A Huawei é perseguida por Washington porque expressa o avanço da China em alta tecnologia. Em 2017 os chineses registraram 43,6% do total mundial de patentes, mais do dobro dos EUA
Tribunal provincial canadense adiou para esta terça-feira (11) a decisão sobre se concede ou não a libertação por fiança a Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, a maior empresa de infraestrutura de telecomunicações do mundo e a número dois em celulares. Ela está ilegalmente detida em Vancouver desde o dia 1º, quando foi retirada de um vôo de conexão, a pedido de Washington, que quer sua extradição, sob alegação de violar sanções norte-americanas extraterritoriais contra o Irã.
A China protestou em termos veementes contra aquilo que a mídia chinesa chamou de “sequestro” e “tomada de refém” de uma cidadã chinesa, e também denunciou a “violação dos seus direitos humanos” e o “tratamento cruel”.
Pequim repreendeu, ainda, em termos bastante ásperos o governo Trudeau, exigindo a imediata libertação de Meng, e advertindo que o Canadá “irá arcar com as consequências” se persistir na provocação e vassalagem. Também foi chamado às falas o embaixador dos EUA em Pequim.
Meng foi sequestrada no mesmo dia em que o líder chinês Xi Jinping se reunia em Buenos Aires com o presidente Donald Trump e acertava trégua de 90 dias para a guerra comercial.
SEM EVIDÊNCIAS
Na audiência, não foi apresentada, pela promotoria, qualquer evidência da acusação contra Meng. Estavam presentes o marido de Meng e executivos da Huawei. Pela lei canadense, a defesa não pode apresentar qualquer prova contra, e a acusação não precisa provar nada.
A prisão de Meng serviu de senha para que várias gigantes das telecomunicações, em países vassalos ou sob ocupação, como o Japão, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia, anunciassem que não adotariam o 5G da Huawei, sob alegação de risco de segurança por ‘portas dos fundos’ que poderiam ser embutidas nas redes fornecidas pela gigante chinesa.
A Huawei saiu na frente nas redes de alta velocidade 5G, em que se basearão a internet das coisas, a ‘Revolução Industrial 4.0’ e os automóveis autônomos, entre outros aspectos. Também está surpreendendo nos chips avançados, na Inteligência Artificial e na Realidade Virtual. Este ano, suplantou a Apple, se tornando a número dois, logo depois da Samsung, e vendendo 153 milhões de celulares
De acordo com o pedido apresentado por sua defesa, Meng, que possui duas casas em Vancouver, ficaria em uma delas, usando um bracelete com dispositivo de GPS, e equipe privada de monitoramento para garantir sua permanência. Os passaportes de Meng já foram confiscados. A fiança oferecida é de US$ 14 milhões em imóveis e US$ 1 milhão em dinheiro. Além de diretora financeira, Meng é filha do fundador da Huawei.
Conforme a consultoria Eurásia Group, a Huawei é a “única empresa no mundo” atualmente capaz de produzir “todos os elementos de uma rede 5G, como estações de base, centros de dados, antenas e aparelhos, e os colocar juntos em escala e custo”. A receita do grupo esperada para este ano é de US$ 102 bilhões, 9,3% a mais em relação a 2017.
E a Huawei é a vitrine do avanço da China na alta tecnologia. Em 2017, a China foi o país do mundo que registrou mais patentes (43,6% do total), mais do dobro dos EUA, segundo dados da Organização Mundial de Propriedade Intelectual.
Sobre as acusações, como salientou Pequim, até hoje ninguém apresentou qualquer prova de que um microchip chinês contivesse portas dos fundos para espionagem, apesar de viverem repetindo o lengalenga.
Em compensação, desde 2009, com as denúncias de Edward Snowden, se sabe quem é que exerce esse grampeamento total, 24 por 7, a cada segundo, no planeta inteiro – a teoria de “formar o palheiro para procurar a agulha quando precisar” . E ainda como a NSA detém salas secretas nas operadoras de telecomunicações norte-americanas e parasita as megaestradas digitais e os cabos submarinos.
Um dos dispositivos da NSA, também vazou Snowden, permitia transformou um televisor Samsung ligado à rede em um espião dentro da casa de qualquer um. O que Washington faz é projetar sobre os outros o que o NSA e a CIA é que fazem há mais de uma década.
Como assinalou o chanceler russo Sergei Lavrov, a prisão de Meng, por suposta violação de uma lei norte-americana é ilegal e tenta impor aos demais países, extraterritorialmente, as leis americanas.
As sanções se tornaram uma das principais formas dos EUA de tentar deter o avanço das concorrentes estrangeiras, que superam no terreno comercial, industrial e tecnológico as combalidas transnacionais americanas, e o fazem em conformidade com as normas da OMC e de seus países.
O que vem sendo exacerbado com Trump, ainda mais com sua retirada unilateral do acordo com o Irã, e uso das sanções para atacar as concorrentes.
A Huawei assinalou “não tem conhecimento sobre nenhuma infração cometida por Meng Wanzhou” e que praticamente nada sabe sobre as acusações. Acrescentou ter cumprido “todas as leis e regulamentações aplicáveis onde opera, inclusive as leis e regulamentos de controle de exportação e sanções da ONU, EUA e União Europeia”.
ANTONIO PIMENTA