As manifestações de rua contra o presidente Sebastián Piñera retomaram fortes nesta semana de volta às aulas, com os carabineiros – a truculenta polícia chilena – prendendo mais de 300 pessoas e ferindo centenas desde segunda-feira até a manhã da quarta (4)
Denunciando a repressão e condenando a política econômica de arrocho salarial, desemprego e achatamento das pensões e aposentadorias, dezenas de milhares de pessoas levantaram a bandeira chilena ao lado de faixas com o “Fora Piñera” e “Piñera assassino”.
Em menos de 72 horas ocorreram fortes e sangrentos enfrentamentos em Antofagasta, Valparaíso, Concepción e na capital, Santiago. Na Praça da Dignidade, local em que os carabineiros fizeram de tudo para impedir os protestos, foram presos numa única noite 283 manifestantes. Os populares responderam à truculência jogando pedaços de pau, pedras, tijolos e coquetéis molotov nos agressores, ferindo 76 policiais.
Justificando a razão da popularidade de Piñera estar em míseros 6%, como atestou o Centro de Estudos Públicos – a pior de um governo desde o retorno à democracia, em 1990 – o ministro do Interior, Gonzalo Blumeral parabenizou “a boa estratégia policial”.
Aplaudidos por Piñera, esses mesmos carabineiros foram denunciados em dezembro do ano passado pelas Nações Unidas por “violações de direitos humanos”. Conforme o relatório da ONU, os policiais não fizeram “qualquer distinção entre manifestantes pacíficos e violentos”, tendo sido documentados – até então – 113 casos de tortura e maus-tratos, 24 casos de violação sexual e cerca de 350 pessoas que sofreram ferimentos nos olhos ou no rosto.
Também em dezembro, o Colégio de Químicos, Farmacêuticos e Bioquímicos do Chile divulgou um estudo comprovando a presença de “soda cáustica e gás de pimenta” na água lançada dos caminhões-pipa pelos carabineiros.
Desde outubro do ano passado, quando Piñera chegou a decretar estado de exceção e a colocar blindados nas ruas, pelo menos 31 pessoas morreram, milhares ficaram feridas – mais de 400 tiveram perda de visão total ou parcial em um ou nos dois olhos por impacto de bala ou estilhaço de bombas- e dezenas de milhares foram presas.