Artistas, prêmios nacionais e intelectuais do Chile e da França assinaram cartas em apoio ao candidato presidencial da frente ampla progressista, Gabriel Boric, argumentando que sua vitória sobre o fascismo nas urnas será “uma boa notícia para todo o mundo”.
Entre os mais de mil representantes da cultura chilena estão a cantora Isabel Parra (filha da destacada Violeta Parra), o escritor e constituinte convencional Jorge Baradit e o cineasta Rodrigo Sepúlveda. Entre os signatários franceses estão o cineasta grego Costa-Gavras, o filósofo Toni Negri, a atriz Bérénice Bejo e o deputado Jean-Luc Mélenchon.
A primeira das cartas expressa uma “profunda preocupação com a possibilidade de haver um governo de extrema-direita, que desproteja completamente os avanços que foram gerados nestas matérias, o que nos remete aos momentos mais sombrios da nossa história”. Neste contexto, os chilenos destacam que “somente Boric oferece as garantias democráticas que validam o atual processo da Convenção Constituinte”.
“No contexto desta perigosa contraofensiva, percebemos como uma grave ameaça ao Chile o projeto do candidato José Antonio Kast, a ativação primária do ódio e do medo do outro através de um discurso de ‘segurança pública’ que toma como pretexto as questões de migração, crime ou terrorismo para exercer vigilância e controle policial sobre a população”, alerta a carta.
“A candidatura de Kast representa a demolição do Estado a favor dos interesses privados juntamente com a perda dos direitos sociais e o uso do lucro para consagrar o império financeiro de suas elites empresariais”
Nomes como Diamela Eltit (Prêmio Nobel de Literatura), Alfredo Castro (ator, diretor e roteirista condecorado), Faride Zerán (Prêmio Nacional de Jornalismo), Elicura Chihuailaf (renomado escritor e poeta mapuche) e Patricio Guzmán (diretor de cinema, especialista em documentários), se somaram à luta contra a ultradireita. Conforme observaram, Kast implica “a demolição do Estado a favor dos interesses privados juntamente com a perda dos direitos sociais (saúde, educação, trabalho, pensões, habitação, etc.) e o uso do lucro para consagrar o império financeiro de suas elites empresariais”.
“Essas violações cruéis da vida humana e do contrato social expressam o fascismo e o racismo de um modelo repressivo de sociedade que só conhece a violência como método de resolução de conflitos”, acrescenta o documento, alertando sobre a ameaça de Kast à sociedade chilena em um momento em que está em fase de elaboração uma proposta de nova Constituição para o país, que surge sob os auspícios do histórico levantamento social iniciado em outubro de 2019.
Por sua vez, os franceses advertem que em todo o mundo tem retornado com força o sentimento chauvinista de perseguição às minorias e aos estrangeiros. Portanto, os signatários entendem que é hora de se manifestar contra “o revisionismo histórico, a retórica xenófoba, o desprezo pelos direitos das mulheres e o ceticismo climático”. Eles enfatizam que “a eleição presidencial é disputada entre um torcedor do general Pinochet e um candidato democrata apoiado por muitos partidos” e concluem dizendo: “Boric é o candidato de um futuro civilizado”.