A Organização Mundial de Saúde (OMS) convocou para esta quarta-feira um painel de especialistas em emergências para determinar se um novo vírus que se espraia pela China e causa pneumonia deve ser declarado uma ameaça global, depois que autoridades de saúde chinesas confirmaram que o patógeno é contagioso e a ocorrência de quatro mortes.
O surto teve início em Wuhan, capital da província central de Hubei, se estendeu a Pequim e outras cidades e já há suspeita de casos no Japão, Coreia do Sul e Tailândia. Segundo a OMS, uma fonte animal parece ser “a principal fonte” do surto e está ocorrendo uma “transmissão limitada” de humanos para humanos. Com mais de 10 milhões de habitantes, Wuhan é a sétima cidade mais populosa da China.
Em declaração à televisão estatal, o presidente Xi Jinping conclamou a que o recente surto da nova pneumonia por coronavírus seja enfrentado com todo rigor. “A vida e a saúde das pessoas devem receber a maior prioridade e a disseminação do surto deve ser resolutamente controlada”, enfatizou. Há 17 anos, um surto de pneumonia por coronavírus – SARS (Síndrome Respiratória Aguda Severa) chegou a matar 800 pessoas em todo o mundo até ser debelado. Os sintomas incluem febre e dificuldade em respirar.
Já ocorreram 198 casos em Wuhan, mais cinco novos casos em Pequim e 15 na província de Guangdong, elevando para 223 o total de casos conhecidos.
Os casos fora da China envolvem pessoas de Wuhan ou que visitaram a cidade recentemente. Não há vacina para o novo vírus.
Nesta terça-feira, a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan informou a quarta morte pelo novo vírus, um homem de 89 anos, que morreu no domingo. O idoso, que tinha problemas de saúde subjacentes, incluindo doenças coronárias, desenvolveu sintomas em 13 de janeiro e foi internado no hospital cinco dias depois.
PATÓGENO
A Comissão Nacional de Saúde da China disse no sábado que a fonte do vírus não foi encontrada e seu caminho de transmissão não foi totalmente mapeado. O surto está ligado a um mercado de frutos do mar em Wuhan, mas há pacientes já diagnosticados que negam exposição a esse mercado.
Zhong Nanshan, o cientista chinês responsável pela descoberta em 2003 do SARS e que encabeça a comissão de alto nível da China sobre a nova pneumonia, revelou que o mais novo patógeno é capaz de se espalhar de pessoa para pessoa. “Foi confirmado que duas pessoas na provincial de Guangdong foram infectadas através de transmissão humano-para-humano”, relatou em conferência de imprensa na segunda-feira.
Os dois pacientes não tinham estado em Wuhan, onde o surto começou, mas ficaram doentes depois que membros da família recentemente retornaram da cidade. Em adição, alguns integrantes das equipes médicas também testaram positivo para o vÍrus, o que prova a infecciosidade do vírus, disse Zhong.
O cientista se disse otimista de que o surto “não terá o impacto na sociedade e na economia que o SARS teve”. “Nós identificamos o novo coronavírus apenas duas semanas depois que o surto foi relatado e temos medidas de monitoramento e quarentena do vírus muito boas”, ressaltou.
Zhong acrescentou que a principal razão para o aumento do número de casos nos últimos dias é que novos métodos de teste melhoram a eficiência na verificação dos casos suspeitos.
Também as autoridades locais foram autorizadas a confirmar tais casos por conta própria, desde que o paciente teste positivo duas vezes. Anteriormente, a confirmação só podia ser feita em nível nacional, o que retardava as confirmações.
EM DUAS SEMANAS
No entanto, o número de casos poderá aumentar nos próximos dias em consequência de que centenas de milhões de pessoas estarão viajando na China durante o feriado do Ano Novo Lunar, que começa na sexta-feira, o que torna a doença mais facilmente disseminável. Nas estações ferroviárias e aeroportos, podia-se ver muitas pessoas usando máscara cirúrgica no rosto, como prevenção.
Zhong convocou as autoridades de Wuhan a tomarem medidas estritas para identificar casos suspeitos e evitarem que deixem a cidade. Ele afiançou que tratamento sob quarentena dos casos confirmados tão rápido quanto possível é o modo mais efetivo de prevenção e controle.
De acordo com o epidemiologista-chefe Zeng Guang, a tendência de aumento do número de casos “pode ser revertida” com medidas apropriadas de saúde pública, em decorrência de que o surto está no estágio inicial. Zeng disse, ainda, que a China compartilhou com a OMS as informações disponíveis sobre o vírus, o que ajudou outros países em sua identificação.
A.P.