As Administradoras de Fundos de Pensão (AFP) que controlam o sistema de capitalização chileno mais do que dobraram o seu lucro neste começo de ano, ao mesmo tempo em que pagam aposentadorias 80% inferiores ao salário mínimo, 44% abaixo da linha da pobreza.
Estudo recém-divulgado pela prestigiada Fundação Sol aponta que, “somente nos três primeiros meses do ano, as AFP alcançaram um lucro total de 133,44 bilhões de pesos (US$ 192,8 milhões), o que representa um aumento de 100,1% (cem vírgula um por cento!) em relação ao mesmo período do ano passado, com lucros `diários´ de 1,48 bilhão de pesos (US$ 2,142 milhão)”. Enquanto isso, “50% dos novos aposentados de março recebem benefícios inferiores a 45.800 pesos (US$ 66,00)”.
Conforme o estudo, o lucro da gigantesca AFP Habitat, dos EUA, variou 68,1%, obtendo US$ 54,28 milhões no trimestre ou US$ 602,5 mil diários, enquanto a também estadunidense ProVida, alcançou 234,1%, o equivalente a US$ 45,2 milhões ou US$ 502 mil diários. O percentual da italiana Plan Vital foi ainda mais espetacular: 802,5%, US$ 13,58 milhões ou US$ 150,27 mil diários. Isso num país em que pipocam os casos de suicídio de idosos e o número de anciãos morando nas ruas cresce a cada dia.
“Vale destacar que, atualmente, as AFP estão administrando cerca de US$ 220 bilhões, o equivalente a 75% do Produto Interno Bruto (PIB) do país”, assinala o economista Marco Kremerman, representante da Fundação Sol. Ele assinala que, manejando o grosso desta montanha de dólares, as três principais AFP são estadunidenses: Habitat, US$ 57,7 bilhões; Provida, US$ 53 bilhões; e Cuprum, US$ 41,4 bilhões. A seguir vem a Capital, com US$ 40,6 bilhões, e a Plan Vital, com US$ 7,2 bilhões. Única chilena, a Modelo administra US$ 10,6 bilhões.
Reduzindo os benefícios a tão somente 30% do último salário dos homens e 25% do das mulheres, o sistema de capitalização chileno, que o ministro Paulo Guedes quer a todo custo implementar no Brasil, equivale a um jogo de cartas marcadas, para deleite das grandes companhias especuladoras, fundamentalmente estrangeiras.
Para a Fundação, “os números da concentração e da desigualdade” falam por si e demonstram que a capitalização e o seu “sistema de contas individuais é inviável e fracassou socialmente”.
LEONARDO SEVERO