FELIPE BIANCHI (Barão de Itararé) e LEONARDO SEVERO (Hora do Povo)
Em defesa do salário, do emprego, contra os aumentos abusivos e o assalto às aposentadorias, centenas de milhares de chilenos tomaram, nesta quinta-feira (11), as principais cidades do país em um “Paro Nacional Activo” para denunciar a proliferação de ataques por parte do presidente Sebastián Piñera.
Com faixas e cartazes condenando as Administradoras de Fundos de Pensão (AFP), que privatizaram a Previdência pública para meia dúzia de companhias transnacionais especularem, arrochando brutalmente os valores das aposentadorias – que pagam aos homens somente 30% do último salário e às mulheres 25% -, a população se somou à paralisação, demonstrando o seu repúdio ao descaminho neoliberal do governo.
Vestindo camisetas com o rosto do ex-presidente Salvador Allende e do cantor Victor Jara, empunhando o azul e vermelho da bandeira nacional mesclado com o vermelho da Central Unitária de Trabalhadores (CUT) e o amarelo vibrante do movimento No+AFP (Chega de AFP), o povo animou e coloriu as ruas de Santiago, Valparaíso, Concepción, La Serena, Antofagasta e dezenas de outras cidades, fazendo ecoar o chamado do “Basta!”.
“De Arica (Norte) até Chiloé (Sul), esta mobilização dá um salto de qualidade na nossa unidade e amplia a nossa força para pressionar o governo e os parlamentares a que não aprovem sua agenda regressiva”, afirmou a presidenta da CUT, Bárbara Figueroa. Para a dirigente cutista, “a hora é de enfrentar a pauta do retrocesso e dos abusos e de defender os salários, os empregos e os direitos dos trabalhadores e dos aposentados”. “Lutar contra as AFP e defender uma Seguridade Social pública é essencial. É uma questão de justiça”, enfatizou.
POR UM CHILE JUSTO
“Unir todas as lutas por um Chile justo” foi o mote dos atos, que apostaram na amplitude das pautas não apenas para ecoar reivindicações da classe trabalhadora chilena, mas para dar um recado claro ao governo: o povo está indignado e unido. Dentre as bandeiras defendidas estava o rechaço às políticas anti-trabalhistas de Piñera; equidade de salário para homens e mulheres que desempenhem o mesmo trabalho; que os mais ricos paguem mais impostos que os mais pobres; e, claro, a luta pelo fim de um sistema previdenciário que privatiza os lucros e socializa os prejuízos – 80% das aposentadorias estão abaixo do salário mínimo e 44%, abaixo da linha da pobreza.
“Esses não são tempos para sectarismos. Hoje, estamos unidos para enfrentar um governo que aposta em uma estratégia totalitária para destruir os poucos direitos fundamentais que ainda existem”, bradou Luis Mesina. O porta-voz do No+AFP exaltou a presença massiva na paralisação geral, mas alertou: é só o começo. “Precisamos derrotar os ataques do governo de Piñera não amanhã, mas agora. Não podemos marchar separadamente, pois é nisso que o regime aposta. No cansaço, na divisão, no esgotamento e na desilusão. Querem nos derrotar moralmente, o que exige resistência da nossa parte”.
Segundo Mesina, Piñera não governa com as instituições tradicionais do Estado, mas sim por fora delas. Por isso, derrotar os ataques do governo precisa estar na ordem do dia. “As instituições sob as quais se construiu este Estado, as mesmas desde os tempos da tirania, têm de estremecer”, defendeu. “Precisamos fazer prevalecer a voz da grande maioria, para derrotar os que estão encastelados no Parlamento legislando para poucos grupos econômicos, que estão legislando para a reforma tributária, que estão comprometidoscom as AFP. Esses precisam estar com os dias contados”.
NÃO AO TLC
Para Sofia Sepúlveda, da organização Chile Melhor Sem Tratado de Livre Comércio (TLC), o Tratado de Associação Transpacífico (TPP-11) precisa ser rejeitado no parlamento, pois “agride a nossa soberania ao transformar em Constituição um acordo internacional”. “Não podemos deixar que um tratado se sobreponha às nossas leis, violando direitos humanos, incluindo o próprio direito ao trabalho, para dar mais poder às corporações transnacionais em áreas tão sensíveis como a agricultura, a água e a mineração”, acrescentou.
Representando a Comissão Chilena de Direitos Humanos, Carmem Pinto conclamou a todos os presentes a se manterem mobilizados para “impedir que nos retirem o principal direito, que é o direito à livre determinação e à soberania política”. “Precisamos lutar para recuperar a nossa plena soberania econômica, para dispor das nossas riquezas e dos nossos recursos naturais”, enfatizou.
No final da marcha na capital foi lançada a campanha “Não deixe que passem gato por lebre”, que denuncia a proposta de reforma tributária do governo como mais uma forma de concentração da renda, ao impor a cobrança de impostos de forma completamente desproporcional sobre as costas da parcela mais pobre da população, que se veria brutalmente onerada em benefício da 1% mais rica.
“Continuaremos realizando paralisações, protestos e marchas como os de hoje até construirmos uma grande greve geral contra os retrocessos deste governo”, concluiu Bárbara Figueroa.