O petróleo que vier dos EUA será taxado em 10%. Metais especiais para produção de produtos de alta tecnologia, ligas para foguetes entre outras finalidades estratégicas, como molibdênio e tungstênio passarão a sofrer restrições
A China deu o troco nesta terça-feira (4) às taxações impostas pelo presidente Donald Trump e anunciou tarifas de 15% para carvão e Gás Natural Liquefeito (GNL) e 10% para petróleo bruto, maquinário agrícola, veículos de grande cilindrada e caminhonetes importados dos EUA. As novas tarifas começam a valer a partir de 10 de fevereiro, segundo comunicado do Ministério das Finanças da China.
A retaliação envolve, ainda, a abertura de uma investigação antitruste contra a Google e a exigência de licenças para exportação de uma lista de metais essenciais à alta tecnologia, de que a China é disparado o maior produtor mundial: tungstênio, bismuto, índio, molibdênio e telúrio.
“Isso pode ser interpretado como um tiro de advertência para empresas dos EUA com alta dependência do mercado da China”, disse Lynn Song, economista-chefe para a Grande China no ING Bank em Hong Kong.
“A China tomou as contramedidas necessárias de acordo com as leis e regulamentos relevantes e os princípios básicos do direito internacional, que são completamente justificados e razoáveis. Enquanto isso, a China entrou com uma ação judicial na OMC para salvaguardar firmemente seus direitos e interesses legítimos”, disse o porta-voz da embaixada chinesa em Washington.
Na semana passada, Trump ordenou 10% de tarifas adicionais sobre todos os produtos chineses, usando como pretexto a crise do fentanil nos EUA e da imigração ilegal. Com o boquirroto presidente chegando a dizer que “esperamos que a China pare de nos enviar fentanil e, se não parar, as tarifas serão substancialmente mais altas”.
O porta-voz chinês convocou Washington a resolver sua própria questão do fentanil – um opióide sintético responsável por 100.000 mortes por overdose anuais “de forma objetiva e racional, valorizando a boa vontade da China, em vez de ameaçar outros países com aumentos tarifários arbitrários”.
Analistas observaram que as novas regras não chegam a proibir totalmente as exportações, como com o germânio, em 2023, o que consideraram uma “resposta comedida” de Pequim à primeira semana de retorno de Trump à Casa Branca.
E a China ainda tem muito espaço para tarifas adicionais, na medida que esse primeiro round atinge uma parte menor das exportações dos EUA, deixando por agora de fora grandes itens como soja e aeronaves.
A China produz cerca de 80% do tungstênio e do bismuto mundial, 75% do telúrio, 70% do índio e 40% do molibdênio. Os Estados Unidos pararam de minerar tungstênio em 2015 e não produzem bismuto refinado desde 1997, dependendo, em ambos os casos, de importações.
O ultrarresistente tungstênio é utilizado na indústria automotiva, no corte de lingotes de silício em wafers para semicondutores e painéis solares, na indústria bélica, nas ferramentas de corte, na construção civil, metalurgia e perfuração de petróleo e gás. O índio é essencial nas telas de celulares e TVs, nas fibras óticas e nas rede de telefonia 5G.
O bismuto é usado em soldas, ligas metálicas, aditivos metalúrgicos, medicamentos e pesquisas atômicas. O telúrio é usado na metalurgia, em painéis solares, chips de memória e outros produtos. O molibdênio é usado principalmente para fortalecer e endurecer ligas de aço, tornando-as mais resistentes ao calor e à corrosão. Também é utilizado em lubrificantes, pigmentos e como catalisador na indústria do petróleo.
Considerando episódios anteriores de restrições à exportação, os embarques devem cair drasticamente de imediato, à medida que as empresas se esforçam para obter licenças de exportação, um processo que leva cerca de seis semanas. No passado, as remessas se recuperaram lentamente, à medida que as licenças eram concedidas.
Além do tarifaço contra a China, no sábado Trump também anunciara a alta da taxação sobre importações do México e Canadá, de 25% (10% no caso do petróleo). Mas recuou na véspera do início da implementação, após a reação particularmente do Canadá, que ordenou taxação adicional imediata de 25% sobre US$ 30 bilhões em importações dos EUA e sobre mais US$ 105 bilhões em 21 dias, além de colocar sobre a mesa a suspensão da exportação de energia elétrica e petróleo. O México também se preparou para decretar um “plano A”, “B” ou “C”, o que fosse preciso. Em três estádios no Canadá, torcedores vaiaram a execução do hino norte-americano. Depois de telefonemas, Trump recuou das tarifas, suspendendo-as por 30 dias e propostas de negociação. Outros prováveis alvos de Trump, como a União Europeia, também advertiram que haveria resposta.