta, abaixou a tarifa elétrica. A Eletrobrás assumiu o ônus que foi gerado pela redução da conta de luz nos lares das pessoas”, afirmou.
O presidente do Sindicato explica que a medida assinada por Dilma abaixou a tarifa sem que houvesse uma produção que correspondesse a essa queda de preço. “Com isso, as empresas do sistema Eletrobrás compravam energia por um preço muito maior do que vendiam. Isso foi gerando um rombo nos cofres públicos. Ou seja, é obvio que o que aconteceu foi uma má administração. Não tem nenhuma empresa que suporte uma condição assim, não é aceitável”.
O parque gerador de energia da Eletrobras é composto por 233 usinas, das quais são 47 hidrelétricas, 114 termoelétricas, duas termonucleares, 69 eólicas e uma solar. A empresa gera 170 mil gigawatts/hora (Gwh) de energia, e é a maior companhia do setor elétrico da América Latina, atendendo 1/3 do consumo anual de eletricidade do Brasil. Com isso tudo, o anúncio feito pelo governo Temer é de que ela seja vendida por R$ 20 bilhões, valor semelhante ao gasto apenas na construção da Usina de Belo Monte. “Isso, acima de tudo, é lesa-pátria, inadmissível”, considera Chicão.
Dentre as principais falácias que o governo propagandeia está a de que a privatização irá baixar a tarifa para o consumidor. “Logo de partida já existem estudos que dizem que a conta de luz subiria no dia seguinte à privatização”, pontua o sindicalista. Ele ainda ressalta que “em Portugal a empresa EDP foi comprada e em cinco anos a tarifa aumentou 40% acima da inflação”, explicou.
Chicão também apontou que assim “quem vai controlar a nossa energia e nossa água vai ser o capital estrangeiro”. Ele explicou que, ao passo que uma empresa estatal busca o lucro para investimento no parque industrial e melhoria dos serviços, uma empresa privada vai buscar apenas o lucro, o investimento é o mínimo possível, e esse lucro virá do bolso do consumidor.
“O privado preza só o lucro, vai até o limite, até degringolar, e o risco para a população é muito maior. O prejuízo será incomensurável, tenebroso”, completa.
Em nota publicada pela Fenatema (Federação Nacional dos Trabalhadores em Água, Energia e Meio Ambiente), também presidida por Chicão, a entidade denuncia que “não são as estatais que devem ser questionadas, mas os maus gestores, que as drenam por interesses espúrios. Agora, para piorar, querem arrasar de vez, vendendo a preço vil um patrimônio estratégico ao Brasil e seu povo (…). Não podemos e não iremos admitir tal desgraça. Nosso País não merece uma corja desta na sua administração. A soberania Nacional não tem preço”.
ANA CAMPOS