A China acusou os EUA de cometer “terrorismo econômico puro” ao tentar sufocar os gigantes de tecnologia chinesa sob pretextos duvidosos, como vem fazendo com a Huawei. “Provocar deliberadamente disputas comerciais é terrorismo econômico puro, chauvinismo econômico, intimidação econômica”, afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Zhang Hanhui, na quinta-feira, após detalhar a viagem do presidente Xi Jinping à Rússia na próxima semana, em que fará uma visita de Estado ao grande país vizinho.
“Não há vencedores em uma guerra comercial. Não há vencedores”, reiterou Zhang. “Nós nos opomos a uma guerra comercial, mas não temos medo de uma guerra comercial”, acrescentou.
A Huawei é líder na tecnologia de rede celular de alta velocidade 5G, base para a digitalização dos processos produtivos na nuvem, a intensificação da conectividade para um novo patamar e para a Internet das Coisas e a Inteligência Artificial, com os concorrentes atrasados de dois a três anos em relação aos seus avanços. E graças à maior produtividade e inovação, seus equipamentos são mais baratos do que os dos concorrentes. 40% das patentes da tecnologia 5G no mundo são da Huawei.
A declaração do vice-ministro significa uma elevação de tom na resposta a declaração feita pelo secretário de Estado Mike Pompeo, contra a Huawei e a “ameaça à segurança dos EUA”. “Gostaríamos muito que os EUA nos fornecesse pelo menos alguma evidência [das acusações à Huawei]. Os EUA vêm tentando por todos os meios tornar a Huawei um problema e fazer pessoas nos EUA acreditarem num suposto problema de segurança proveniente da Huawei”, disse talvez demasiado educado o porta-voz Lu Kang.
“INCONSTITUCIONAL”
A Huawei está acionando judicialmente em um tribunal federal do Texas o governo Trump, cujas ações contra a gigante chinesa são apontadas como “ilegais” e “inconstitucionais”. O diretor jurídico da empresa, Song Liuping, assinalou que a empresa chinesa está sendo punida injustamente sem que houvesse um veredicto de culpada. “O governo dos EUA não forneceu nenhuma evidência para provar que a Huawei representa uma ameaça à segurança. Não há nada. Apenas conjecturas”, destacou.
Song acrescentou que os políticos dos EUA estão “usando a força de um país inteiro para atacar uma empresa privada”. Ele advertiu que colocar a empresa em uma lista negra “estabelece um precedente perigoso”. “Hoje é o setor de telecomunicações e a Huawei. Amanhã poderá ser seu setor, sua empresa, seus consumidores”, sublinhou.
A ação enfatiza que o uso da lei que autorizou o orçamento do Pentágono contra a Huawei constitui um a violação do devido processo legal, já que a empresa chinesa é deixada “sem oportunidade de refutação”. Acrescenta que a Huawei não se envolveu em espionagem ou roubo de propriedade intelectual – outra alegação mentirosa, quando é ela a líder na tecnologia em questão – e que esses ataques são simplesmente o presidente dos EUA aproveitando seus poderes executivos para dar às empresas norte-americanas – e no mundo inteiro – uma vantagem competitiva injusta sobre suas contrapartes chinesas.
PORTAS DOS FUNDOS DE QUEM?
As acusações da Casa Branca de ameaça “à segurança nacional” e “à privacidade” têm sido consideradas pelos analistas como de matar de rir. Parece que o contrário é que está preocupando a chefia em Washington. Afinal, aquela infraestrutura de telecomunicações toda grampeada pelos norte-americanos, no planeta inteiro, como Edward Snowden provou, vai virar peça de museu com o advento do 5G chinês. NSA e CIA vão ter muita dificuldade para instalar suas portas dos fundos como estão acostumadas a fazer.
O regime Trump também pressiona os demais países e operadoras de telecomunicações para que se submetam a um decreto executivo dele, em outro caso flagrante de extraterritorialidade de leis norte-americanas.
Em outro front, as alianças Bluetooth, Secure Digital (SD) e Wi-fi, que definem as normas para essas tecnologias, restabeleceram a Huawei sem nenhum anúncio oficial, após terem comunicado que estava suspensa. Os representantes da Huawei disseram apenas que seus produtos existentes não serão afetados pela proibição dos EUA e continuariam suportando cartões Wi-Fi, Bluetooth e Secure Digital (SD).
Mais cedo, a Microsoft suspendeu em sua loja virtual a venda dos laptops de topo da Huawei da linha MateBook X Pro, sob o decreto de Trump. De Pequim, informa-se que o Exército de Libertação do Povo decidiu criar um substitutivo para o sistema operacional da Microsoft. Opção que a China já vinha considerando, com o sistema operacional “Red Flag” baseado em Linux um possível substituto.
MADE IN CHINA 2025
A tentativa de Trump impor uma “cortina de ferro tecnológica” para dificultar que a China, que já é a ‘fábrica do mundo’, domine a alta tecnologia, vem se batendo contra a falta de disposição da Grã Bretanha, Alemanha e outros países de abrirem mão de uma tecnologia mais avançada, mais potente e mais barata, só para satisfazê-lo. A Huawei, que ultrapassou a Apple como segunda maior fabricante de smartphones do mundo em 2018, desde maio está na lista negra de Trump, depois de ter sido excluída das compras de órgãos de governo norte-americanos no ano passado. A Casa Branca também vem perseguindo a filha do fundador da Huawei, diretora financeira da empresa, que aguarda no Canadá julgamento de pedido de extradição por supostamente violar sanções anti-Irã dos EUA.
Em decorrência do banimento decretado pelo regime Trump, corporações norte-americanas como a Intel, Qualcomm e Xilinx interromperam o fornecimento de componentes à Huawei e a Google anunciou que suspenderia o uso de seu sistema operacional Android nos celulares fabricados pela empresa chinesa a partir de agora. Sob pressão de Washington, outros fornecedores, como a britânica ARM (semicondutores) também suspenderam as entregas. Até aqui, a Huawei produzia na China metade dos semicondutores de que precisa e importava a outra metade. Pequim também está acionando os EUA na Organização Mundial do Comércio (OMC) por repetidamente violar o sistema multilateral de comércio.
A.P.