EUA não tem direito de ditar de quem a China compra armas, diz Pequim. Rússia alerta que “brincar com fogo é perigoso”. China comprou os S-400 (defesa antiaérea) e dez SU-35 russos
China e Rússia repeliram em termos enérgicos a decretação de sanções por Washington pela aquisição, por Pequim, de armamentos russos avançados – caças SU-35 e o sistema de defesa antiaérea S-400 – e exigiram a imediata revogação do despautério. Os EUA “não tem o direito de interferir” nas transações de dois estados soberanos e essas sanções são “uma flagrante violação das normas básicas das relações internacionais e uma séria violação das relações entre os dois países e suas forças armadas”, afirmou o porta-voz do Ministério da Defesa da China, Wu Qian.
No sábado, a China convocou o embaixador dos EUA para manifestar seu “protesto solene” e cancelou a visita do comandante da Marinha chinesa a Washington, assim como as negociações comerciais que seriam encaminhadas pelo vice-primeiro-ministro Liu He.
O S-400 é considerado o sistema terra-ar mais avançado do mundo [até que seu sucessor, o S-500, entre em operação] e, além da China, cuja aquisição já está em curso, também estão em processo de finalização de compra Índia e Turquia, enquanto Arábia Saudita e Qatar estudam a questão. O Su-35, de que a China adquiriu dez, é um dos melhores aviões de guerra do mundo.
Cinicamente, Washington asseverou que o alvo não era a China, mas “as malignas ações da Rússia”, e que as sanções estariam embasadas pelo Ato contra a Rússia do ano passado, aprovado no Congresso dos EUA em meio à histeria sobre a ‘ingerência russa nas eleições” e seu desdobramento, a farsa do Russiagate.
Foram atingidas pelas ilegais sanções a estatal que realiza a exportação de armas da Rússia, Rosoboronexport, o departamento do ministério da Defesa chinês encarregado da compra de armamentos e seu chefe, e outros 33 autoridades, militares e empresários russos. Foi a primeira vez que os EUA sancionaram diretamente a Rússia por vender armas.
A resposta de Moscou partiu do vice-chanceler Sergei Ryabkov, que denunciou que os EUA estão fazendo “a estabilidade mundial cambalear de forma irrefletida” e acusou Washington de tentar impedir a exportação de armas russas.
Ryabkov disse que as sanções antirrussas foram transformadas em uma espécie de “entretenimento nacional” dos EUA e eram “inúteis”. Dirigindo-se aos arrogantes no poder em Washington, o vice-chanceler russo afirmou que “ninguém conseguirá ditar suas próprias condições à Rússia”. Ele convidou os “operadores da máquina de sanções de Washington” a familiarizarem-se com a história da Rússia. “Brincar com fogo é estúpido e pode ser perigoso”.
Já o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ironizou a nova leva de sanções como “concorrência desleal” com o intuito de “excluir do mercado a um competidor dos fabricantes americanos, com métodos que violam os princípios do comércio internacional”. Desde 2011, essa foi a sexagésima sanção norte-americana contra a Rússia.
O jornal chinês que costuma expor as opiniões mais duras do governo de Pequim, o Global Times, denunciou que nos últimos dois anos “a imprudência e a arrogância do governo dos EUA ficaram fora de controle” e que, à margem do direito internacional e dos sistemas multilaterais, “Washington só quer se envolver com o mundo de acordo com suas próprias leis e impõe sanções a quem discordar”.
“China e Rússia são potências mundiais. É estrategicamente ingênuo e inescrupuloso tentar frustrar os contatos entre os dois, empunhando o porrete das sanções”, advertiu o editorial.
“MEDIDAS ADEQUADAS”
Após alertar que os EUA “estão jogando ao vento os princípios internacionais”, o Global Times assinalou que a China “jamais aceitará a interferência dos EUA nos seus assuntos internos” e sempre tomará “as medidas adequadas” para combater tais intromissões.
O jornal encerra dizendo que os EUA não vendem nenhum equipamento militar à China, “e não é da sua conta quando os militares chineses compram armas da Rússia”. “As sanções dos EUA são feitas de papel e não podem deter a China”.
Analistas consideram que Washington pode acabar chamuscada com sua política de exacerbação das sanções unilaterais, já que os mais diversos países começam a se incomodar em serem atingidos, apesar de o que fazem estar de acordo com suas próprias leis, porque os EUA resolveram outra coisa e abusam do dólar como divisa internacional. Até na ocupada Europa já surgem convocações pela “soberania” e contra os diktats do dólar.
A enxurrada de sanções está levando países no mundo inteiro a discutirem realizar negócios nas próprias moedas nacionais, sem passar pelo dólar, pois pelas esdrúxulas leis norte-americanas, se houver pagamento ou transação em dólar, então eles podem meter o bedelho. As sanções também empurram Rússia e China para estreitarem sua parceria estratégica, pela paz e pelo desenvolvimento mutuamente vantajoso. Na semana passada, militares chineses participaram, pela primeira vez, dos exercícios em solo russo Vostok 2017, os maiores desde 1981.
ANTONIO PIMENTA