Com 100 milhões de casos e 1,1 milhão de mortes por Covid, os EUA dizem que “a China está um caos”. No país asiático, de 1,4 bilhão de habitantes, morreram pouco mais de 5 mil pessoas pelo vírus
A imprensa americana alardeou nesta segunda-feira (19) – e foi seguida por alguns órgãos da imprensa brasileira – que a situação da Covid-19 estaria fora de controle na China. Um dos títulos da imprensa local dizia “China vive situação caótica com fim da política de Covid-Zero”. O artigo afirmava que o caos tinha sido motivado, entre outras causas, pela falta de vacinação eficiente na população.
Minha primeira impressão, ao ler esses artigos, foi a de que os números de mortes teriam disparado no gigante asiático, país que até recentemente ostentava um dos menores números de vítimas fatais por Covid. Também havia me causado espécie a “informação” de que o governo chinês não havia vacinado adequadamente a sua população.
Esta informação, na verdade, não estava batendo, afinal é sabido que a China foi um dos primeiros países do mundo a desenvolver a vacina contra a Covid-19. Não só desenvolveu como abasteceu o mundo todo com imunizantes. São chinesas 78% das vacinas aplicadas no Brasil. Como explicar que a China não teria vacinado adequadamente sua população?
Quando cientistas de todo o planeta ainda corriam para criar uma vacina viável, o governo chinês já havia implementado a política de isolamento social, uso de máscaras, higienização, autorizado lockdowns e feito testes em massa. Mais tarde, quando as vacinas estavam disponíveis, um esforço nacional de vacinação começou.
Hoje, segundo dados oficiais da China, aproximadamente 90% de sua população foi totalmente vacinada. O dado desmente as reportagens citadas acima. Só a titulo de comparação, o Brasil não chegou a 70% da população totalmente vacinada (duas dose e mais o reforço). Com duas doses este número chega a 86%. Já nos EUA, apenas 68% dos americanos fizeram uso completo do imunizante contra a Covid.
Ou seja, a vacinação na China, de 90% de sua população, foi um sucesso. O número de mortos na China, que tem uma população de 1,4 bilhão de habitantes, chegou a pouco mais de 5 mil durante os três anos de pandemia. São números impressionantes e revelam, não o caos, mas o retumbante sucesso epidemiológico alcançado pelo país asiático.
O Brasil está chegando perto de 700 mil mortos por Covid-19 e nos Estados Unidos este número chega a 1,1 milhão de mortos, sendo que 100 milhões de americanos se infectaram com o novo coronavírus. Ou seja, três em cada dez americanos se infectaram. Nestes dois países, EUA e Brasil, foram cometidos erros graves na condução da pandemia e foi neles, e não na China, que o caos se estabeleceu.
Tenhamos em mente que os Estados Unidos, que alardeiam a suposta “falha” da China no combate à Covid, são o líder global indiscutível em casos e morte pelo vírus; o país que chega mais próximo disso ainda não atingiu os 50 milhões de infectados. O Brasil, como dissemos, vem em segundo lugar em número de mortos, com quase 700 mil perdas.
Apesar dessa discrepância de números em desfavor dos americanos, a mídia dos EUA se acha no direito de alardear diariamente sobre o “caos” e o crescente número de casos de Covid na China. A reportagem do site noticioso da China, CGTN desta mesma segunda-feira (19) desmente a mídia americana.
O governo está buscando, segundo a reportagem, um melhor equilíbrio entre o combate ao vírus, com a proteção da vida das pessoas, e a manutenção da rotina dos chineses. Nesta linha, foram anunciadas recentemente modificações na política de Covid-Zero para, segundo o governo, buscar um equilíbrio melhor entre a proteção da população e a garantia das atividades econômicas do país.
O próprio governo reconheceu que “nenhum sistema que tente manter as pessoas seguras durante uma pandemia é isento de falhas”. Os chineses afirmam que, diante de tudo isto, apenas os grupos antichineses mais estridentes discordariam de que os cerca de 1,4 bilhão de pessoas da China foram mantidos o mais seguro possível por quase três anos.
Eles taxaram as medidas tomadas pelo governo chinês como draconianas. A reportagem da CGTN ressalta que o governo colocou a vida da população em primeiro lugar e admitiu que este vírus, embora enfraquecido ao longo do tempo, continua a infectar pessoas em todo o mundo.
À medida que os casos aumentam, dizem eles, é muito comum que as notícias assumam um tom de “sabíamos que a China estava condenada ao fracasso o tempo todo”.
Aparentemente, não é draconiano que quase 100 milhões de americanos tenham contraído o vírus e que 1,1 milhão tenham morrido. “Draconiano”, na opinião desses grupos, seria salvar vidas.
Quando os epidemiologistas chineses recomendaram a implementação da política de Covid-Zero ela foi taxada pela mídia americana como draconiana. Quando flexibilizou, para torná-la mais equilibrada, passaram a dizer que a China estava entrando num caos pandêmico. A verdade não é uma coisa nem outra. Na China a vida sempre esteve em primeiro lugar.
Devemos lembrar que os piores dados sobre os EUA ocorreram nos cerca de 12 meses entre a onda inicial da pandemia e quando as vacinas se tornaram disponíveis. As medidas tomadas pela Casa Branca foram desencontradas, a vacinação foi politizada e a população americana sofreu intensamente.
O período entre aproximadamente março de 2020 e fevereiro de 2021 é quando o governo deveria ter mantido os americanos mais seguros. No entanto, sabemos que ocorreu o oposto. Agora vamos comparar com o que estava acontecendo na China durante este mesmo período do caos americano. Neste período o governo implementou a política dinâmica Covid-Zero e ela foi criada com um objetivo abrangente: a vida dos chineses era primordial.
Mesmo tendo tomado medidas duras para proteger sua população do vírus, a China teve um desempenho econômico satisfatório, principalmente se comparado com os países ocidentais. A China, por exemplo, foi a única grande economia do mundo a apresentar crescimento em 2020. Cresceu 2,3%. Ou seja, também neste quesito, ela foi bem. No mais, o que vimos até aqui foi muita desinformação, uma chuva de fake news e muito preconceito.
SÉRGIO CRUZ