O manifestante Óscar Pérez, de 20 anos, foi atropelado de forma fria e covarde no último sábado por um caminhão blindado dos carabineiros – a polícia chilena – e prensado contra outro blindado nas proximidades da Praça da Dignidade, em Santiago.
O resultado da perseguição foi “quatro fraturas de pélvis, hemorragia interna e comprometimento da bexiga” em Óscar, fazendo com que o Instituto Nacional de Direitos Humanos processasse os carabineiros pelo crime de tentativa de homicídio culposo e solicitasse a detenção preventiva do cabo Mauricio Carrillo, que foi apenas levemente sancionado.
O atropelamento é resultado do plano “Tolerância Zero” com as manifestações contra o desgoverno de Sebastián Piñera, que além de sitiar com mais de 1.000 carabineiros o centro da capital, colocará todo o seu aparato jurídico para blindar os criminosos. Sendo assim, Carrilo deverá tão somente se apresentar a cada 30 dias na Primeira Comissaria de Santiago pelos 150 dias que durar a investigação.
Numa montagem grotesca para salvar o criminoso, o procurador responsável pelo caso disse que o fato ocorreu logo após a polícia ter sido avisada sobre uma eventual agressão a um carabineiro motorizado. Diante disso, os blindados teriam começado a circundar uma motocicleta para resguardá-la, até que ocorreu o atropelamento. Como denunciou a defesa de Óscar Pérez, é de tal cinismo a versão da polícia que revolta todos os chilenos. Como se não bastasse, o agressor afirmou não ter visto nem o jovem nem o outro blindado.
“SOMOS A ALMA COLETIVA DA LIBERTAÇÃO”
Passando bem após a cirurgia, estável e em pleno processo de recuperação, Óscar enviou uma mensagem por seu Instagram pessoal, que reproduzimos a seguir:
Somos a alma coletiva da libertação, não somos da casta política vendida, somos o espírito do bosque nativo sobre o que hoje se encontram os labirintos de cimento. Atuamos por amor mais que por ódio; o ódio ao capitalismo e suas empresas saqueadoras da terra somente se traduz no amor e na conexão que temos com ela, a ñuke mapu, pacha mama.
Não somente defendemos a natureza, senão que somos parte e uma extensão dela. Nos parte o coração o fato de que ela esteja sendo destruída, saqueada e contaminada por gente que não quer ver além do seu ego e de seus privilégios, a cobiça e o afã de poder.
É comovente o fato de que sejam el@s quem controlem nossas vidas e delimitam o que podemos ou não fazer, que nos criem para produzir e consumir, para mover as engrenagens da sua máquina e assim poder lhes dar mais bens para eles e suas famílias. Não entendem e nunca vão entender, vivem numa bolha de comodidades desde a qual não podem sequer imaginar o nível de desigualdade que existe neste país e no mundo.
Somos descendentes dos indígenas que não puderam exterminar e lhes serviam de mão de obra, os encomendados, porque apesar de ter no sobrenome “Pérez Cortez” minhas raízes estão fortemente ligadas a esta terra latina, a seus bosques, ao céu, as montanhas, os rios e terras, as que respeitamos como nossos ancestrais já que nós mesmos ao morrer nos tornamos terra, com a qual temos um forte sentido de reciprocidade.
Em nosso espírito vive a liberdade de tod@s os caíd@s, as mãos ásperas de meus avós camponeses, os poemas e contos que me contava minha tata me incentivando a aprender cada vez mais, as extensas jornadas de trabalho de meu pai e minha mãe, que fizeram um enorme sacrifício para que eu, em minha geração, pudesse ter um melhor acesso à educação e conseguisse encaixar melhor as peças, ter pensamento crítico. Agradeço a@s professores que acreditaram em mim.
Como cabras, somos livres e selvagens como o vento, de coração ardente e fogoso, cheios de amor para arrebentar, e por mais que nos atropelem, tirem os olhos, estuprem, assassinem, reprimam e aprisionem nossos corpos, aqui seguirá o espírito coletivo de liberdade, que existe em cada alma livre e sedenta de justiça para os seus e a terra. Somos riacho e não trabalhamos com a cobiça, com a ganância, a corrupção, o despotismo. Já não nos vendem o seu discurso sobre a violência porque ao longo dos séculos demonstraram que são os verdadeiros violentos e de onde nasce a violência…
“Nos puseram a construir palácios por onde nossos pés jamais caminhariam, nos puseram a construir prisões para logo habitá-las, a construir escolas para nos domesticar”
Abaixo a máquina do neoliberalismo e para cima as almas livres, um uivo forte para a küyen – lua. É sabido que não poderão calar nosso espírito de liberdade, nossas ideias são à prova de balas, AMULEPE TAIÑ WEICHAN!!!
Estou eternamente agradecido pelo apoio de todas as pessoas que me enviaram fortes vibrações e mensagens de apoio, para não baixar os braços e que ninguém nos restrinja o direito à manifestação. Unidos somos mais fortes!!! Um abraço a tod@s.
LWS