Exercícios militares intensos – na proteção da China contra os assédios dos Estados Unidos e em resposta à violação do princípio de Uma Só China, pela presidente da Câmara norte-americana Pelosi – poderão ocorrer regularmente a partir de agora “até à reunificação”
A China anunciou a prorrogação, por um mês, dos exercícios militares intensos em torno de Taiwan, realizados como resposta à provocação cometida pela presidente da Câmara dos deputados norte-americana, Nancy Pelosi, a terceira na fila da eventual sucessão presidencial, ao visitar Taipei, apesar das advertências a Washington para que recuasse da flagrante violação do princípio de ‘Uma Só China’ que rege as relações China-EUA desde a retomada de laços diplomáticos em 1979, no governo Carter, depois de sete anos da reaproximação buscada por Nixon, após a derrota no Vietnã.
O Exército de Libertação do Povo chinês determinou na segunda-feira (8) a extensão dos exercícios em águas próximas à ilha de Taiwan, agora com foco em dissuasão antissubmarina e ar-navio. Para isso, será fechada até o dia 8 de setembro parte da baía do Golfo de Bohai e do Mar Amarelo. Da mesma forma, uma parte do Mar Amarelo foi fechada para exercícios de tiro até 15 de agosto.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, assegurou no sábado que os exercícios militares iniciados por Pequim “são abertos, transparentes e profissionais, estão de acordo com a lei nacional e internacional” e visam advertir os perpetradores e punir as forças secessionistas de Taiwan.
Wang disse ainda que a provocação acabou por “reforçar o consenso pelo princípio de ‘Uma Só China’” no mundo, reconhecido pela ONU em 1971 em sua resolução 2758 e restauração da legítima representação da China na ONU e no Conselho de Segurança.
Taiwan, que foi devolvido à China de jure e de fato no final da II Guerra Mundial, tornou-se uma questão apenas como consequência da guerra civil antipopular iniciada pelo regime do Kuomintang, e mais especialmente devido à intervenção de forças estrangeiras. Ou seja, a questão de Taiwan surgiu da fraqueza e do caos da nação chinesa, e será resolvida – como historicamente apontou a liderança chinesa – pelo rejuvenescimento nacional.
Quanto à visita de madame Pelosi propriamente dita, como afirmou a porta-voz Hua Chunying, “o horrendo reality show não muda o fato de que Taiwan pertence à China”.
SEM PRECEDENTES
Nos exercícios encerrados no domingo, as forças do Exército de Libertação Popular, em seis áreas ao redor de Taiwan, treinaram com fogo real e disparos de mísseis o bloqueio a qualquer interferência externa nos assuntos internos da China, de que Taiwan é parte, combates navais e aéreos, em que foram ignorados a chamada ‘linha média’ do Estreito que separa a ilha do continente, os limites da autodeclarada ‘Zona de Identificação’ de defesa aérea de Taiwan’ e as ‘12 milhas de águas territoriais’.
Os exercícios militares foram considerados “sem precedentes”, inclusive com o uso de fogo real, munição guiada e mísseis com ogivas convencionais – envolvendo dezenas de aviões – entre eles, o caça furtivo de tecnologia chinesa J-20, os Su-35 russos e os bombardeiros H-6 – e ainda 14 navios de guerra. Pela primeira vez, mísseis chineses sobrevoaram Taiwan para alcançarem alvos a leste no Mar do Japão.
O Coronel Shi Yi, porta-voz do Comando de Teatro Leste da China, disse em comunicado que as forças de foguetes em vários locais no continente lançaram vários tipos de mísseis em águas designadas na costa leste de Taiwan, e todos atingiram seus alvos com precisão, cumprindo o objetivo de testar a precisão das armas e a capacidade de negar acesso ou o controle de uma área ao inimigo.
Em suma, as forças chinesas ensaiaram por todos os lados em Taiwan um eventual bloqueio à intervenção da frota de guerra norte-americana.
Para escoltar a aventura de Pelosi, Washington enviou, concomitantemente, para o Mar das Filipinas um porta-aviões nuclear e seu grupo naval.
PARTE ESSENCIAL DO REJUVENESCIMENTO NACIONAL
Os exercícios de quarta-feira a domingo envolveram seis áreas em torno de Taiwan, que é chinesa há séculos, e esteve sob ocupação do Japão, até ser devolvida à China em 25 de outubro de 1945, após a derrota do fascismo japonês ao final da II Guerra Mundial, como estabelecido pela Declaração de Potsdam. Taiwan foi tirada da China no final do século XIX, depois da Inglaterra fazer o mesmo com Hong Kong.
A reunificação de Taiwan à China é considerada por 1,4 bilhão de chineses como parte essencial do processo de rejuvenescimento nacional e completa superação do ‘século de humilhações’, quando a China, então fraca, foi invadida e pilhada por oito potências imperialistas. Após o retorno pacífico de Hong Kong e Macau à grande nação e civilização chinesa, só falta Taiwan.
A porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying, destacou que uma pesquisa da UDN (United Daily News Corporation), uma plataforma de internet em mandarim, mostrou que mais de dois terços dos taiwaneses não aprovam a visita de Pelosi a Taiwan, por considerarem que isso só prejudica a paz e a estabilidade no estreito.
UMA CHINA
Em 1971 a ONU, através da resolução 2758, reconheceu oficialmente a República Popular da China como “único representante legítimo da China perante as Nações Unidas” e restabeleceu o assento no Conselho de Segurança da organização, que fora usurpado por mais de uma década pelo regime derrotado pela revolução de 1949, quando Chiang Kai-chek fugiu para Taiwan.
181 países reconhecem o Princípio de Uma Só China e, por isso, mantêm relações diplomáticas com a China e gerem suas relações comerciais e culturais com Taiwan dentro do quadro de uma só China.
A reunificação pacífica repetidamente oferecida por Pequim a Taiwan reedita o esquema de “um país, dois sistemas”, já comprovado na devolução à China de Hong Kong (pelos britânicos) e Macau (pelos portugueses). Através do “Consenso de 1992”, cuja essência é o reconhecimento de que a parte continental e Taiwan pertencem a “uma e mesma China” abriu caminho para a intensificação das relações através do Estreito, o que em anos recentes foi dificultado pela ascensão de uma elite separatista açulada por Washington, agora no poder em Taipei.
CHINA SANCIONA A PRÓPRIA PELOSI
Como parte da reação chinesa à provocação capitaneada pela presidente da Câmara dos EUA, a vetusta ‘democrata’ Pelosi, as autoridades de Pequim suspenderam reuniões já marcadas de cooperação militar, ambiental e criminal .
A medida inclui, ainda a suspensão da cooperação com Washington em questões como a repatriação de imigrantes ilegais e a disseminação de fentanyl. A China cancelou as negociações no nível de comando militar regional entre a China e os Estados Unidos.
O influente portal norte-americano Politico registrou que Pequim estava “ignorando as chamadas telefônicas do Pentágono”.
A China também anunciou sanções contra a própria Pelosi, um gesto típico da Casa Branca para desqualificar oponentes, e que agora tanto a China quanto a Rússia passaram a decretar, para exemplificar que a ordem unilateral de Washington finou-se.
No caso de Pelosi, mais conhecida no Capitólio como a “rainha do mercado de ações”, não se sabe se a medida causará algum prejuízo financeiro a ela e seu consorte. Recentemente, ela se envolveu em um escândalo de “informação privilegiada” ao transacionar pouco antes (via o marido) ações de uma empresa de semicondutores, que se valorizaram bastante após a aprovação no Congresso de um polpudo pacote de incentivo ao setor.
TAIWAN É DA CHINA DESDE OS TEMPOS ANTIGOS
Muitos registros históricos e atas documentaram o desenvolvimento de Taiwan pelo povo chinês, com o relato mais antigo tendo sido compilado há mais de 1.700 anos por Shen Ying, do Estado de Wu, durante o período dos Três Reinos. Governos chineses de diferentes períodos estabeleceram órgãos administrativos para exercer jurisdição sobre Taiwan.
Já em meados do século XII, a Dinastia Song estabeleceu uma guarnição em Penghu, colocando o território sob a jurisdição do condado de Jinjiang da Prefeitura de Quanzhou, em Fujian. A dinastia Yuan criou uma agência de patrulha e inspeção em Penghu para administrar o território. Durante meados do século XVI, a dinastia Ming restabeleceu a agência outrora extinta e enviou reforços para Penghu para proteger contra invasores estrangeiros.
Em 1662 (sob o Imperador Qing Kangxi), o General Zheng Chenggong instituiu a prefeitura de Chengtian em Taiwan. Subsequentemente, o governo Qing expandiu a estrutura administrativa em Taiwan. Em 1727 (sob o imperador Qing Yongzheng), a administração na ilha foi reconstituída como a Administração da Província de Taiwan e incorporou o novo cantão de Penghu. O território passou a ser oficialmente conhecido como Taiwan. Em 1885 (sob o imperador Qing Guangxu), o governo fez formalmente de Taiwan uma província completa.
Em Abril de 1895, através de uma guerra de agressão contra a China, o Japão forçou o governo Qing a assinar o Tratado unilateral de Shimonoseki, e ocupou à força Taiwan.
Em Julho de 1937, o Japão lançou uma guerra total de agressão contra a China. Em Dezembro de 1941, o governo chinês emitiu a Proclamação da Declaração de Guerra da China contra o Japão, anunciando ao mundo que todos os tratados, acordos e contratos relacionados com as relações sino-japonesas, incluindo o Tratado de Shimonoseki, tinham sido revogados, e que a China reconquistaria Taiwan.
Em Dezembro de 1943, a Declaração do Cairo foi emitida pelos governos chinês, americano e britânico, estipulando que o Japão deveria devolver à China todos os territórios que tinha roubado aos chineses, incluindo o nordeste da China, Taiwan e o Arquipélago de Penghu.
Em 1945, a Proclamação de Potsdam assinada pela China, Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Soviética determinou o cumprimento dos termos da Declaração do Cairo. Em Agosto de 1945, o Japão rendeu-se e comprometeu-se a cumprir fielmente as obrigações estabelecidas na Proclamação de Potsdam. A 25 de Outubro de 1945, o governo chinês recuperou Taiwan e o Arquipélago de Penghu, retomando o exercício da soberania sobre Taiwan.